19 de dezembro de 2025
Geral

Médico bauruense é pioneiro em cirurgia robótica no Brasil

Tisa Moraes
| Tempo de leitura: 4 min

Sob o comando de um jovem médico bauruense, um robô gigante e cheio de braços realiza movimentos delicados e precisos, jamais imagináveis à capacidade da mão humana. Recém chegado ao Brasil, o robô Da Vinci, um moderno sistema desenvolvido para auxiliar em procedimentos micro-invasivos, ainda é uma novidade.

Mas o urologista Carlo Passerotti, de apenas 33 anos, é um dos profissionais mais gabaritados para manusear o aparelho. Único brasileiro com pós-doutorado em cirurgia robótica pela Harvard Medical School, nos Estados Unidos, Passerotti – um bauruense criado no bairro Higienópolis – já realizou aproximadamente 200 cirurgias utilizando o equipamento.

“Por enquanto, há cerca de seis profissionais treinando com o robô cirúrgico, mas sou o único especialista dessa área no Brasil”, destaca ele, que atualmente lidera a equipe de cirurgia robótica urológica do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Pioneira na aquisição do Da Vinci, a unidade hospitalar realizou, no final de março, a primeira cirurgia do País nesse tipo de aparelho.

Com estrutura semelhante a de um polvo, o robô possui dois metros de altura e quatro braços. Um deles é ocupado por uma câmera que gera imagens 3D, enquanto os outros ficam com instrumentos cirúrgicos como pinças, tesouras e bisturi.

“O aparelho faz o papel dos braços do médico durante a operação, com objetivo de conferir maior perfeição aos procedimentos cirúrgicos”, afirma Passerotti. Durante a operação, o médico controla os braços robóticos à distância, por meio de um console: o profissional faz os movimentos em dedais e é ‘imitado’ pelo equipamento dentro do paciente.

Para se guiar pelo corpo, o cirurgião usa uma câmera com capacidade de ampliar em até dez vezes a imagem do organismo, que é transmitida por meio de um televisor. “Além de visualizar melhor o espaço de trabalho, o médico tem uma amplitude de movimentos muito maior com as pinças do Da Vinci”, comenta Passerotti.

Precisão cirúrgica

Como o robô é mais preciso nos procedimentos, filtrando inclusive o tremor das mãos do médico, há a expectativa de que o aparelho também diminua os efeitos colaterais de certas operações. No caso da cirurgia de próstata, carro-chefe do novo sistema, os médicos pretendem reduzir em 20% os índices de impotência sexual e incontinência urinária, principais complicações que podem surgir no período pós-operatório.

Além disso, os sangramentos diminuem em 75% em comparação às cirurgias convencionais e o tempo de recuperação reduz de cinco para dois dias, conforme destaca o urologista bauruense. “As vantagens são enormes. O único impedimento é financeiro”, frisa.

Atualmente, o Hospital Sírio-Libanês realiza apenas quatro cirurgias robóticas por semana, em média. Como o custo do procedimento é duas vezes e meia mais alto do que a tradicional e os convênios de saúde ainda não cobrem esse tipo de cirurgia, somente são operados os pacientes que têm condições de pagar.

Um cirurgia para retirada de câncer de próstata, por exemplo, não sai por menos de R$ 25 mil. Mas a proposta, segundo Passerotti, é que essa tecnologia se popularize em um curto prazo. “Nossa expectativa é chegar a 12 cirurgias semanais até o final do ano. Quando houver cobertura dos convênios, isso vai se expandir rapidamente”, frisa.

Além do Sírio-Libanês, o Hospital Israelita Albert Einstein já dispõe de um Da Vinci e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz também está negociando a compra do equipamento. “Daqui a um ano, talvez o Hospital das Clínicas também adquira um robô para atender pelo SUS (Sistema Único de Saúde)”, acredita o médico.

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‘Filho’ da laparoscopia

O Da Vinci é uma evolução de um outro tipo procedimento pouco invasivo: a videolaparoscopia, método que consiste na inserção, por meio de pequenos orifícios no abdome, de uma pequena câmera e tubos equipados com instrumentos cirúrgicos. Segundo Carlo Passerotti, a principal diferença está na qualidade da imagem a que o profissional tem acesso e ao tipo de movimento que as hastes do novo robô podem fazer.

Durante uma laparoscopia, o cirurgião olha uma tela com imagens de duas dimensões, geradas por uma câmera não automatizada, que é manejada por um assistente. Já com o Da Vinci, o médico vê as imagens em 3D e pode acionar um dispositivo capaz de reduzir em até cinco vezes a oscilação do movimento das pinças.