15 de dezembro de 2025
Nacional

Molduras de estilo

Por Mariana Botta | Folhapress
| Tempo de leitura: 4 min

O que as personagens Bárbara, Laura, Nazaré e Cristina têm em comum, além do fato de todas terem vivido vilãs recentemente na TV? Se você falou a cor dos cabelos, acertou. Quando optam por mudar o visual para encarar uma antagonista, atrizes e diretores têm escolhido clarear as cabeleiras das moças.

A mais nova integrante do time de loiras e más é a bela Carolina Dieckmann, que viverá a primeira vilã de sua carreira na trama das sete “Cobras e Lagartos”, que entrará no lugar de “Bang Bang” a partir de amanhã.

“Não fiquei loira porque a personagem é má ou porque ela é uma vilã, mas porque, ao criar a caracterização de Leona, eu, o Wolf (Maya, diretor da trama), a figurinista Beth Filipeck e a equipe de caracterização concluímos que precisava ser uma modificação drástica no visual”, justifica a atriz.

Carolina interpretará uma mulher sem escrúpulos e muito ambiciosa, que não pensará duas vezes antes de prejudicar a própria prima, a doce Bel (Mariana Ximenes). De acordo com Maria Lourdes Motter, pesquisadora de telenovelas da Universidade de São Paulo (USP), apesar de parecer coincidência, a imagem de loira fatal realmente persegue as antagonistas, seja na TV ou no cinema.

“Como a morena é a mulher-padrão, a loira marca mais o personagem e reflete superficialidade. É uma herança do cinema, que já deu certo em outras novelas, e as emissoras não dispensam elementos já aprovados pelo público anteriormente”, analisa.

Zezé Polessa, que encarnou a perigosa Ester em “A Lua me Disse” (2005), acredita no estereótipo da loira má. “A Ester foi baseada nessa crença, acho que essa cor demonstra mistério”, diz.

O consultor de estilo Diaullas Novaes, que trabalha há 40 anos com imagem pessoal, afirma que há uma visão histórica de que as loiras são mulheres fatais e devoradoras. “Dá uma cara de mulher forte e decidida, que combina com uma vilã”, fala. Mas Novaes encontra outra justificativa: “A maioria das loiras, principalmente no tom superclaro como o da Carolina, é oxigenada, e isso passa a idéia de falsidade”.

Flávia Alessandra, que viveu a cruel Cristina em “Alma Gêmea”, afirma que o visual a ajudou a dar credibilidade à personagem. “A pele branca e o cabelo loiro combinaram com o ar de arrogância que ela precisava ter”, explica.

Flávio Colatrello, diretor de “Cidadão Brasileiro” (Record), novela em que a mulher maligna é morena - Fausta, papel de Lucélia Santos -, explica a preferência dos colegas pelas “blondies”. “O loiro dá idéia de sofisticação e marca mais. Passa a imagem de alguém sexy e manipulador.”

Até quem não é tão má, mas tem algum desvio de caráter, pode aderir aos fios claros. Também em “Cobras e Lagartos”, Taís Araújo será Ellen, uma mulher fútil e ambiciosa, que não chegará a ser uma megera. Para a personagem, ela adotou visual no tom mel.

Transformação

Depois de definido o elenco de uma novela, a direção e a equipe de caracterização criam o visual dos personagens. Em seguida, vem a hora do intérprete virar cobaia e testar se a nova cara ficou como o esperado. Carolina Dieckmann, por exemplo, passou por três tentativas até chegar ao tom de Leona.

“Fizemos só balaiagem (mechas), porque o diretor pediu que a raiz fosse mais escura, mas ele não achou bom. Foram mais dois testes até chegar ao que ele queria”, conta a tinturista Branca Di Lorenzo, do salão Jean Yves, do Rio de Janeiro.

Branca caracteriza atores para a Globo há 20 anos. “O loiro, quase branco, foi a tonalidade que consideramos ideal para alcançarmos nosso objetivo, e acho que conseguimos”, fala Carolina, que terá de estar à altura da música-tema de sua personagem, “Erva Venenosa”.

Cléo Pires é outra atriz do elenco de “Cobras e Lagartos” que adotou visual mais “clean”, mas sua personagem não é vilã, apenas uma garota rebelde, fã de esportes radicais, que vai atormentar somente a vida da própria mãe.

“Ela precisava se livrar da cara da Lurdinha (personagem que fez em “América’), que foi muito marcante. Repicamos para ficar mais moderno e fizemos mechas na cor mel, porque a família dela na história será de pessoas com cabelos mais claros”, conta Branca, que também a transformou.

“Na vida real a mulher loira chama mais a atenção e acaba se sentindo mais poderosa”, afirma a cabeleireira Branca, que já clareou as madeixas de Renata Sorrah e de Deborah Secco. “A Deborah disse que, quando tinha o cabelo castanho, ninguém mexia com ela. Mas, depois que ficou loira, não passou despercebida.”

Para o consultor de estilo, o visual loiro pode transformar uma mulher. “Mesmo na vida real, ela assume um personagem, descobre novas facetas, fica mais sensual e cheia de si. Daí, ninguém mais consegue segurá-las”, afirma Novaes.