Final de semana de sol, sem nada para fazer, e lá vamos nós para o quintal dar uma lavadinha básica no carro. Pergunta comum entre a maioria dos loucos por automóveis: afinal, o motor pode ou não pode ser lavado?
Meu amigo Rogério é um desses que faz questão de ter o carro sempre limpo, manda lavar em um lava rápido de confiança e faz questão de passar o “pretinho” nos pneus ele mesmo para garantir a qualidade do produto usado. E que de vez em quando lava o motor também. Então, outro dia ele me perguntou se estava correto em fazer isso ou qual seria o inconveniente. É claro que o motor pode ser lavado, mas como sempre digo, com critérios.
O motor do seu carro não foi feito para andar desprotegido na chuva, por isso tem um capô sobre ele. Mas isto não quer dizer que ele não possa receber água, tanto é que em dias de chuva ela pode entrar pela grade frontal, pelo radiador ou pela parte de baixo. Os seus pontos sensíveis à água ficam protegidos contra estes eventuais respingos naturais, e isto não o afeta, pois foi projetado para isso. Dirigir na chuva mesmo em alta velocidade não causa nenhum problema de água no motor. Um dos pontos sensíveis do motor é o seu sistema elétrico. Se atravessarmos alagados ou poças d’água com velocidade excessiva, o que pode gerar um afluxo de água muito grande para dentro do compartimento do motor, este poderá morrer, ou seja, se desligar sozinho por fuga de corrente elétrica ou curto circuito no sistema.
Outro ponto sensível à água é o filtro de ar, pois se passar água por ele, esta poderá chegar à câmara de combustão e causar um calço hidráulico no motor, danificando cabeçote, pistões, pinos, bielas e o próprio virabrequim. Enfim, uma boa patada no bolso...
Pelos mesmos motivos o sistema de alimentação, seja ele por carburador ou injeção, pode sofrer com a presença de água. A injeção eletrônica é ainda mais sensível à água devido aos sensores, chicotes e conexões elétricas que podem entrar em curto quando úmidos.
Um motor em uso normal não deve vazar óleo e, se o fizer, deixará marcas visíveis de óleo pelas laterais ou juntas. Estas manchas, ao receberem uma camada natural de pó ou sujeira por cima, as aderem e dão uma má impressão de sujeira no todo. Mas são úteis para se detectar os possíveis vazamentos e corrigi-los em tempo, antes que possam causar maiores danos.
Ao lavarmos um motor, retiramos estas evidências de vazamentos e podemos correr o risco de não as consertarmos em tempo hábil. Por outro lado, podemos resolver o problema da intensa sujeira que impede e até inibe qualquer manutenção decente no motor. De uma maneira geral, recomenda-se que se lave o motor uma vez por ano, nunca com jatos d’água de alta pressão. Isto é um crime com seu motor, pois acaba com o material fonoabsorvente do capô e painel de fogo (aquela chapa metálica entre o compartimento do motor e o habitáculo dos passageiros) e prejudica os componentes elétricos e eletrônicos no motor, além dos chicotes e contatos. Para proceder à lavagem, deve-se usar querosene com água para retirar a sujeira, ou querosene puro aplicado com pincel, para remover as oleosidades. Deixe atuar um pouco sobre as manchas e depois lave com água limpa de mangueira sem pressão, apenas deixando-a cair sobre o motor. Mesmo assim, proteja as partes elétricas como distribuidor, bobina, velas ou sistema de injeção da água direta, molhe com cuidado estas partes e seque-as imediatamente. As velas e seus cabos devem estar perfeitamente secos para garantir o funcionamento correto do motor, pois se estiverem molhados haverá falha de cilindros por falta de faísca. Proteja também a entrada do filtro de ar, para evitar o ingresso de água no seu interior. É comum tampar-se estes orifícios com estopa ao se lavar um motor, e mais comum ainda esquecer a estopa lá, depois de lavar. Claro que com uma restrição de ar destas no filtro o motor não funcionará direito, portanto verifique se tudo está limpo, seco e desimpedido antes de sair com o carro. Seque com cuidado os alojamentos das velas, que o resto secará sozinho com o próprio calor do motor.
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* Marcos Serra Negra Camerini é engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, pós-graduado em administração industrial e marketing e engenharia aeronáutica, com passagens como executivo na General Motors (GM) e Opel. Também é consultor de empresas e é diretor geral da Tryor Veículos Especiais Ltda. Seu site é www.marcoscamerini.com.br.