Apesar de muitos produtores reclamarem que o acesso a financiamentos para o setor agrícola tem ficado mais difícil nos últimos anos, em Bauru os bancos aplicaram R$ 56,45 milhões em crédito rural no ano safra 2004/2005 (encerrado em outubro). O montante é 14,9% maior que o total liberado no período 2003/2004.
O levantamento foi feito, a pedido do Jornal da Cidade, pelo vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) e presidente do Sindicato Rural de Bauru, Maurício Lima Verde. Segundo ele, a projeção para o ano safra 2005/2006 é de que cerca de R$ 63 milhões sejam aplicados no setor.
Do total de R$ 56,45 milhões aplicados em Bauru, R$ 39,45 milhões foram direcionados à agricultura comercial e, outros R$ 7 milhões, para agricultura familiar (pequenos produtores que utilizam a produção para subsistência).
Em todo País, R$ 23 bilhões foram aplicados no ano safra 2004/2005, sendo que o índice de inadimplência é de R$ 9,2 bilhões. Do total, os programas mais utilizados para a liberação dos recursos foram o Funcafé (R$ 850 milhões), Recope - destinado a cooperativas - (R$ 440 milhões) e Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) com (R$ 125 milhões). Segundo ele, no Brasil nem 25% dos produtores são beneficiados pelo crédito rural.
“No futuro, a tendência do crédito rural é de que ele vá diminuindo. Os bancos estão fazendo cada vez mais exigências, inclusive de garantia hipotecária, e os produtores não têm tudo o que é exigido para que possam ter acesso ao crédito rural. Os índices de inadimplência são grandes, mas as pessoas não devem porque são desonestas, e sim porque tiveram as suas produções afetadas pelo clima, pela queda do dólar e por uma série de outros fatores”, analisa Lima Verde.
Ele observa que, há cerca de oito meses, o deputado federal Ronaldo Caiado (PFL-GO) criou uma lei permitindo que os produtores rurais quitem suas dívidas em até 20 anos. Contudo, ainda não foi apreciada pelo governo.
Outras modalidades
Na opinião do vice-presidente da Faesp, com o tempo o crédito rural acabará sendo substituído por outras modalidades que sejam mais interessantes tanto para o agente financeiro quanto para o tomador do empréstimo.
“Já existem vários outros empréstimos que são comerciais, como a agrinote cambial (que pode ser negociada no mercado financeiro). O grande problema, hoje, é que não há seguro para os produtores rurais”, aponta Lima Verde.
De acordo com o gerente negocial da superintendência regional do Banco do Brasil (BB) em Bauru, Luís Carlos Araújo, para o ano safra 2004/2005 a instituição aplicou R$ 165 milhões em crédito rural na região abrangida pela superintendência - que engloba 50 municípios.
Segundo ele, esse montante é 20% superior ao valor liberado no ano 2003/2004. “Para o ano safra 2005/2006, de julho até agora já liberamos R$ 63 milhões em crédito rural para a região abrangida pelo Banco do Brasil de Bauru”, aponta Araújo.
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Crédito difícil
O empresário Paulo Carvalho, que produz avocado (espécie menor de abacate para exportação) numa área de 100 hectares em sua propriedade às margens da rodovia Marechal Rondon, não conseguiu, neste ano, renovar o financiamento que fez em uma instituição financeira no ano passado. Motivo: uma parte do empréstimo teria juros de mercado, girando em torno de 1,5% ao mês. Somente metade do valor teria juros subsidiados, de 8,75% ao ano.
“No ano passado eu financiei R$ 200 mil para custeio da minha safra 2004/2005. Neste ano eu não consegui renovar porque seriam cobrados juros de mercado sobre a metade do valor contratado (R$ 100 mil). Como a agricultura é muito instável, o juro de mercado é um suicídio para o produtor. Então, eu estou custeando a safra deste ano por conta própria”, diz Carvalho.
Para isso, ele está investindo cerca de R$ 1 milhão para custear a safra 2005/2006. “O banco nunca financia o valor total. Além disso, está cada vez mais difícil obter financiamento, porque as exigências são cada vez maiores. Eu tive condições de custear a minha safra dessa vez, mas muitos produtores não têm (condições)”, observa.
Na safra 2004/2005, Carvalho exportou 17 contêineres de avocado para diversos países. Para o ano agrícola 2005/2006, a previsão é de exportar cerca de 40 contêineres, sendo que em cada contêiner são colocadas 5 mil caixas.