14 de dezembro de 2025
Ser

Proibido para menores?

Cristiane Goto
| Tempo de leitura: 4 min

No mês passado, o estudante bauruense Bruno, 17 anos, colocou um piercing na língua. Ele não precisou apresentar autorização dos pais para a realização do procedimento que, juntamente com as tatuagens, é febre entre os jovens. Sua mãe, que pediu para que seu nome fosse preservado, não aprovou o novo visual do filho. “Depois que ele colocou, não havia nada mais a fazer. Embora ele tenha gostado, eu não gostei porque acho que esse tipo de decisão é muito importante para ser tomada por um adolescente”, diz.

A manicure Nilza Dourado Jorge, concorda. “Não quero que meu filho coloque piercings ou tatuagens. Ele quer, mas por mim eu não aceito. Mas chega uma idade em que ele poderá fazer sem autorização”, lamenta. Seu filho, o estudante Eric Dourado Jorge, 16 anos, que ainda não possui brincos ou tatuagens, se anima com a idéia de tatuar a panturrilha. “Estou pensando muito em fazer e fico enchendo o saco da minha mãe porque sou menor de idade e preciso do consentimento dela”, conta.

Já o estudante Luiz Martins Neto, 18 anos, não enfrenta o mesmo problema. “Minha mãe me autorizou a colocar piercing desde os 15 anos. Nós sempre conversamos e trocamos idéias sobre isso”, diz o adolescente, que ao completar a maioridade, resolver tatuar figura de um mago na perna.

Sua mãe, a massoterapeuta Maria José Martarelli, confirma. “O Neto falou antes comigo e achei que não tinha nenhum problema, mas é claro que procurei saber como o tatuador trabalhava. Ele é muito responsável e acho muito importante cultivar o diálogo entre pais e filhos, afinal na minha época não havia nada disso”, pondera.

A polêmica entre autorizar ou não os filhos menores de 18 anos a aplicar piercings e tatuagens fez com que os estabelecimentos do ramo de piercings e tatuagens em Bauru mudassem sua postura. A maioria exige a autorização dos pais para a aplicação das jóias e desenhos. Alguns ateliês não fazem o procedimento sem a presença do pai e da mãe do menor. Essa prática é adotada em um estúdio localizado no Jardim Aeroporto.

“Os interessados preenchem um cadastro que contém tipo sanguíneo e especificações de doenças. Para adolescentes, nós pedimos a presença do pai ou da mãe. Se eles forem separados, preciso do consentimento dos dois”, conta o tatuador e bodypiercing, Marcelo Paro.

Bom senso

A regra também é adotada em uma loja de aplicação de piercins e tatuagens situada no Jardim Brasil. “Não atendemos menores de 16 anos. As pessoas que têm menos de 18 anos precisam vir com os pais preencher uma ficha ou têm que trazer uma autorização dos pais autenticada em cartório”, diz o bodypiercing Jonas Pescatore. Ele é associado ao Sindicato de Tatuagem e Piercings do Estado de São Paulo, cuja sede é na Capital.

Não existe uma lei que proíba a aplicação de piercings e tatuagens em menores de 18 anos sem autorização dos pais. Apesar de não ser regulamentado, o procedimento deve ser estudado como um fator de responsabilidade dos pais, aponta o juiz da Vara da Infância e Juventude, Ubirajara Maintinguer. “Cabe aos pais zelar pela integridade física e patrimônio dos filhos, isso também envolve questões psíquicas, morais, de identidade e imagem. Mas eu não conheço nenhum estudo científico que demonstre que esse tipo de procedimento atente contra a vida. Ele pode atentar contra a estética ou respeito, pela exposição que provoca”, observa.

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Modismossmos

A exemplo dos cabelos compridos e brincos usados por homens oumechas coloridas adotadas nas madeixas femininas, a moda dos piercings passa por evoluções. Se no começo as jóias eram aplicadas no umbigo, pelas mulheres, e na orelha, por homens, hoje elas enfeitam diferentes lugares do corpo, como língua, mamilos, nariz e sobrancelha.

O objetivo é se destacar e ser o mais diferente possível, aponta a estudante Francine Dido, 18 anos. Ela possui um piercing no nariz e outro no umbigo. “Eu acho legal, diferente. Sou evangélica e as pessoas da minha religião acham que isso é rebeldia, mas não tem nada a ver. Acho legal e pretendo colocar mais”, avisa. Bruno concorda. “Eu faço piercing por prazer próprio, acho bonito. Não tenho tatuagem, mas farei”, adianta ele, que além do piercing na língua, tem brincos na sobrancelha e orelha.

O uso de piercings é fruto da atual moda, que está carregada de roupas e acessórios metalizados. Isso sem falar na garantia de um visual moderno adotado em festas e baladas eletrônicas, que estão cada vez mais em alta, explica a psicóloga Maria Lúcia Biem. “Os jovens estão cultuando o corpo”, diz. “O piercing na língua, por exemplo, é tido para alguns como atraente e sedutor”, detalha.

Segundo Biem, a febre dos piercings por adolescentes também pode estar associada à imagem adotada por artistas e programas televisivos. “Nessa fase, eles buscam cantores de rap e rock como referências, por exemplo, e começam a se vestir da mesma forma”, diz. “Além disso, a adolescência é a fase da experimentação e questionamento”, completa.