Um automóvel é uma máquina geradora de barulhos para todos os lados, por vários motivos. Seu motor a explosão é uma fonte de ruído por definição, além de sua suspensão, suas articulações, peças móveis e encaixes de toda natureza. Além disso, o piso por onde roda também transmite vibrações em todo o veículo, resultando em mais ruídos. Para tornar o carro mais confortável, existem diversos dispositivos anti-ruídos ou abafadores.
O mais conhecido de todos é o silencioso do escapamento. Sua função é abafar o som dos gases de escape emitidos pelo sistema de exaustão que vêm do motor. Seu dimensio-namento leva em conta todo um conjunto de dados do motor como capacidade cúbica, número de cilindros, rotação média, máxima e de torque máximo, temperatura dos gases, comprimento dos tubos dentre outras, de modo a adequar o equipamento às diversas fases de funcionamento do motor. Tem carro que tem este componente tão bem projetado que parece que o motor nem está em funcionamento. Além de abafar o ruído dos gases de escape, ainda fornece certa restrição à sua passagem, chamada de “back pressure”, o que é muito útil no desempenho do motor. Esta contrapressão tem que ser muito bem calculada e definida para auxiliar na lavagem do cilindro, ou seja, ajudar na troca de gases dentro da câmara de combustão.
Retirar o escapamento para ganhar potência só funciona na cabeça de certos abobrinhas metidos a mecânicos. O único aumento que vão ter é o de barulho e a conseqüente irritação de todos em volta. Um carro de corrida não tem abafador (ou silencioso) e isso dá a impressão de que ganha potência, mas não é verdade. Como o motor de competição é especialmente preparado para andar sempre em alta rotação e na potência máxima, seu coletor de escape é dimensionado para isso, chegando a ganhar mais alguns bons cavalos no motor, e não tem bom desempenho a baixas rotações nem pode andar na rua devido ao barulho. Vocês viram na Formula 1 a Ferrari do Raikonnen perder um pedaço do escapamento fazendo com que o motor perdesse desempenho. É uma situação especial, para carros que andam em pista. Isto mostra que em corrida tudo é calculado no limite e sem margem de erro. Fazer isso no seu Voyage de rua é burrice!
Mas o carro não tem apenas este abafador de ruídos, tem vários outros. Um bastante comum e pouco lembrado é a forração interna da carroceria, que inclui mantas de isolamento, feltros, tapetes e forração de teto e laterais. Existem placas de material asfáltico ou emborrachado que se coloca no piso e laterais da carroceria com o intuito de absorver aquelas vibrações que se tornarão barulho incômodo. Os tapetes e carpetes internos absorvem boa parte dos ruídos de motor, transmissão e suspensão. Espumas e mantas aplicadas estrategicamente no painel de instrumentos e laterais de portas impedem que peças plásticas atritem com a superfície metálica e façam rangidos. Aliás, nunca se deve encaixar nada plástico diretamente na chapa metálica, sob o risco de com o tempo termos uma enorme fonte de ruídos irritantes. O correto é fixarmos as partes plásticas em conectores adequados e estes sim, presos à chapa. Desta forma, teremos condições de retirar e colocar as peças de cobertura várias vezes sem danificar os encaixes, evitando os benditos barulhinhos.
Outra fonte de barulho chato é o filtro de ar, que se não estiver bem instalado produz aquele som forte de sucção do motor. O elemento do filtro já absorve um pouco do ruído, mas mesmo assim não é o suficiente. Neste caso usa-se um ressonador, uma caixa oca que fica instalada entre o filtro de ar e o duto de admissão, que serve para diminuir os ruídos provenientes das câmaras de combustão, eliminando as freqüências baixas produzidas pelo motor, que são as principais causadoras dos ruídos. A explosão nas câmaras de combustão produz um ruído que ecoa pelo sistema de admissão e tende a ir para fora, mas ao passar pelo ressonador, este atua como um filtro sonoro. A superfície interna do ressonador tem pequenas ondulações que servem para atenuar o barulho excessivo vindo do motor.
Todas estes equipamentos servem para proporcionar maior conforto acústico no interior do veículo e nos dar mais prazer em dirigir.
____________________
* Marcos Serra Negra Camerini é engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, pós-graduado em administração industrial e marketing e engenharia aeronáutica, com passagens como executivo na General Motors (GM) e Opel. Também é consultor de empresas e é diretor geral da Tryor Veículos Especiais Ltda. Seu site é www.marcoscamerini.com.br.