23 de dezembro de 2025
Nacional

Compadre de Lula nega caixa dois do PT na CPI dos Bingos

Folhapress
| Tempo de leitura: 5 min

Brasília - Convocado para falar sobre as denúncias de irregularidades em prefeituras administradas pelo PT na década de 90, o advogado Roberto Teixeira detalhou ontem à CPI dos Bingos sua amizade de 25 anos com o compadre e presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Teve de explicar ainda a atuação de seu escritório de advocacia na defesa de empresas como a Varig, a Brasil Telecom e a Transbrasil, cujo ex-dono também é seu amigo.

Para a oposição, apesar de “morno”, o depoimento de Teixeira reforçou as suspeitas de que a prática de caixa dois no PT funcionava há mais de uma década e tinha o aval de Lula. “Agora são dois [sic] Okamottos, duas pessoas que se completam, que têm interação com o presidente”, disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), citando o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, outro amigo do presidente Lula.

A oposição quer quebrar os sigilos bancários de Teixeira em busca de irregularidades que envolvam Lula. “Os sigilos dele são necessários porque é uma relação mais íntima do que foi apontado aqui na CPI”, disse Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). Durante cinco horas, Teixeira praticamente só falou de questões pessoais e detalhou episódios de sua estreita amizade com o presidente, a quem confirmou ter cedido uma casa em São Bernardo do Campo (SP) e ter ajudado a comprar o atual apartamento de Lula.

Protegido por uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) que lhe assegurava o direito de não responder a perguntas que poderiam incriminá-lo, o advogado também rebateu às denúncias do economista e ex-militante do PT Paulo de Tarso Venceslau, que o acusa de intermediar contratos sem licitação entre a empresa Cpem (da qual seu irmão Dirceu Teixeira é advogado) e prefeituras do PT com o objetivo de fazer caixa dois do partido nos anos 90.

À época das denúncias, o caso foi investigado por uma comissão interna do PT, formada por Paul Singer, Helio Bicudo e José Eduardo Martins Cardozo. O relatório final considerou-o culpado, mas Teixeira recorreu ao Diretório Nacional do PT, que o absolveu. O documento que isentou Teixeira foi assinado pelo deputado cassado José Dirceu (SP), então presidente nacional da sigla.

Essa informação gerou críticas do pefelista José Jorge (PFL-PE). “É realmente muito difícil a gente acreditar que não tenha ocorrido um jogo de cartas marcadas”, disse: “Hoje ele [Dirceu] é considerado pelo Ministério Público o chefe de uma organização criminosa”. Questionado sobre seu vínculo com a Cpem pelo relator da CPI, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), Teixeira negou ter sido dono ou representante da empresa. “Nunca pus os pés naquela empresa e nunca atuei como seu representante”, disse. “Desafio qualquer pessoa que possa trazer qualquer tipo de prova razoável”.

Contudo, não rebateu a versão de Venceslau de que ele apresentou os serviços da Cpem à Prefeitura de Campinas numa reunião em 1990 com então prefeito Jacó Bittar e o próprio Venceslau, que era secretário de finanças: “Ele [Bittar] me levou para eu ver uma série de obras. Passados 15 anos, não consigo me lembrar de tudo que conversei e assisti na cidade”.

Teixeira disse que emprestou uma casa a Lula em 1988, depois de ter sido procurado por integrantes da cúpula do PT. Entre eles, citou Luiz Gushiken, atualmente chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência. O advogado contou que os dirigentes petistas argumentaram que, por questões de segurança, Lula não poderia continuar vivendo numa casa popular comprada pelo Banco Nacional de Habitação (BNH): “Nesse ínterim, a nossa amizade havia crescido bastante. Quando nasceu Luis Cláudio [filho caçula do presidente], eu fui convidado para ser o padrinho. O nordestino tem um apreço a relação de compadrio que não existe em outro lugar”, explicou Teixeira: “Me orgulho disso”.

Apesar da amizade, o advogado afirmou que nunca foi beneficiado pelo fato de ele ter sido eleito presidente, principalmente, no que refere a companhias aéreas, já que recentemente prestou serviços à Transbrasil e à Varig. Teixeira negou ter influência na Infraero: “Hoje sou persona non grata na Infraero. Quem tem poder lá dentro é a Gol. Não outras empresas”.

Essa declaração fez com que o senador Heráclito Fortes (PFL-PI) aventasse a possibilidade de chamar Teixeira para falar na Comissão de Infra-Estrutura. O advogado admitiu ainda ter assinado contrato com a Varig, mas o mesmo acabou não vingando porque a primeira parcela pelos serviços não foi paga. Teixeira contou que advogou também para Brasil Telecom. No entanto, afirmou que, ao assinar contrato com a empresa de telefonia, incluiu cláusula que o proibia de atuar em causas de advocacia administrativa. Sobre a Transbrasil, Teixeira disse ter atuado em diversas ações da empresa na Justiça, mas negou ter feito lobby.

Sigilo

A CPI dos Bingos aprovou ontem a quebra do sigilo telefônico da chamada "casa do lobby" em Brasília, estopim da queda do ministro Antônio Palocci (Fazenda). A casa, alugada entre março de 2003 e fevereiro de 2004 por um ex-assessor de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto, Vladimir Poleto, serviria como uma central para negócios de lobistas, segundo outro ex-assessor de Palocci, Rogério Buratti.

A denúncia do caseiro Francenildo Costa de que Palocci freqüentava a casa levou ao episódio que culminou na queda do ministro. O requerimento aprovado ontem é de autoria do senador Romeu Tuma (PFL-SP).

A CPI aprovou ainda a quebra dos sigilos telefônico, fiscal e bancário do empresário Roberto Kurzweil. Suspeito de ser ligado a casas de bingo, ele é proprietário da empresa que alugou um carro para o suposto transporte de dólares de Cuba para abastecer caixa dois do PT em 2002.

O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), afirmou ontem que Buratti, autor de denúncias contra Palocci, "tem procurado" os técnicos da comissão "para dar mais informações".

O anúncio de que o ex-assessor poderia voltar à cena ocorre em um momento em que a CPI tenta aprovar requerimentos para convocar a namorada de Buratti, Carla Cristina Lemos, e sua ex-mulher, Elza Gonçalves Siqueira. Segundo Efraim, os requerimentos serão votados na próxima semana.