13 de dezembro de 2025
Política

Leandro Martins: 'O povo me traiu'

Gilmar Dias
| Tempo de leitura: 4 min

Com a orelha colada no radinho de pilha, o vereador Leandro dos Santos Martins (PP) foi informado, anteontem à noite, de que está fora da Câmara Municipal a partir de 1 de janeiro do ano que vem. Seu mundo desabou. Ele e outros 11 vereadores não foram reeleitos para cumprir mais um mandato no Poder Legislativo. A anestesia que tomou conta do corpanzil de Leandro provocou fortes reações. “O povo me traiu... Vou deixar essa cidade. Estou com vergonha do povo daqui”, desabafou.

O parlamentar teve um fraco desempenho nas urnas que revelaram a Bauru os nomes dos 15 vereadores que vão compor a legislatura 2005-2008. Com apenas 405 votos, ele passou longe da chamada linha de corte que determinou a eleição de um representante do seu partido à Câmara. Seriam necessários pelo menos 1.700 votos. Paulo Madureira, com 1.771 votos, foi o único do PP reconduzido ao cargo.

Abatido, Leandro afirma que encerrará sua carreira pública, listada em dois mandatos legislativos (1997/2000 e 2001/2004), no dia 31 de dezembro deste ano. Na primeira eleição, foi eleito com 1.250 votos. Em 2000, teve uma votação apertada, de 1.025 votos, que por pouco não antecipa em quatro anos sua saída do Legislativo.

O parlamentar nunca fez questão de esconder que, independente do prefeito que ocupa a cadeira do Palácio das Cerejeiras, tem seu apoio irrestrito. “Preciso do prefeito para atender as minhas reivindicações”, dizia. “Sem ele, não sou ninguém”, completava.

Também pontuou seu início de segundo mandato, em janeiro de 2001, declarando que tinha saudades do Regime Militar. Inconsolado por não ter sido reeleito, Leandro é enfático. “Fiquei aqui (na Câmara) oito anos. Atendi a 7 mil pessoas. Resolvi seus problemas, desde de contas da Cohab, de saúde, até encaminhamentos ao Hospital do Câncer de Jaú. Eu fiz de tudo”, diz, sem constrangimentos, no mais puro estilo de político assistencialista.

“Não acredito nessa traição. Mandei 7 mil cartas. Uma para cada pessoa que atendi, informando o que fiz para ela e dizendo que estaria aqui no próximo mandato à disposição. Mesmo assim, o povo me traiu. Faz 40 anos que moro em Bauru. Vou deixar essa cidade”, reforça.

O tom de desabafo do parlamentar é contínuo e sem meias palavras. A metralhadora verbal cospe mais impropérios. “Isso é uma vergonha para o povo de Bauru. Esse povo não tem palavra. É mentiroso. Nunca mais quero saber de política”, finaliza aos soluços e cabisbaixo.

Clima de despedida

Além de Leandro, outros oito vereadores participaram da sessão legislativa de ontem em clima de despedida. “Meus votos aumentaram nesta eleição. Isso quer dizer que o povo gostou do meu trabalho. Foi uma pena que o partido, o PPS, estava desorganizado. Seria uma eleição fácil porque o partido estava com a máquina municipal”, avalia Zito Garcia (PPS).

Já o vereador Faria Neto (PDT), que também ficou de fora da próxima legislatura, credita o resultado das urnas a sua dedicação na organização do PDT em Bauru e ao projeto do partido de lançar candidatura própria ao Poder Executivo. “Cumpri minha missão”, afirma. “Agora tenho a missão de fazer o Tuga prefeito”, completa.

Ainda assimilando a sua não reeleição, Catarina Carvalho (PFL) avalia que o poder econômico fez a diferença. “Os 1.223 votos foram de pessoas que me acompanham na vida, no trabalho que faço pela comunidade. Tenho muito que agradecer, embora a votação não se aproxime do alcance do meu trabalho”, diz.

Seu colega de plenário até 31 de dezembro deste ano, José Eduardo Ávila (PP) garante que está tranqüilo. “Saio de cabeça erguida. Eleição é assim mesmo. A gestão que se finda foi muito tumultuada”, observa.

Ao usar a tribuna livre na sessão de ontem, o vereador José Humberto Santana (PTB), também fora da lista dos 15 que assumirão a Câmara em 2005, deseja aos novos colegas “equilíbrio” na realização de suas tarefas. “Que venham com disposição, com humildade, mas sobretudo com a honradez de caráter porque trata-se de uma jornada bastante difícil”, avisa.

Bem ao estilo curto e grosso, Paulo Agustinho (PPS) diz que o sistema de quociente eleitoral é injusto. “Me sinto vitorioso. Obtive 2.333 votos. É o sonho de qualquer candidato”, comenta.

No clima de despedida, José Walter Lelo Rodrigues (PFL), que cumpre seu quinto mandato, avalia que fez uma campanha “limpa e transparente”. “Agradeço a todos que se somaram conosco, em especial minha família”, elogia.

Outros dois vereadores - Renato Purini (PMDB) e Luiz Carlos Valle (PSB) - não disputaram a reeleição porque se inscreveram em chapas majoritárias. Edmundo Albuquerque (sem partido) desistiu espontaneamente de concorrer à reeleição.