20 de dezembro de 2025
Regional

Escola de Jaú esconde cemitério

Adilson Camargo
| Tempo de leitura: 3 min

Jaú – A escavação de um fosso para a instalação de um elevador confirmou o que muita gente desconfiava. A Escola Estadual Major Prado foi construída sobre um cemitério. Não se sabe ainda quantas pessoas podem estar sepultadas ali, mas a recente descoberta de ossos humanos enterrados no terreno da escola transforma a lenda em realidade.

Até então, muitos eram os comentários, mas evidência mesmo não existia nenhuma. Além dos ossos, foram achados pedaços de madeira, argolas de ferro e pequenos cadeados. De acordo com historiadores, isso comprovaria que a pessoa foi enterrada dentro de um caixão, seguindo os padrões de um sepultamento tradicional.

Essa constatação contradiz, em tese, os rumores de que o terreno onde está a escola hoje teria sido utilizado, no fim do século 19, para enterrar vítimas da febre amarela. Por volta de 1896, um surto da doença teria dizimado parte da população.

Segundo antigos moradores, antes de serem sepultados, os corpos das vítimas eram queimados. Acreditava-se na época que essa seria uma forma de evitar a propagação da doença. O que sobrava da incineração era depositado na terra.

Hoje, a escola Major Prado está tombada como patrimônio histórico do município. Ela iniciou as atividades em 1914.

Depois de todo esse tempo, a direção da escola decidiu construir um elevador a fim de facilitar o trânsito de alunos com deficiências físicas. A descoberta dos ossos veio logo na primeira etapa da instalação do equipamento.

Eles foram achados quando os funcionários da empresa contratada para a realização do serviço cavavam o fosso do elevador. São aproximadamente três metros de profundidade. De acordo com a diretora Clorisa Cardoso Pazzian, o terreno da escola nunca havia sido escavado antes, a uma profundidade além do porão, como ocorreu agora na abertura do fosso.

A descoberta atraiu pesquisadores e arqueólogos de Jaú e região, que garantiram tratar-se de ossos humanos por causa da cartilagem. Com base nas análises feitas no material encontrado, acredita-se que o enterro foi feito há cerca de 130 anos.

A escola ocupa um quarteirão inteiro no Centro da cidade. Mas a diretora afirma que apenas uma pequena parte do terreno foi utilizada como cemitério. Ela apóia-se em documentos históricos para acreditar nisso.

Antes da escola ocupar o espaço onde está hoje, o terreno serviu para abrigar a Câmara Municipal e algumas propriedades particulares.

Segundo esses documentos, a área foi doada para o Estado em 1911 para a construção da escola. As obras começaram no ano seguinte. Antes, porém, Clorisa acredita que os restos mortais que haviam no cemitério teriam sido transferidos para outro local. A ossada encontrada há alguns dias seria, na opinião dela, uma parte que deixou de ser removida.

Assim que ficou comprovado tratar-se de ossos humanos, a Secretaria Municipal da Saúde foi acionada e os restos encaminhados para o cemitério da cidade, onde foram novamente sepultados.

Medo

A diretora garante que mesmo após a comprovação de que a escola foi construída sobre um cemitério os alunos em momento algum mostraram-se assustados. No porão, ao lado do local onde os ossos foram achados funciona a sala de informática. “Os alunos encararam (a descoberta) mais como um fato histórico”, disse.

A escola Major Prado tem cerca de 1.500 alunos matriculados no ensino fundamental e médio.

Em Bocaina, existem relatos de que a Escola Estadual “Deputado Leônidas Pacheco Ferreira” também teria sido construída sobre um cemitério. De acordo com documentos da época, a escola, inaugurada em 1913, está no terreno onde era antigamente o cemitério da então vila de São João de Bocaina.

Diz a lenda que sobre a capelinha do cemitério havia um galinho de ferro que cantava à noite. Por esse motivo, muitas pessoas tinham medo de passar pelo local depois que escurecia, temendo assombrações.