15 de julho de 2025
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Bairros

‘Úlcera de Bauru’ gerou polêmica

Luciana La Fortezza
| Tempo de leitura: 2 min

Botão do Oriente, botão de Alepo, botão de Biskra, ferida braba, botão da Bahia, úlcera de nariz. Nomes populares não faltaram para identificar a leishmaniose cutânea (tegumentar) no início do século passado. No entanto, a denominação “úlcera de Bauru” foi a mais polêmica e rendeu até um editorial mau humorado no jornal “O Bauru”.

Datado de julho de 1916 e sob o título “É desaforo”, o jornal criticou a alcunha da doença atribuída a Bauru por outras cidades do Estado de São Paulo. Elas também recebiam para tratamento funcionários da Ferrovia Noroeste do Brasil contaminados pela leishmaniose tegumentar.

“Ali, (os médicos) indagavam a procedência dos doentes e estes respondiam que procediam de Bauru (...). Os médicos tiravam a conclusão que tais feridas eram originárias desta cidade (...). Achamos injusto o vergonhoso batismo aplicado a uma moléstia que não tem sua origem nesta cidade e soa muito mal aos ouvidos dos bauruenses”, diz um trecho do texto.

No artigo também é possível observar outra constatação registrada 18 anos depois pelo periódico “Ouro Verde”: os pacientes consideravam o tratamento longo e cansativo. No entanto, os procedimentos médicos adotados eram os mesmos em todo o Estado.

Na época (década de 50), já se sabia de casos da leishmaniose tegumentar em Salvador (BA) e que ocorrências da visceral haviam sido notificadas na Ásia, África, em vários Estados do Brasil, Argentina e Paraguai.

Porém, a preocupação com a incidência da moléstia foi despertada muito tempo antes. Em 1908, os cientistas brasileiros Emílio Ribas e Adolpho Lutz vieram juntos para Bauru para pesquisar a leishmaniose, conforme explicou o pesquisador Gabriel Ruiz Pelegrina em matéria já publicada pelo JC.

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Diferença

A leishmaniose tegumentar americana afeta somente a pele. Também conhecida como úlcera de Bauru, é transmitida ao homem pelo mesmo mosquito palha, porém, é provocada por outro tipo de protozoário, que não coloca em risco a vida da pessoa contaminada ou do cão infectado.

Conforme o JC já divulgou, a moléstia se manifesta em forma de lesão, que inicialmente pode aparentar uma espinha e, se não for tratada, pode progredir e resultar numa úlcera.

A doença normalmente é assintomática, mas em alguns casos a picada pode coçar. Ainda assim, não provoca deformidades no paciente, que só enfrenta tratamentos mutilantes se houver complicações decorrentes. O tratamento é o mesmo utilizado em caso de leishmaniose visceral.