25 de dezembro de 2025
Regional

Seqüestrador liderava maior quadrilha

Por Thaís da Silveira | Com Agências Estado e Folha
| Tempo de leitura: 4 min

Lins - O seqüestrador mais procurado do Brasil e acusado da autoria do seqüestro do empresário João Bertin, Pedro Cieichanowski, 49 anos, foi preso na madrugada de ontem, em Curitiba, no Paraná.

A casa em que ele estava escondido começou a ser cercada anteontem, por volta das 21h, por agentes civis do Paraná, São Paulo e da Polícia Federal.

Houve tiroteio, mas em seguida começou a negociação. Cieichanowski é acusado de pelo menos dez grandes seqüestros, além de roubo, extorsão e tráfico de drogas.

Ainda na manhã de ontem, ele foi transferido para São Paulo, desembarcou no Aeroporto de Congonhas e foi levado para a sede do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), em Pinheiros, onde foi ouvido pelos policiais.

Cieichanowski fugiu da Penitenciária do Estado, no Carandiru, em 1995, onde cumpria pena. A partir daí, começou a comandar seqüestros de alguns dos principais empresários paulistas.

Além de Cieichanowski, outros 12 integrantes da quadrilha já foram presos. O grupo seria formado por pelo menos 30 pessoas e responsável pelos maiores seqüestros de São Paulo, segundo a polícia.

Uma das vítimas da quadrilha é o empresário Roberto Benito Júnior, filho do dono das Lojas Cem, rede de eletrodomésticos e móveis. Benito foi seqüestrado em outubro de 2001, quando saía de sua empresa, em Salto (105 quilômetros de São Paulo). Ele ficou 120 dias no cativeiro.

A libertação de Benito ocorreu após o pagamento de resgate de US$ 800 mil. Nem a polícia nem o porta-voz da família, o supervisor das empresas de Benito, Valdemir Colleoni, confirmaram o valor pago. O resgate equivale a 20% do pedido inicial, de US$ 4 milhões.

Segundo a polícia, o mesmo grupo seria responsável pelo seqüestro do empresário Girsz Aronson, proprietário da rede de lojas G.Aronson, na capital paulista, em setembro de 1998. O empresário foi libertado 14 dias após pagamento de resgate de R$ 117 mil.

O grupo também é acusado de ter seqüestrado e assassinado José Vicente Lanaro, filho de um empresário da região de Sorocaba, em junho de 2001. O corpo de Lanaro foi encontrado por lavradores de Elias Fausto (136 quilômetros de São Paulo) um dia depois de ter desaparecido.

Segundo a polícia, o líder do grupo seria responsável por monitorar as futuras vítimas e, depois, contratar “soldados” para realizar o seqüestro e manter o seqüestrado em cativeiro.

Pedro Cieichanowski enviava para as famílias dos reféns fotos com armas apontadas contra a cabeça das vítimas, como fuzil 7.62, AK 47 e M-16, segundo a polícia.

“Células”

Segundo a polícia, Cieichanowski organizava a estrutura da quadrilha em núcleos chamados de “células”, esquema adotado por grupos terroristas. Ele observava a futura vítima e, depois, recrutava “soldados” para realizar o crime e manter a vítima em cativeiro. É considerado uma pessoa fria, articulada e inteligente.

De acordo com o delegado Everardo Tanganelli, do Denarc, sobre o empresário Bertin, o seqüestrador criticou a família dizendo que pediu pouco dinheiro. “Se tivessem pagado, o homem ‘tava’ solto e os policiais não precisavam ficar a noite sem dormir”, disse.

Investigação

A investigação de Tanganelli teve início em junho de 2001, quando o delegado era titular da Seccional de Sorocaba. José Lanaro, filho de um empresário, havia sido seqüestrado e, no dia seguinte, seu corpo foi encontrado com 14 tiros. Depois, em Salto, em outubro de 2001, o empresário Roberto Benito Júnior, também foi sequestrado e as investigações revelaram coincidências entre os casos, como a forma de agir dos seqüestradores.

Dois acusados de envolvimento nos crimes, Vanderlei José da Silva e Reinaldo Lima e Silva foram presos. Em maio do 2002, Tanganelli foi transferido para o Denarc e verificou que um dos integrantes da organização, Osman Hassan Issa, fora denunciado por tráfico de drogas e tinha ligação com Anderson Manzinni, parceiro do seqüestrador Wanderson de Paula Lima, o Andinho, que está preso.

Desde então, 13 acusados foram presos e várias testemunhas foram ouvidas. Osman, conhecido como Turquinho, mantinha contas no Líbano para lavar o dinheiro dos sequestros, segundo a polícia.

O mais longo

De acordo com a polícia, o seqüestro mais longo do Brasil ocorreu no Estado do Rio de Janeiro. A vítima foi o empresário Fausto Silveira Montenegro, dono de uma transportadora. Ele foi libertado no dia 5 de maio de 1994, após 191 dias em cativeiro.