10 de julho de 2025
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Pesca & Lazer

Estudo emperra tanques em Tucuru

Por Renata Gobatti | Especial para o JC
| Tempo de leitura: 4 min

Convidada pelo secretário municipal de Agricultura e presidente do Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentado, Antônio Carlos Pimentel, a Superintendência de Meio Ambiente da Eletronorte enviou de Brasília o biólogo Anastácio Afonsoa Juras para apresentar os estudos de 20 anos desenvolvidos no Lago de Tucuruí, em especial da região do Vale do Caraipé. Segundo informou o palestrante, o local não apresenta condições favoráveis para a produção de peixes em tanques-rede.

A notícia surpreendeu os representantes de várias entidades ligadas ao setor, como Colônia de Pesca Z-32, Secretaria de Meio Ambiente, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e cooperativas que estavam presentes, já que esperavam iniciar em breve a atividade de piscicultura no local. “Tucuruí tem condições de trabalhar com a criação de peixes em escavações. Dentro do lago está excluída a atividade para os pequenos produtores”, informou Juras.

Conforme explicou o biólogo da usina hidrelétrica, Tacachi Hatanaka, o Vale do Caraipé é um braço do reservatório. Sendo assim, apresenta pouca profundidade, má qualidade da água e tempo de reposição muito grande, ou seja, a renovação é feita em três anos, quando que no corpo principal do Lago de Tucuruí há renovação completa em um ano. Outro empecilho seria a recomendação da Eletronorte em manter uma distância de segurança de dez quilômetros da barragem para a atividade.

“A Eletronorte pode ajudar a comunidade rural dando um parecer, mas não é a empresa que vai elaborar o projeto ou dizer se pode ou não colocar os tanques-rede no Lago”, informa Juras. A responsável por esta autorização seria um órgão ambiental, que no Pará é representado pela Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectam), com sede em Belém.

Para ajudar a encontrar soluções para a classe, a equipe da Eletronorte se disponibilizou a estar em Tucuruí para receber a lista de pessoas interessadas em colocar os tanques-rede no Lago e os locais desejados. “Vamos fazer um mapeamento e uma escala de trabalho para informar os dados de cada área de interesse. Quem vai estabelecer o máximo de tanques vai ser o estudo de meio ambiente”, declarou Juras.

O levantamento, por sua vez, vai ser encabeçado por Zebino Rodrigues, presidente da Colônia de Pescadores, que também se comprometeu em entrar em contato com o secretário de Pesca no Pará, Miriquinho Batista, e outros representantes de órgãos como Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), Secretaria Executiva de Abastecimento, Irrigação e Pesca (Seap) e Sectam.

“Vamos nos responsabilizar para fazer o levantamento desta área e confirmar se é ou não é viável a atividade”, afirma Zebino. Para o engenheiro de pesca que presta assistência técnica à Central de Colônias da Baia Hidrográfica do Araguaia e Tocantins (Cecoat), Jahilson Pereira Santos, o relatório da Eletronorte vai ser discutido com outros profissionais, para averiguar a veracidade das declarações feitas.

Caso seja confirmada a inviabilidade, Jahilson afirma que “o Basa tem uma linha de crédito. Se for viável a criação de peixes em tanques-rede, vamos buscar recursos para isso. Do contrário, vamos para a terra firme”, declara o engenheiro.

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Pescado irregular é preocupante

Para o secretário de Agricultura, Antônio Carlos Pimentel, a situação do Lago de Tucuruí é preocupante. “Quase todo o pescado, cerca de 90%, sai da cidade irregularmente, porque não tem licença da Secretaria Executiva de Agricultura (Sagri), nem a inspeção sanitária federal”, afirma.

Ele informa que apenas o pescado consumido em Tucuruí recebe a inspeção municipal. “Mas a maioria vai para outros Estados”, completa. Para ser regularizado, o pescado precisa passar por um processo primário de industrialização, como limpeza, visceração e resfriamento.

Outra preocupação do secretário é a limitação do produto na região do reservatório. “A pesca no lago é limitada. Nos primeiros dez a 15 anos, houve a proliferação dos cardumes, que aumentaram por causa da disponibilidade de plâncton. Com a pesca predatória isso tende a diminuir”, afirma.

De acordo com Pimentel, a construção de um entreposto de pesca, como já tem sido discutida entre a Colônia de Pescadores e Eletronorte desde o ano passado, só deverá sair do papel com a produção de pescado estabilizada, “e isso agora só será possível com a produção em cativeiro, daí o empenho nosso em ordenar esta atividade em Tucuruí. Acho que depois de tantos anos demos o primeiro passo positivo”, concluiu o secretário de Agricultura.