21 de dezembro de 2025
Nacional

Acusado de incendiar ônibus se entrega e nega acusações

Por Mario Hugo Monken | Folhapress
| Tempo de leitura: 4 min

São Paulo - Anderson Gonçalves dos Santos, 25 anos, o Lorde, acusado de ser traficante e mandante do ataque ao ônibus da linha 350 em novembro, entregou-se à polícia na noite de anteontem, em Duque de Caxias (Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio). Ele negou ter comandado o ataque e acusou um traficante rival, Paulo Rogério de Souza Paes, 27 anos, o Mica, de ter ordenado a ação.

O ataque ao ônibus 350 (Passeio-Irajá) deixou cinco pessoas mortas, entre elas uma menina de um ano. Na noite do dia 29 de novembro, no bairro da Penha (zona norte), o veículo foi cercado por 12 homens armados que atearam fogo e impediram os passageiros de sair. Outras 14 pessoas sofreram queimaduras. Lorde se apresentou na 59.ª Delegacia de Polícia (DP) por volta das 22h. Ele disse que decidiu se entregar por medo de ser assassinado, além de proteger sua família e a namorada Brenda, que teria participado do ataque e está foragida. Sua advogada, Claudinéia Soares, disse que ele é inocente.

Anteontem, a polícia soltou Sabrina Aparecida Marques Mendes, 21 anos, que ficou presa por engano durante 27 dias. Ex-namorada de Lorde, ela havia sido reconhecida por foto como sendo Brenda por uma adolescente de 13 anos, que teria ajudado na ação. Apesar de negar ser o mandante do ataque, Lorde pediu para ficar preso em uma cela especial na Polícia Civil porque teme ser morto. Na semana que vem, será transferido para um presídio.

A rendição de Lorde começou a ser negociada pela polícia há uma semana quando seus advogados ligaram para a 59.ª Delegacia e disseram que o traficante pretendia se entregar. Após isso, não houve mais contatos até que, na noite de anteontem, a delegacia recebeu um novo telefonema dos advogados, que pediram aos policiais que fossem buscar Lorde na favela Beira-Mar, onde ele estaria se escondendo. Antes mesmo que os policiais chegassem, o traficante se apresentou na 59.ª DP.

Outro advogado de Lorde, Ricardo Tristão, disse que Lorde estaria se sentindo muito pressionado porque a polícia estava fazendo buscas diárias na Beira-Mar e no conjunto habitacional Carandiru, outro local onde estaria escondido. Segundo ele, Lorde temia pela segurança de seus familiares. O delegado Nerval Goulart, titular da 59.ª DP, afirmou que Lorde temia também ser morto por traficantes da Beira-Mar já que a intensa presença policial na área poderia atrapalhar a venda de drogas. Goulart disse ter descoberto que Lorde estava em Duque de Caxias há pelo menos duas semanas.

O acusado prestaria depoimento à tarde na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), onde seria feito também um reconhecimento com algumas vítimas do ataque. A advogada, no entanto, declarou que ele ficaria em silêncio e só falaria em juízo. Churrasco Lorde afirmou aos policiais que, na hora em que ocorreu o ataque, participava de um churrasco no morro da Fé e estava em companhia da namorada Brenda.

O relato contrasta com os depoimentos de moradores do morro da Fé, onde Lorde atuava, que disseram que, horas antes do ataque, o traficante teria batido de porta em porta na favela para recrutar pessoas para participar do ataque. A adolescente de 13 anos, que está presa acusada de participação nos crimes, declarou que Lorde foi o mandante. A polícia fará uma acareação entre os dois.

Lorde afirmou que Mica foi quem ordenou o ataque. Embora pertençam à mesma facção criminosa, o Comando Vermelho (CV), os dois são inimigos. Mica atua na favela Vila Cruzeiro (Penha, zona norte) e tomou o controle da venda de drogas no morro da Fé após o ataque. O chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, disse não ter dúvidas de que Lorde foi o mandante e que ele acusou Mica por uma estratégia de defesa.

Lins afirmou que a polícia já esclareceu que o ataque ao ônibus ocorreu em represália a morte de um traficante no morro da Fé em um tiroteio com PMs do 16.º Batalhão (Olaria, zona norte) na noite anterior ao massacre. Sobre a morte de quatro traficantes suspeitos de participar do ataque um dia após a ação, Lorde afirmou que três deles atuaram no crime, mas que as mortes também ocorreram a mando de Mica. Álvaro Lins afirmou que, além de Brenda, um outro suspeito está foragido.

Ele foi identificado como Gabriel Amaral Távora, o Boca Mole, que, segundo o delegado, teria ateado fogo no ônibus e impedido os passageiros de sair. Lorde saiu da cadeia em maio após ficar preso quatro anos condenado por roubo. Estava em liberdade condicional. Nasceu e foi criado na favela Beira-Mar e se mudou depois para o morro da Fé, onde comandava o tráfico.

Lins declarou que, caso seja comprovado que ele é o mandante, Lorde pode ser condenado por quíntuplo homicídio, 14 tentativas de homicídio, formação de quadrilha, tráfico e associação para o tráfico, cujas penas podem ultrapassar 400 anos.