A venda de veículos financiados para terceiros sem considerar os requisitos legais tem gerado queixas na polícia e no Procon. As transações informais não têm validade jurídica e podem resultar na inclusão do nome do titular do financiamento no cadastro de inadimplentes do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e Serasa. Em muitos casos, o contratante fica sem o carro e com a dívida a pagar. Cuidados especiais devem ser tomados
Quem faz o alerta é o delegado titular do 1.º Distrito Policial de Bauru, Ronaldo Divino. De acordo com ele, semanalmente surgem de duas a três pessoas querendo registrar queixa sobre casos desse tipo. No Procon, o coordenador do órgão de defesa do consumidor, Sílvio Orti, diz que por mês registra, em média, duas reclamações formais envolvendo problemas com financiamento de veículos.
“Por falta de informação, o titular do financiamento não consegue pagar e vende o carro sem fazer a transferência da prestação. Só que o veículo alienado não é dele, portanto, está comercializando um bem no qual ele figura como depositário fielâ€, explica o delegado.
O comprador, por sua vez, adquire o bem prometendo pagar as prestações mensais. Se por ventura fica inadimplente, a financeira faz a cobrança junto ao titular do financiamento, que ficou sem o bem e com a dívida. “Eles ficam desesperados e vão até a delegacia para tentar resolver. Mas não há muito o que fazer porque a pessoa não tem provas de que o bem foi vendido, ou simplesmente doado sob a condição de pagamento das prestações restantes.â€
Na opinião do delegado, as pessoas precisam saber e entender que as transações comerciais necessitam ser formalizadas. “Quando é feita a venda, o titular tem que procurar a financeira e transferir a dívida. Caso contrário, corre o risco de ser surpreendido com um mandado de busca e apreensão do bem ou ter seu nome listado no cadastro de órgãos de proteção ao créditoâ€, alerta Divino.
Silêncio
Diversas financeiras instaladas em Bauru foram procuradas pela reportagem para falar sobre o assunto. Somente em uma delas, o gerente Dailton Quevedo concordou em explicar a situação. “Realmente, esse é um dos problemas vividos pelas financeirasâ€, admite.
Segundo o gerente, as transações informais ocorrem por três motivos: falta de informação de quem adquire o financiamento; o fato do segundo comprador já estar com o nome incluído no cadastro de inadimplentes, ou não ter renda suficiente para assumir o financiamento.
De acordo com Quevedo, em alguns casos o titular tenta transferir a dívida, mas não consegue porque o cadastro do comprador não é aprovado. Outro obstáculo que pode ser apontado pelo titular é o pagamento da transferência. “As financeiras cobram uma taxa para transferir o títuloâ€, aponta o gerente.
A inadimplência no setor chega a 30%, segundo Quevedo. “Nosso público-alvo é a classe média baixa, pois financiamos veículos usados a partir do ano de 1970, que podem ser pagos em até 36 vezes.â€
Ele ressalta que toda pessoa que faz esse tipo de financiamento deve ficar atenta aos itens do contrato. “Ninguém deve vender um veículo sem transferir o bem e a dívida. Aquele que não transfere pode ter seu nome listado como inadimplente e responder como depositário infiel. Além disso, corre o risco de ter multas creditadas em seu nomeâ€, orienta Quevedo.