23 de dezembro de 2025
Bairros

Apenas 15% dos pneus velhos descartados em Bauru são reciclados

Juliana Franco
| Tempo de leitura: 4 min

Os números não são precisos, mas a estimativa é de que apenas 15% dos pneus velhos, que não têm mais condições de rodar, trocados em Bauru todo mês vão para reciclagem, apesar de há nove anos o Brasil contar com legislação que estabelece a destinação ambientalmente adequada deste material. Conseqüentemente, sobram pneus em terrenos baldios que, além de entulho, podem se tornar focos do mosquito transmissor da dengue.

Empresas de revenda de pneus e borracharias calculam que na cidade são trocados aproximadamente 10 mil pneus por mês. Destes, cerca de 1.500 são recolhidos e encaminhados para a reciclagem e se transformam em asfalto, pisos industriais, sola de sapato e combustível alternativo.

A Pineuac, empresa parceira do fabricante Pirelli e que aderiu ao programa nacional de coleta e destinação de pneus inservíveis implantado pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip) há nove anos, recolhe cerca de mil unidades por mês em Bauru.

“Todos os produtos recolhidos por nós são encaminhados para os ecopontos, locais criados pela Anip que possibilitam a destinação ambientalmente correta dos pneus”, explica Daniel Pereira Paiva, gerente da filial Pineuac em Bauru.

A Dpaschoal é outra empresa que aderiu ao programa. Segundo a assessoria de imprensa da empresa, a filial de Bauru recolhe cerca de 250 pneus inservíveis por mês, que são encaminhados à central da empresa que dá a destinação correta para o produto.

Enquanto as revendedoras de pneus recebem orientação da Anip, falta informação para os borracheiros. Marcos Felício, proprietário de uma borracharia na cidade conta que descarta cerca de 70 pneus ao mês. “Aqui na cidade, não conheço pontos que recolhem os pneus inservíveis e também não sei de nenhum programa de reciclagem. Por isso, descarto os pneus no aterro sanitário”, afirma.

O borracheiro Waldir Oliveira afirma que também encaminha os pneus velhos para o aterro sanitário. “São aproximadamente 40 pneus por mês”, conta. Já Wellington Luis da Silva, proprietário de outra borracharia, explica que entrega cerca de 50 pneus todo mês aos catadores de recicláveis que passam pelo local. “Não sei o que eles fazem com o produto. Eu, como não sei para onde encaminhar, entrego para os catadores”, revela.

Para Marcos, faltam informações sobre a reciclagem de pneus. “É importante fazer divulgação da possibilidade de reciclar pneus, pois muitos não conhecem o assunto. Eu, por exemplo, sei que existem programas de reciclagem, mas não sei como fazer parte da iniciativa e não conheço nada relacionado ao assunto aqui em Bauru”, afirma.

Borracharias

De acordo com a assessoria de imprensa da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb), as mais de 100 borracharias da cidade são orientadas a encaminhar os pneus inservíveis ao aterro sanitário. No local, o material é separado e recolhido por uma empresa terceirizada que encaminha o produto para a reciclagem.

Após a destinação, os pneus podem ser utilizados como combustível alternativo no co-processamento em fábricas de cimento; transformados em pó de borracha para uso em asfalto; transformados em regenerados de borracha a serem utilizados como matéria-prima na produção de tapetes, mantas, coxins, entre outros; transformados em subprodutos derivados diretamente dos pneus, como percintas para sofás, tubos de drenagem de água, batentes, etc.

Desde 1999, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) instituiu a responsabilidade do produtor e do importador brasileiros pelo ciclo total do pneu. Há seis anos, eles devem coletar e dar a destinação correta aos pneus inservíveis. Além disso, a cada quatro novos pneus fabricados, o produtor e importador deve reciclar cinco.

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Como é feita

A reciclagem de pneu exige a separação da borracha vulcanizada de outros componentes (como metais e tecidos, por exemplo). Os pneus são cortados em lascas e purificados por um sistema de peneiras. As lascas são moídas e depois submetidas à digestão em vapor d’água e produtos químicos, como álcalis e óleos minerais, para desvulcanizá-las. O produto obtido pode ser então refinado em moinhos até a obtenção de uma manta uniforme ou extrudado para a obtenção de grânulos de borracha. Os subprodutos obtidos têm diferentes aplicações:

Co-processamento: Uso dos pneus como combustível alternativo em fornos de cimenteiras em substituição ao carvão. Quando comparados ao óleo diesel, os fragmentos de pneus apresentam menor custo e maior poder calorífero.

Laminação: Utilização de pneus não radiais para fabricação de percintas (indústrias moveleiras), solas de sapato, dutos de águas pluviais, entre outros.

Asfalto: A aplicação é direta em pó para o revestimento de ruas e estradas. A adesão à massa asfaltiva desse pó promove o aumento da vida útil do asfalto e proporciona maior segurança aos usuários das vias.

Artefatos de borracha: São usados na fabricação de tapetes, rodas maciças para carrinhos, pisos e outras. O produto feito a partir de picotagem é mais leve e o ganho de produtividade na instalação, assim como a redução nos custos de transporte, são grandes diferenciais competitivos.