21 de dezembro de 2025
Regional

Região é epicentro da máfia da prótese

Gustavo Cândido
| Tempo de leitura: 2 min

Marília - A Operação Metalose, desencadeada ontem pela Polícia Federal (PF) em quatro Estados, com a prisão de cinco pessoas em flagrante por envolvimento na fabricação e comercialização de próteses humanas para substituição de ossos e dentes falsificadas, seria o ápice de uma série de investigações que vinham sendo realizadas, primordialmente, pela Delegacia de Polícia Federal em Marília (100 quilômetros de Bauru) há algum tempo.

O esquema que, de acordo com a polícia, funcionava há quatro anos, envolvia a produção de peças com material de baixa qualidade e sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que é considerado crime hediondo.

As investigações que levaram à ação da PF pelo País teriam começado, segundo apurou a reportagem do JC, em Piraju, onde a fundição Micrometal é uma das suspeitas de fabricar as próteses. Há cinco anos, a empresa havia sido proibida pela Anvisa de confeccionar as peças. A confecção desse tipo de material pela fundição teria se tornado alvo de inquérito da PF de Marília.

As investigações apontaram as ramificações do esquema em outras cidades de São Paulo, no Paraná, Pernambuco e Maranhão. Ontem, a operação que envolveu 150 agentes, além de funcionários da Anvisa e foi batizada com nome da reação causada pela rejeição ao metal de implantes, prendeu quatro pessoas no Interior paulista e uma na cidade pernambucana de Petrolina.

Em Piraju, durante cerca de três horas, a PF inspecionou documentos, notas fiscais e pedidos da Micrometal, além de vistoriar a linha de produção da empresa, que produz atualmente peças para veículos e utensílios domésticos. No local foram recolhidos moldes de cera para a fabricação de próteses e uma fôrma para confecção de arma de fogo. Em entrevista para uma emissora de televisão, Alcebíades Zamiani, um dos proprietários da fundição, se defendeu dizendo que nunca forneceu próteses acabadas para outras empresas. “Não temos condições de fundir titânio”, disse.

O material recolhido em Piraju foi encaminhado à Polícia Federal de Marília, onde os agentes estiveram em escritório de advocacia cujo endereço é o mesmo de uma das firmas que comercializavam as peças ortopédicas irregulares. Lá foram encontradas notas fiscais de produtos usados em implantes ósseos.

Riscos

De acordo com a PF, uma pessoa morreu depois de implantar uma das próteses falsificadas. Amputações também teriam ocorrido. A polícia ainda investiga se médicos estão envolvidos no esquema, que contaria com participação de multinacionais do setor, que atestariam a qualidade das próteses cuja produção haviam terceirizado.

Os envolvidos responderão por crime previsto no artigo 273 do Código Penal, que corresponde às condutas de falsificar, corromper e adulterar produtos de uso médico-hospitalar, cuja pena varia de 10 a 15 anos de reclusão. A Anvisa pede a quem tiver implantando uma prótese nos últimos quatro anos que procure o médico para saber a procedência do material.