20 de dezembro de 2025
Nacional

‘Duas Caras’ terá histórias baseadas em fatos reais

Por Ana Paula Sousa | Folhapress
| Tempo de leitura: 4 min

O povo brasileiro vai entrar em cena em “Duas Caras”, que, a partir de hoje, substitui “Paraíso Tropical”. A nova novela de Aguinaldo Silva será baseada em histórias inspiradas na vida de pessoas comuns -muitas delas vieram de notícias dos jornais. Além disso, terá um núcleo ambientado na favela fictícia Portelinha, no Rio de Janeiro.

“É uma novela urbana sobre a necessidade de mudar. As pessoas estão sempre em mutação, embora não percebam esse processo. Quero falar de conflitos existenciais; os confrontos sociais estão intrínsecos à trama. Percebi que, em diversos filmes, a favela é retratada somente pela ótica da violência. Sinto falta dos trabalhadores. Quero mostrar uma favela onde as pessoas sejam humanas”, define o autor Aguinaldo Silva.

A comunidade de Portelinha foi inspirada em Rio das Pedras, uma favela carioca horizontal, e custou cerca de R$ 3 milhões. É a primeira vez que a Globo investe na construção de um cenário desse tipo. O que não representa a estréia das favelas na emissora carioca. O próprio Aguinaldo Silva já havia colocado uma comunidade carente em “Senhora do Destino”.

“Foi a primeira. Não era o núcleo principal da novela, mas houve uma certa estranheza. Mas eu não só fiz uma novela que se passava na Baixada Fluminense como também coloquei uma favela. Depois disso, as favelas se tornaram ostensivas no Rio, e é claro que uma novela das oito que se passe no Rio contemporâneo tem de ter favela”, diz, rebatendo qualquer semelhança entre Portelinha e o morro do Torto, da novela “Vidas Opostas”, que antecedeu “Caminhos do Coração”, na Record.

As semelhanças entre as duas comunidades realmente não são tão evidentes. Ao contrário do morro do autor Marcílio Moraes, Portelinha não será dominada pelo tráfico. Na primeira das três fases de “Duas Caras” - a trama se passa em algum período entre as décadas de 80 e os dias atuais -, Juvenal Antena (Antônio Fagundes) comandará a invasão do terreno em que se formará a favela. Depois, vai se tornar mentor de todos os que moram nela. Na segunda fase, o líder comunitário entrará em conflito com o afilhado Evilásio (Lázaro Ramos).

“Ele não é o típico herói de novela porque seu personagem é o que age, não espera que as pessoas resolvam. Ele tem auto-estima, tem atitude”, diz Ramos. Além de disputar o poder com o padrinho, Evilásio viverá um amor que promete gerar polêmica. Ele vai se apaixonar por Júlia (Débora Falabella), uma aspirante a cineasta que vai fazer um documentário em Portelinha. Para ficarem juntos, os dois terão de enfrentar a oposição velada de Paulo Barreto (Stênio Garcia) e Gioconda (Marília Pêra), pais da moça.

“A família dela fala que não se importa, que não tem preconceito, diz que é moderna, mas não quer ver a filha namorando um negro. Eles têm preconceito também por causa da desigualdade social”, conta Débora. Mas o preconceito dos sogros não deve ser o único problema de Evilásio. Ao lado do padrinho, ele terá de defender a Portelinha da ambição de Adalberto Rangel, o protagonista da novela, vivido por Dalton Vigh.

Ainda criança, o jovem pernambucano será vendido ao golpista Hermógenes (Tarcísio Meira), que o transformará em seu pupilo. Já adulto, Adalberto dará um golpe em Maria Paula (Marjorie Estiano). “Ele quer sair dessa e virar um homem honesto, mas usa a falcatrua para conseguir isso. Ele dá um golpe na Maria Paula, fica cheio de dinheiro e, aí, decide virar um homem honesto”, conta Dalton Vigh.

Para recomeçar a vida, Adalberto resolve mudar radicalmente. Com a ajuda de Bárbara (Betty Faria), sua grande aliada durante toda a novela, passa por uma cirurgia para mudar de rosto. Depois, vai morar no Rio de Janeiro, onde assumirá uma nova identidade: Marconi Ferraço. Como empresário, tentará desocupar o terreno da favela Portelinha para não prejudicar a construção de um condomínio de luxo bem ao lado da fictícia comunidade carente.

Enquanto o vilão disputa território com Juvenal, a mocinha enganada, por sua vez, passará por uma fase de profundo amadurecimento. Na segunda fase da novela, ela virá a São Paulo para tentar a vida com o filho de 10 anos. “A Maria Paula começa como a mocinha ideal. Quando ela muda para São Paulo, começa a ter uma outra postura, entra em contato direto com os problemas e os encara de frente. Em algum momento, ela vai pensar em vingança. Mas, mais importante que recuperar o dinheiro ou encontrar o Adalberto é essa história dela”, diz Marjorie Estiano, que faz sua estréia como a protagonista de novelas.

O último personagem da atriz na Globo foi a Marina, de “Páginas da Vida” (2005). Seu primeiro trabalho na emissora carioca aconteceu em “Malhação”, em 2004. Quando finalmente reencontrar Adalberto, ele estará envolvido com Maria Silvia (Alinne Moraes), uma menina mimada, filha de Branca (Susana Vieira) e de Joca (Herson Capri). Depois de sete anos morando na Suíça, ela voltará ao Brasil por conta da morte do pai.