20 de dezembro de 2025
Política

Plano inicial do aeroporto era carga

Nélson Gonçalves
| Tempo de leitura: 5 min

A suspeita de alteração no projeto original para o aeroporto Moussa Tobias, na divisa de Bauru com Arealva, está ligada, na prática, diretamente ao que dispôs o plano piloto do Estado para a obra que, em dezembro de 1995, foi elaborado para ser aeroporto de cargas e passageiros, com pista de 3.230 metros por 45 m de largura e piso suficiente para receber até um Boeing 747.

É o que está escrito em ofício da Secretaria Estadual dos Transportes de 14 de dezembro de 1995, cuja caracterização do novo aeroporto identifica que o plano piloto foi desenvolvido com o “objetivo de construção de aeroporto internacional para cargas e passageiros, planejado para operar com aeronaves do tipo Boeing 747, que exige pista com pelo menos 3.000 metros de comprimento”.

Com isso, ainda em 1995, o plano piloto previu que o aeroporto Bauru-Arealva deveria ter já em sua primeira fase pista de 3.230 metros por 45 m de largura. Mas, mais tarde, o projeto foi redimensionado, com a licitação sendo realizada para pista de 2.100 metros e 45 m de largura, insuficientes atualmente para a operação com cargueiro, seja pelas dimensões, seja pelo PCN (resistência do pavimento).

Conforme relatório atualizado do Daesp, o aeroporto Bauru-Arealva está instalado para operar atualmente a uma altitude de 593,80 metros e capacidade de suporte do pavimento de 42 toneladas (PCN), adequado para aeronaves com envergadura de 24 a 36 metros (tipo B737-900 e A320) para operações diurnas e noturnas. Os pousos e decolagens noturnos ainda dependem da instalação de equipamento já adquirido.

Mas o projeto original, alterado por razão ainda não informada, estabelecia não somente pista como área para cargas com pátio de estacionamento exclusivo com área de 88.000 m2, o suficiente para abrigar ao mesmo tempo quatro aeronaves tipo B-747, além de terminal com 20.000 m2 de área e estacionamento para caminhões com 16.500 m2 em pavimento asfáltico.

Outra área foi planejada no projeto para abrigar a atual área destinada à aviação regional. Apenas a parte do projeto para vôos comerciais foi implantado, conforme o plano piloto do Daesp da época.

Operação com carga

Para a operação com cargueiros, a situação atual do aeroporto Bauru-Arealva limita o peso de decolagem a 65 mil quilos, sendo que o peso operacional vazio da aeronave situa-se em 42.901 quilos. Com isso, os dados técnicos são de que para um vôo sem escalas em trecho para Bauru-Brasília as restrições estariam entre 30% a 40% na carga paga, o que exige investimentos para adequação aos parâmetros do segmento.

Ou seja, o levantamento aponta que a ampliação da pista em mais 700 metros e readequação e reforço do pavimento de pouso exigiriam R$ 12,5 milhões, isso para decolagens com resistência do piso para 64 toneladas, conforme a demanda do setor cargueiro. As edificações de apoio operacional para cargas com torre custam mais R$ 1,5 milhão, a construção do pátio de carga exige outros R$ 10,9 milhões e os equipamentos de auxílio e proteção ao vôo custam R$ 1 milhão, somando R$ 25,9 milhões. O galpão pode ser viabilizado junto à iniciativa privada.

O estudo prevê a adequação da pista em duas etapas, com as instalações complementares mencionadas acima. A primeira etapa envolve ampliar a pista dos atuais 2.100 para 2.700 metros, cujo processo já conta com licenciamento ambiental.

Nesta situação, o aeroporto de Bauru teria condições de operar com peso de decolagem equivalente a uma aeronave MD-11F, com peso de 225.000 quilos, ampliando para 77% o aproveitamento da carga paga para trecho de Bauru a Manaus, por exemplo.

A segunda etapa do projeto prevê ampliar a pista de pouso para 3.100 metros, com disponibilidade para uso por aeronaves de envergadura de 36 a 52 metros. O peso máximo de decolagem, neste caso, passaria para 272 mil quilos, viabilizando 100% de aproveitamento da carga até Manaus e, inclusive, vôos internacionais como para Bogotá, na Colômbia, e pelo menos 80% para vôos para Miami (EUA), por exemplo.

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Resistência da pista

O Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp) garantiu ontem ao JC, por escrito, que a resistência do pavimento da pista do novo aeroporto Moussa Tobias, localizado na divisa de Bauru com Arealva, é para 42 toneladas e não 31 como chegou a ser especulado nas duas últimas semanas. A resistência da pista não é suficiente para receber cargueiros, mas o indicador é o mesmo apontado em relatório pelo próprio órgão estadual no estudo que aponta a necessidade de R$ 26 milhões de investimentos para adequar o aeroporto local para operações de carga, valor quatro vezes menor que os mais de R$ 120 milhões necessários em estudo feito para a pista de aeronaves em Ribeirão Preto (SP).

Questionado com insistência pelo JC, desde o último dia 23 de julho, sobre o atestado de resistência da pista do novo aeroporto de Bauru, a assessoria de imprensa do Daesp informou ontem que “a pista do aeroporto Bauru/Arealva tem comprimento/largura de 2.100m x 45m, com 90 metros de recuo na cabeceira número 33 e PCN 42/F/A/X/T”.

A assessoria acrescentou que a informação sobre indicação errada de resistência de pistas aeroviárias em Bauru refere-se somente ao equipamento antigo, no Aeroclube, onde a resistência não é de 14 toneladas, mas de 13 ton, conforme o órgão. A pista do antigo aeroporto também opera, conforme os dados do órgão, com restrição de 200 metros. O motivo é o mesmo de Congonhas (SP): urbanização do entorno, sobretudo na cabeceira, onde um obstáculo (prédio nas imediações da avenida Getúlio Vargas) reduz a distância disponível de operação de 1.500 para 1.300 metros.