É comum ouvirmos relatos de admiradores de carros, motocicletas, jipes e um sem-número de veículos. Entretanto, há uma tribo que possui uma paixão diferente, mas especial. São os chamados busólogos, ou seja, aficionados por ônibus que se reúnem em fóruns na Internet ou organizações específicas para trocar experiências - leia-se fotos, revistas, reportagens e informações - sobre o assunto.
Apesar de estar mais concentrados nas grandes capitais brasileiras, os busólogos possuem representantes em Bauru e região. Dois seguidores são o personal trainer jauense João Guilherme Lopes, 30 anos, e o auxiliar gráfico bauruense Jazio Alberto de Oliveira, 25 anos. Ambos possuem histórias diferentes para explicar os motivos de suas paixões.
As razões de João Guilherme são praticamente genéticas, uma vez que herdou do pai - motorista de ônibus há mais de 25 anos - o gosto pela atividade. “De vez em quando, ele aparecia em casa dirigindo-os e, sempre que podia, eu não perdia tempo e fazia de tudo para viajar junto”, conta.
Depois, com a massificação da Internet, o jauense descobriu que outros também gostavam dos “busões” e resolveu começar a fotografá-los, aproveitando para fazer intercâmbio através dos Correios. “Quando a paixão começou a ficar mais organizada e passei a entender e a pesquisar sobre o assunto, considero que me tornei um busólogo”, afirma João Guilherme.
Ele acrescenta que tal iniciativa é um hobby, que ele exerce principalmente nas horas vagas navegando na rede mundial de computadores. “Posso dizer que entendo mais de ônibus do que a maioria das pessoas”, define-se.
Já o bauruense Jazio revela que o carinho pelos ônibus surgiu aos 12 anos. Após viajar para São Paulo em uma excursão com um Mercedes-Benz, o auxiliar gráfico encantou-se com o veículo. “Foi paixão à primeira vista”, recorda. Daquela data em diante, ele deixou de lado a antiga admiração pelos caminhões e passou a dedicar-se com afinco e aprender tudo sobre os “grandalhões”.
Apesar de ter passado a gostar os ônibus de maneira distinta, João Guilherme e Jazio possuem as mesmas preferências na “busologia” e suas ramificações. Enquanto alguns nutrem “xodó” pelos veículos voltados para uso urbano ou mesmo pelos “antigões”, ambos são entusiastas dos modelos que desbravam as estradas: os rodoviários.
E, quando se deparam com um destes, nada escapa ao olhar atento dos dois busólogos. Tudo é analisado minuciosamente, desde os tamanhos, imponência, cores das pinturas, design das carrocerias até os detalhes técnicos dos chassis.
Mas um dos pontos mais valorizados pelos “fãs” dos ônibus é a tecnologia. “Quando um passageiro entra e senta em uma poltrona para viajar, não imagina a modernidade que há por baixo dele”, ressalta Jazio.
Segundo o busólogo bauruense, a tecnologia embarcada atualmente em um chassi nacional não deve nada à dos automóveis. “As carrocerias produzidas no Brasil estão entre as melhores do mundo e são exportadas para vários países”, destaca.
Eles enfatizam, ainda, que o surgimento dos busólogos no País não é algo novo. “Há pessoas que se dedicam à atividade há mais de 30 anos. Eles sempre existiram, mas a Internet os popularizou. Prova disso é que, atualmente, há até uma união nacional de admiradores de ônibus”, diz João Guilherme.
Tanta admiração já fez até com que a opinião de busólogos fosse levada a sério pelas empresas. “Graças a eles, viajar de ônibus ficou mais confortável, pois o apoio da parte debaixo da perna foi uma sugestão da classe”, revela o jauense.
"Caça" ao ônibus
Tamanha paixão não poderia limitar-se apenas às simples “olhadelas” ao vivo e em cores dos modelos. Jazio e João Guilherme arrumaram uma forma concreta de expressar seu carinho à “busologia”: colecionar fotos, revistas e matérias publicadas na imprensa sobre ônibus.
Enquanto o bauruense possui cerca de 140 fotografias digitalizadas em seu computador, o jauense guarda em sua residência, além de várias publicações, quase 4 mil imagens de ônibus. “Ficamos atentos a tudo para não perdermos nada”, salienta João Guilherme.
Além de dedicar-se às coleções, os busólogos também encontraram outras formas para estar sempre perto dos “busões”. Enquanto Jazio chegou a viajar para São Paulo somente para conhecer um determinado modelo de ônibus, sempre que podia João Guilherme permanecia na rodoviária para avistar um ônibus específico.
____________________
Sonhos
Como todo apaixonado por determinado objeto ou veículo, os busólogos também alimentam sonhos. Transformá-los em realidade é mais do que uma simples meta: é a realização pessoal.
O bauruense Jazio Alberto de Oliveira e o jauense João Guilherme Lopes não fogem à regra. O primeiro queria ser motorista de ônibus. “Mas, infelizmente, a vida traça planos diferentes para a gente”, frisa. Por isso, ele o substituiu por um outro: conhecer de perto uma encarroçadora. “Gostaria de acompanhar todos os processos de produção, desde a chegada dos chassis até a revisão final”, deseja.
Já João Guilherme admite que parte de seus sonhos já foi concretizada: conhecer uma viação de perto. “Certa vez fui convidado e aceitei na hora”, lembra ele. Os demais sonhos são trabalhar como personal trainer em uma empresa de ônibus, talvez liderando uma academia, e viajar nas janelas panorâmicas de um modelo “double deck”, os conhecidos dois andares. “Nunca tive o prazer de fazer isso”, conta.