19 de dezembro de 2025
Auto Mercado

Dr. Automóvel: Desgaste natural ou falta de manutenção

Consultoria: Marcos Serra Negra Camerini*
| Tempo de leitura: 4 min

Mesmo com o saudável hábito de manter a manutenção do carro em dia, existem coisas que dão problemas sem aviso prévio. A bateria, por exemplo, é uma delas. Como a bateria é um componente químico e não mecânico, ela se desgasta naturalmente mais pelo tempo de vida do que pelo uso. Dizer que rodou apenas 20.000 km em 2 anos e a bateria já pifou não quer dizer nada, pois se tivesse rodado 200.000 km neste período seria a mesma coisa. As placas de chumbo ficam imersas na solução ácida e tem uma vida útil em que podem receber os ciclos de carga e descarga, mas mesmo sem uso se deterioram com o tempo.

Meu amigo Funny me procurou outro dia dizendo que seu carro não tinha bateria, que não dava nem sinal. Foi avisado por colegas de que havia esquecido a lanterna acesa a tarde toda e que essa era a causa da bateria ter-se descarregado completamente. Na verdade, uma bateria em boas condições tem plena capacidade de se manter ativa mesmo com a lanterna pernoitando acesa. Então, por que ela não tinha carga?

São 3 possibilidades: primeira, a bateria já está velha e não segurava mais carga. Neste estágio a única solução é a troca por uma nova. A segunda possibilidade é de que o alternador não esteja carregando, aí o problema é com ele e nele deve ser feita uma manutenção ou reparo. A terceira hipótese seria falta de manutenção adequada nos bornes dos cabos da bateria, onde se cria um zinabre azul claro que isola os pólos da bateria e não permite que ela se carregue. Esse é o ponto, depende da ação do dono fazer essa manutenção periódica nos bornes dos cabos de bateria para manter o contato, porém as outras duas possibilidades dependem de outros fatores que não são do alcance do proprietário.

Outro item que pode ser encarado da mesma forma é o líquido do sistema de arrefecimento, a chamada “água do radiador”. Na verdade, a água é apenas parte dela, o restante é completado com um aditivo anticongelante a base de etileno glicol, que ainda lubrifica o sistema e eleva o ponto de ebulição do líquido. Como o fluido fica em contato com as paredes internas do motor e dos dutos de refrigeração, pode ocorrer uma oxidação e mesmo sujeiras internas que vão se desprendendo, impregnando o fluido. Com o tempo, ele passa a entupir passagens, válvula termostática, sensores e a não mais circular adequadamente pelas mangueiras e dutos, reduzindo a capacidade de troca de calor, gerando superaquecimento podendo vir a fundir o motor. Com a alta temperatura de funcionamento exigida pelo motor, cria-se uma pressão grande de vapor que sai pela válvula de segurança, baixando o nível do fluido, que precisa ser reposto. Se não o for, o motor não terá a capacidade de se resfriar e poderá fundir. Ao repor o nível, deveremos ter sempre em mente que não é só água, e sim uma mistura de água com aditivo. O aditivo tem que ser o correto para aquele tipo de motor, não usar um mais barato ou de caminhão, por exemplo, para motores de automóvel, pois o resultado poderá sair mais caro do que pensa. Mas a reposição do nível não tira a sujeira interna depositada nas paredes.

Como proceder então para não ser pego de surpresa? Simples, a manutenção preventiva. Alguns componentes têm uma vida útil pré-determinada, daí que ao vencer este prazo é altamente recomendável que se efetue sua substituição mesmo que ainda esteja funcionando direitinho. É por esse motivo que os fabricantes especificam um prazo para que o fluido do sistema de arrefecimento seja trocado. Geralmente um ano ou dois é o prazo recomendado, dependendo de cada fabricante. Deve-se drenar todo o sistema de refrigeração, lavar o radiador e as mangueiras por dentro, checar o estado e funcionamento da válvula termostática e depois recolocar água mais aditivo até completar o nível, fazendo antes uma sangria no sistema para eliminar as bolhas de ar internas.

O mesmo ocorre com o fluido de freios, que deve ser trocado regularmente a cada 2 anos para prevenir envelhecimento do fluido de freio. Por ser à base de álcool, o fluido pode perder suas características hidráulicas com o tempo devido às altas temperaturas de frenagem.

Quanto à bateria, depois de 2 anos em média, fique esperto se ela começar a dar sinais de cansaço ou perda de carga. Compensa trocar logo por uma nova para não ficar na rua.

____________________

* Marcos Serra Negra Camerini é engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, pós-graduado em administração industrial e marketing e engenharia aeronáutica, com passagens como executivo na General Motors (GM) e Opel. Também é consultor de empresas e é diretor geral da Tryor Veículos Especiais Ltda.

Seu site é www.marcoscamerini.com.br.

Sugestões para a coluna e perguntas à seção Correio Técnico devem ser enviadas ao e-mail automerc@jcnet.com.br ou à redação do Jornal da Cidade, na rua Xingu, 4-44, Higienópolis. É obrigatório informar nome completo, RG, endereço e contato (telefone ou e-mail).