Agir de forma inconsciente, confessar segredos ou não voltar do transe, em diversos casos, estão relacionados à hipnose. Ledo engano. Estas situações não passam de mitos difundidos por filmes e shows, que podem confundir as pessoas. Grande parte delas, inclusive, desconhece que a hipnose é um estado mental que todas as pessoas experimentam naturalmente, ao longo do dia. “Tudo o que entra de forma subliminar, por meio de nossos sentidos até chegar a mente, é um processo de hipnose”, aponta o terapeuta e hipnólogo Luiz Carlos Crozera.
Existente há 4.500, a hipnose é uma ciência que ajuda no resgate da auto-estima, concentração e mudança de hábitos, como parar de beber e fumar, bem como na recuperação de traumas e no tratamento da depressão, obesidade, câncer, aids, entre outras doenças, explica Crozera.
Com aproximadamente 35 anos de experiência na área de hipnose, ele é autor da hipnose condicionativa e diretor do Instituto Brasileiro de Hipnologia.
De acordo com ele, são quatro vertentes básicas. “São os condicionamentos internos, que trabalham a fisiologia orgânica; os externos, que correspondem a tudo aquilo que o meio proporciona e as pessoas conseguem absorver através dos seus sentidos. Se pode também descondicionar a mente, ou seja, bloquear os registros negativos; além de recondicionar a mente”, diz ele, que ministrará um curso sobre hipnose condicionativa entre os dias 5 e 7 de janeiro, em Bauru (Informações pelo site: groups.msn.com/hipnoseclinica).
Jornal da Cidade - O que é hipnose?
Luiz Carlos Crozera - Hipnose é um processo natural, que todos os seres humanos vivenciam todos os dias. Tudo o que entra de forma subliminar, por meio de nossos sentidos até chegar à mente, é um processo de hipnose. Entre a mente consciente e inconsciente, as pessoas têm um sensor crítico, que é o racional. E na hipnose ocorre um estado de relaxamento profundo onde se consegue abrir este sensor crítico para entrar na mente inconsciente. A hipnose é a única maneira de se chegar aos registros mentais, quem vêm desde a gestação até os dias atuais, positivos ou negativos da vida de um indivíduo.
JC - Por quê?
Crozera - A hipnose é uma técnica. Os seres humanos psicossomatizam, o que ocorre quando os sentidos captam as informações. Isso é hipnose. Os medicamentos trabalham, no máximo, até o campo neurológico, ou seja, a medicina hoje aborda apenas os sintomas e não consegue atingir as causas das doenças. E, às vezes, elas vêm da infância, um trauma ou abalo emocional, por exemplo, que vai gerar fobias e síndromes, que só são atingidas por meio da hipnose.
JC - Qual é o objetivo da hipnose condicionativa?
Crozera - A hipnose existe há 4.500 anos, só que, no Brasil, a primeira técnica foi a hipnose clássica, que utiliza os métodos de regressão de memória. Há também a hipnose Eriksoniana, que foi desenvolvida pelo médico americano Milton Erikson e trabalha as metáforas, ou seja, cria fantasias mentais e, dentro delas, as pessoas conseguem resolver seus próprios problemas. Já a hipnose condicionativa, que surgiu agora, substitui tanto a hipnose clássica quanto a Eriksoniana, atuando dentro de quatro vertentes básicas: os condicionamentos internos, que trabalham a fisiologia orgânica; os externos, que correspondem a tudo aquilo que o meio proporciona e as pessoas conseguem absorver através dos seus sentidos. Se pode também descondicionar a mente, ou seja, bloquear os registros mentais negativos; além de recondicionar a mente, ou seja, colocar implantes dentro da mente do paciente novos registros e, assim, conseguir mudar seu comportamento.
JC - De que forma?
Crozera - Na mente, além dos registros e informações, existem vontade, prazer, fé, sexualidade, amor, ciúme, inveja, ódio, todos os sentimentos e é possível, sim, realizar um trabalho onde os sentimentos das pessoas sejam mais controlados. A hipnose condicionativa não investiga a vida do paciente. É um processo interno e o paciente não fala com o terapeuta. Para o profissional, não importa o que tem dentro da mente da pessoa, ele vai simplesmente bloquear esses registros. O terapeuta é apenas um facilitador do processo de tratamento. Tudo ocorre dentro da pessoa. Se ela quer parar de usar drogas, por exemplo, o resultado será satisfatório, mas em caso contrário, é difícil.
JC - A técnica é capaz de curar doenças?
Crozera - Noventa por cento das doenças são de cunho emocional, começam na mente; inclusive 90% dos casos de câncer são emocionais. Doenças como vitiligo, psoríase e uma série de outras patologias estão relacionadas ao emocional. Em todos esses casos, a hipnose chega e o profissional consegue fazer o tratamento adequado.
JC - Existe algum mal que a hipnose não cure?
Crozera - A hipnose não tem como tratar diretamente as doenças que são causadas por vírus ou bactérias, genéticas e acidentais. Mas, no caso de um tetraplégico, por exemplo, é possível fazer uma reconexão de feixes neurais desde que haja um pouco de sensibilidade durante a sessão de hipnose e houver pequena movimentação, a chance de recuperação pode chegar a 90%.
JC - Quanto tempo dura o tratamento da hipnose condicionativa?
Crozera - Depende. Para depressão, que é a doença do milênio, a média é de três sessões. Mas existem dois tipos de pessoas depressivas: que usam a doença como fuga e aquelas que têm a depressão como estado emocional. No primeiro caso, dificilmente se consegue um tratamento porque o paciente se acomoda no processo depressivo e o usa para chamar a atenção por uma carência afetiva. Já a depressão pós-parto, pós-cirúrgica e outras que envolvem o estado emocional é possível tratar em, aproximadamente, três sessões, enquanto a psicologia demora quatro ou cinco anos. Na doença bipolar, o estado de humor do indivíduo se altera rapidamente e ela vai atingir milhões de pessoas. A bipolaridade está ligada diretamente a problemas de auto-estima. Ela atinge, geralmente, pessoas que foram rejeitadas no período gestacional por conta de uma gravidez indesejada, na infância ou na adolescência e por isso elas usam um disfarce psicológico. Para as pessoas, elas aparentam uma coisa, mas, quando estão sozinhas, entram em um processo de depressão. E a bipolaridade também é tratada por meio da hipnose.
JC - Mas a hipnose deve estar aliada a sessões de terapia?
Crozera - Sim. A hipnose trabalha como coadjuvante em qualquer tratamento, tanto de saúde física quanto mental.
JC - Existem contra-indicações para o método? Quem não pode ser hipnotizado?
Crozera - Pessoas que não têm a capacidade auditiva funcionando e quem não têm sanidade de consciência. Educadores podem usar a hipnose dentro da sala de aula, técnicos esportistas e os profissionais da área criminalística que podem usar a hipnose para resgate de informações de memória.
JC - Como é aplicada a técnica?
Crozera - É feito um relaxamento profundo e são trabalhadas as técnicas da hipnose condicionativa, ou seja, condicionamentos mentais, internos, externos, descondicionamento e recondicionamento da mente do paciente. Ele já sai da sessão com a auto-estima elevada e força de vontade de viver. Seu metabolismo também muda. Nos casos de aids, por exemplo, se trabalha basicamente a auto-estima. A doença é causada por um vírus, mas ele não mata. A propaganda que foi feita em cima da aids acabou condicionando a mente das pessoas a acharem que a aids mata. Quando o indivíduo pega o resultado de um exame no qual foi identificado que ele é soropositivo, sua auto-estima cai e, conseqüentemente, seu fator imunológico e aí desencadeia o processo. Na Universidade Estadual de Londrina (UEL), 27 pesquisadores estão realizando estudos científicos sobre a aids, câncer e depressão, além de hipertensão e diabetes.
JC - Estas doenças também têm fundo emocional?
Crozera - Sim e são causadas pela ansiedade. Cada ser humano é diferente do outro e, quando ele não tem fuga e válvulas de escape, é o organismo que acaba sofrendo. Todas as pessoas fogem. Tudo o que é excesso é fuga. E, quando o indivíduo não consegue fugir, o organismo acaba absorvendo toda a pressão psíquica e por isso mergulha em um processo depressivo, tem psoríase, úlceras gástricas, entre outras. Os enfartos são decorrentes de longos períodos de ansiedade, assim como o AVC. Hoje, a desestruturação das famílias é a causa principal da bipolaridade e processos depressivos agudos. Segundo o IBGE, quase 80% dos casamentos são dissolvidos em menos de cinco anos e a maioria dessas uniões resulta em filhos. A separação dos pais sempre traz abalo emocional para os filhos. A morte de alguém na família, perda de um animal de estimação, mudança de cidade ou pressão psicológica dentro da sala de aula também são abalos emocionais e, na vida adulta, as pessoas podem ter desvios de comportamento.
JC - Quais são os mitos envolvendo hipnose?
Crozera - São muitos. Filmes, desenhos, as novelas e os shows acabam mistificando muito a questão de hipnose. E a hipnose científica é uma terapia breve e a mais natural que existe, porque só envolve a voz do terapeuta.
JC - Como a hipnose pode ser aplicada em situações do dia-a-dia, como para acalmar o nervosismo na hora da prova ou em entrevistas de emprego?
Crozera - Quando a pessoa vai prestar vestibular, entra em um estado de ansiedade profunda, o que faz com que a memória fique bloqueada. E o trabalho da hipnose deixa “gatilhos” dentro da mente do paciente que são disparados justamente no momento certo, reduzindo a ansiedade. E, para isso, é preciso ter os músculos e os batimentos do coração relaxados e a respiração calma e tranqüila. Entrevistas de emprego também geram ansiedade e os profissionais de recursos humanos estão aplicando a hipnose. No caso de esportistas, a hipnose ajuda na concentração, reflexo, motivação e força física. Na odontologia, a técnica é aplicada para diminuição de hemorragias ou anestesia. A hipnose pode atuar em inúmeras áreas, em tudo que envolva concentração e redução de ansiedade. A hipnose será a medicina do futuro. Para o 3.º milênio, prevemos que ela irá superar toda e qualquer ciência porque é uma forma de cura natural que atinge a causa. E, sabendo que muitas dessas causas estão no comportamento das pessoas, é possível começar a desenvolver um trabalho de conscientização com as famílias.
JC - A hipnose está sendo associada à medicina?
Crozera - O primeiro hospital no Brasil a ter um departamento de hipnologia é o Hospital das Clínicas de São Paulo. A hipnologia é utilizada para preparar pacientes para cirurgias, diminuindo a carga anestésica e o nível de ansiedade. A cicatrização é mais rápida, o sangramento é menor e os resultados clínicos são melhores. O paciente enfrenta um processo cirúrgico com mais calma e tranqüilidade.