26 de dezembro de 2025
Política

Mulher é presa por extorsão na Câmara

Gilmar Dias
| Tempo de leitura: 3 min

A advogada Solange Diniz Santana, funcionária da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb) e ex-mulher do ex-vereador Roberto Bueno (PTB), foi presa em flagrante ontem após receber um envelope da assessora parlamentar da Câmara Municipal, Solange Maria Fichio, com cerca de R$ 800,00, valor equivalente a mais da metade de seu salário. A funcionária do Poder Legislativo, contratada em cargo de confiança no início de 2001, acusa a advogada de extorqui-la mensalmente, há mais de dois anos, em cumprimento a um acordo feito com Bueno para pagamento de pensão alimentícia.

Segundo informações dos bastidores políticos, Solange Diniz teria sido contratada pela Emdurb por indicação de Bueno. Já Solange Maria assume, em depoimento, que seu padrinho político foi mesmo o ex-vice-presidente. A advogada foi encaminhada no início da noite de ontem, sob escolta, à Cadeia Pública de Agudos, onde aguardará o desenrolar do inquérito policial instaurado para apuração da acusação. Ela nega a acusação (leia matéria nesta página).

Em depoimento a delegada-assistente da Delegacia Seccional de Bauru, Cláudia Garms, a assessora da Câmara conta que era obrigada a entregar o dinheiro sob ameaça de perder o emprego.

“Ela relata que só conseguiu o emprego porque o ex-vereador Roberto Bueno condicionou a sua contratação ao fornecimento de todo o adiantamento de salário que ocorre no dia 10 de cada mês. Esse repasse ao ex-vereador era feito através da Solange (ex-mulher de Bueno). Mas a assessora parlamentar diz que, por diversas vezes, a Solange alegou que o dinheiro ficava para ela mesmo, já que tem um filho com Roberto Bueno”, explica.

A assessora parlamentar, que não concedeu entrevista à imprensa, figura no processo, neste momento, como vítima da situação.

A denúncia

As investigações da extorsão começaram há mais de um mês quando a denúncia chegou ao promotor criminal João Henrique Ferreira através do assessor parlamentar da Câmara, Nélio Souza Santos. Ele presta serviços ao vereador José Clemente Rezende (PDT).

“Dado a gravidade do fato, achei por bem chamar a funcionária e questioná-la diretamente a respeito. E ela, num ato de coragem e, ao que percebi, também não estava contente com a situação, acabou confirmando o fato. A partir daí, foi montado um esquema para comprovação”, conta o promotor.

A movimentação para fazer o cerco ao flagrante se iniciou com gravações de áudio e vídeo no mês passado e terminou ontem com a adoção do mesmo esquema. Uma câmera de vídeo, com áudio sintonizado através de um microfone fixado na assessora parlamentar, registrou a entrega do dinheiro por volta das 12h30 de ontem nas imediações da Câmara Municipal.

A operação foi comandada pelo comandante da 1ª Companhia da Polícia Militar, Benedito Roberto Meira. Depois de uma rápida conversa entre a assessora do Legislativo e a advogada - que permaneceu no interior do seu carro -, foi consumado o flagrante pela PM. A funcionária da Emdurb foi encaminhada à Delegacia Seccional para prestar depoimento.

Se enquadrada e condenada por crime de extorsão, Solange Diniz poderá cumprir pena que varia de quatro a dez anos de prisão. Mas a reclusão poderá aumentar se levada em consideração que a acusação do crime foi reprisada mensalmente nos últimos dois anos.

O ex-vice-presidente do Legislativo também poderá ser enquadrado em ação criminal se ficar comprovado seu envolvimento no fato. “Segundo a regra de direito, todo aquele que concorre para o resultado, responde por ele. Naturalmente, se confirmado o envolvimento do ex-vereador, ela responderá junto pelo fato”, garante Ferreira.

O ex-vereador Roberto Bueno preferiu não se manifestar sobre o assunto. Por telefone, disse que desconhecia o fato. A direção da Emdurb, através de sua assessoria de imprensa, também não se posicionou sobre a prisão da advogada. Alegou que tomou conhecimento da prisão pela imprensa.

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• Direção da OAB acompanha flagrante