22 de dezembro de 2025
Regional

"Dona Branca" é referência em reprodução do gado tabapuã

Ricardo Santana
| Tempo de leitura: 4 min

Ibitinga - A fazenda Dona Branca, em Ibitinga, é um refúgio para a raça zebuína tabapuã. Quem passa pela propriedade de 120 alqueires e vê bois pesando mais de uma tonelada nem imagina que tudo começou em um sítio de apenas nove alqueires de terra. O pecuarista Elston Lemos Vergaças cria 800 cabeças de gado puro (PO) voltadas exclusivamente para a reprodução de machos e fêmeas. Os 120 alqueires estão divididos em porções de três alqueires, onde pasta o plantel.

No início da década de 80, Vergaças comprou 25 vacas tabapoã no município de Sertãozinho, região de Ribeirão Preto. Em Bauru, adquiriu um touro da criadora Maria Helena Dumont Adams, sobrinha-neta do aviador Santos Dumont. Vergaças deu o salto comercial ao fechar uma parceria com o veterinário Carlos Romeu Tramontin, da Lagoa da Serra Inseminação Artificial. Hoje, a grande vedete do plantel da Dona Branca é o touro Q-Kapy, com seis anos e meio de idade, que até setembro deste ano produziu 40 mil doses de sêmen coletadas pela Lagoa da Serra, central de inseminação artificial. A história da linhagem começa com o boi Anagô, nascido em 1980 e que teve uma morte precoce em 1986. Porém, a inseminação propiciou que Anagô da Dona Branca, como são chamados os bois da fazenda, pudesse gerar descendentes.

Um dos descendentes de Q-Kapy é o touro Umatan da Dona Branca, campeão em exposições como a de Umuarama 2004 e destaque do banco genético da Lagoa da Serra. Vergaças comenta que o preço da dose de sêmen saída de um touro da Dona Branca depende da linhagem do animal. Pode custar entre R$ 40,00 a R$ 50,00 e até R$ 500,00 a dose.

O porte dos animais impressiona, como o do Ubiraé da Dona Branca, com 1.140 quilos, mas que pesa menos do que o Taperon da Dona Branca, com 1.240 quilos e que, esta semana, estava na central de coleta de sêmen em Barretos. A esposa de Elston, Zilda Casimiro Vergaças, batiza os animais que se destacam entre o rebanho de 800 cabeças.

O orgulho do casal é ir a leilões nas feiras pelo Brasil e ver que, hoje, até 40% dos animais são crias genéticas da Fazenda Dona Branca. “Já chegou a 56%”, comenta Zilda. O tratador José Eduardo, 28 anos, comenta em tom de brincadeira que ficava desesperançado quando tinha que disputar premiações com os animais dos Vergaças. A preocupação de enfrentar um Dona Branca só acabou ao ir trabalhar com o casal, que o considera pessoa de total confiança.

O patrão vem de família de comerciantes, atividade que o pai, o senhor Arthur, conciliou com as funções de inspetor na Companhia Estrada de Ferro Douradense. Vergaças lembra quando o pai ficou responsável pelo transporte e manobras de descarga da Usina Itaquere, transportada pela ferrovia.

Em 1942, o senhor Arthur resolveu trocar a sociedade em um empório com um tio de Vergaças por um bar. Os empreendimentos foram sendo expandidos com a abertura de uma sorveteria, um restaurante em que dona Branca - homenageada ao emprestar o nome à fazenda - cuidava da cozinha.

A família fundou a Casa Paulista, que vendia fogões, inicialmente a querosene e depois a gás, e também modernas geladeiras. Na loja, a freguesia encontrava também brinquedos, tecidos, secos e molhados. Vergaças conta, com orgulho, a abertura da primeira concessionária de automóveis da cidade - na época chamada de agência de carros -, com a família ganhando a representação da marca Williams, adquirida depois pela Chevrolet.

Conforme Vergaças, os três filhos casaram e não deixaram a sociedade com o pai. Entretanto, num determinado momento houve a necessidade de dividir os negócios. O senhor Arthur pediu aos filhos que fizessem um levantamento dos valores e dos bens da família. Ficou definido que a partilha seria feita na base do sorteio do papelzinho dobrado. Vergaças conta que, como não tinha filhos, pediu ao pai e irmãos que ficasse por último e o que sobrasse para ele seria muito bem-vindo. Sobrou apenas um sítio de nove alqueires.

O senhor de 79 anos conta que a propriedade dele foi crescendo com aquisição de áreas dos vizinhos. Atualmente, ele é diretor da Associação Brasileira de Criadores de Tabapoã (ABCT) e integra a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).