22 de dezembro de 2025
Geral

Entrevista da semana: Paulo Roberto Lopes: Uma história de muito sucesso e boemia

Wagner Carvalho
| Tempo de leitura: 11 min

Ele não gosta de tratado como o último boêmio, mas com certeza, faz parte de um grupo seleto desses amantes da noite e da música romântica. Paulo Roberto Lopes, o Boca de Cantor, nasceu em Duartina, mas sua história começou mesmo em Bauru. Fã incondicional da família e dos amigos, Lopes diz ter vivido toda a sua vida prazerosamente.

Empresário, atualmente usa a experiência, adquirida durante mais de 40 anos de trabalho como securitário, e colabora na empresa criada e dirigida pelos filhos e netos. Aos 59 anos (idade cronológica, já que o mesmo diz se sentir como uma pessoa com 45 anos), Lopes está próximo de realizar um grande sonho: a gravação de um CD com suas músicas preferidas.

Escolhidas a dedo e guardadas a “sete chaves”, as músicas que irão compor o repertório do CD que ele gravará, ainda neste mês, são homenagens à família, amigos e a si mesmo. Espiritualista, o cantor prega muito o carinho e respeito aos seletos amigos que conquistou ao longo de sua vida.

Durante sua andanças pelas noites brasileiras, em especial as bauruenses e paulistanas, Lopes conheceu diversos e artistas e se tornou amigos de muitos. Ele nutre uma amizade longa com o cantor Roberto Luna, com quem registrou em DVD uma apresentação feita em Bauru, no final de setembro.

Lopes lembra também de outras pessoas importantes que fizeram parte de sua história, como o amigo confidente Paulo Lauris. O cantor cita também seus primeiros patrões, os advogados Silvio Barbera e Inocência Medina, e tantos outros que colaboraram muito para seu amadurecimento pessoal.

Apaixonado pela boemia, ele diz que as noites de agora são diferentes. “As pessoas não buscam mais se divertir, tem muito abuso na noite”, avalia.

Lopes conta que seu primeiro contato com a música foi quando venceu um concurso na cidade, patrocinado pela Tilibra e apresentado inclusive pelo ex-prefeito Tidei de Lima. No júri, estavam personalidades da cidade como o ex-deputado Roberto Purini, Jorge e Amir Farah.

Jornal da Cidade - Como nasceu sua paixão pela música?

Paulo Roberto Lopes - Em 1968, eu estudava no Liceu Noroeste e apareceu um concurso chamado “A Mais Bela Voz Colegial de Bauru” patrocinado pela Tilibra, presidida por Rubem Coube. Fiz a inscrição para participar, era um concurso importante de estudantes e eu me lembro que foi um dos últimos realizados na cidade. Passei pelas três eliminatórias e fui para a final, realizada no ginásio Panela de Pressão. Conquistei o primeiro lugar, foi um sucesso total.

JC - Qual música interpretou?

Lopes - “O Trovador”, música composta por Evaldo Gouveia e Jair Amorim e gravada na época por Altemar Dutra.

JC - Depois disso, o senhor pensou em seguir a carreira musical?

Lopes - Cantei em Bauru algumas vezes, estive no programa “Almoço com as Estrelas”, apresentado pelo Aírton Rodrigues, Participei de um programa apresentado pelo radialista Barros de Alencar junto com o Roberto Leal, mas como a vida na noite era muito difícil, voltei para Bauru para ajudar minha mãe no trabalho dela. Mas continuei na noite de Bauru. Trazia vários cantores para se apresentar na cidade, inclusive Roberto Luna, que recentemente gravou comigo um DVD.

JC - Foi aí que teve início sua “vida noturna”?

Lopes - Naquela época, eu comecei trazendo alguns amigos para se apresentarem na cidade. Depois, passei a viajar pelo Brasil e pela região e me apresentar na companhia do Roberto Luna e de outros amigos, pelos palcos da noite brasileira.

JC - O senhor diz que música sempre foi uma paixão. Como a conciliou com a vida profissional?

Lopes - Eu comecei a trabalhar muito cedo, na época em que eu me apresentei e ganhei o concurso “A Mais Bela Voz Colegial”, eu já trabalha como ofice boy de dois grande advogados da cidade: Silvio Barbera e Inocência Medina, o último ainda atuante.

JC - Isso foi no começo. O senhor seguiu outra área?

Lopes - Não, na época em que eu viajava pelo Brasil, me apresentando pela noite, eu já era securitário, tenho 40 anos no ramo de seguros, fui gerente do Banco Comércio e Indústria Seguradora, que depois passou a ser Comind (Comércio e Indústria) e aí depois passei a atuar na Paulista Seguros, comprada em 2004 por empresa americana e aí eu desenvolvi um grande trabalho na área securitária em todo o Interior do Estado. Na época, o nosso escritório passou a ser o mais representativo da empresa no Brasil. Em 2000, deixei de ser segurador e passei a prestar serviço na empresa do meu filho, a MPL Corretora de Serviço, e viajo o Brasil inteiro e ajudo no que for necessário com a experiência acumulada.

JC - Como surgiu a idéia de gravar um DVD ao lado de Roberto Luna?

Lopes - Foi realmente para marcar minha história de amizade e companheirismo com essa pessoa que é muito importante para mim, que é o Luna. Me pediram no Santa Cerva Bar, do amigo Cidinho, para que eu trouxesse o cantor para se apresentar no restaurante. O show foi numa sexta-feira à noite e, no sábado, resolvi registar em DVD para realmente marcar a minha história com o Luna, uma cantor famoso da noite paulistana, uma história muito bonita, Roberto Luna e eu. Foi feito de improviso, um show muito bonito, uma noite inesquecível.

JC - E o nome do DVD, “Com Amor e Por Amor aos Meus Amigos”, tem uma razão?

Lopes - Eu acredito que tudo o que nós fazemos precisa ser feito com amor, tanto no trabalho quanto na família, tudo sempre deve ser feito com amor. Todo amor tem um objetivo, amor pela minha família, pelos meus amigos, filhos, netos e trabalho.

JC - Como nasceu a amizade com o cantor Roberto Luna?

Lopes - Nasceu através do Gê Petisco. Eu precisava trazê-lo para cantar em Bauru e, nessa época, o Luna se apresentava no Viva Maria, uma boate muito famosa de São Paulo, foi ali que conheci também outros cantores, como Evaldo Gouveia, um dos grandes compositores de Altemar Dutra, e tantos outros. Mas a amizade entre Luna e eu começou nessa época, não me lembro bem ao certo o ano, mas já passa dos 30 anos.

JC - O senhor lembra da sua infância e adolescência. Elas foram difíceis?

Lopes - Tudo o que a gente passa na vida é uma experiência. As dificuldades que se enfrenta, as diversidades que você passa na vida, tudo é válido. Estamos aqui para cumprir uma missão, Deus nos colocou aqui para isso e passei por muitas coisas, tive muitas experiências boas e ruins, mas costumo dizer para meus amigos, hoje, que a gente nunca vai ser feliz só recebendo elogios, a gente só consegue crescer com as críticas. Passei vários momentos muito difíceis pela vida, como todos que não nasceram em berço de ouro, mas, com certeza, posso afirmar que foi uma vida bonita, uma história de muito aprendizado.

JC - O senhor acredita que conquistou todos os seus objetivos?

Lopes - Eu não sou materialista, eu prefiro sempre servir do que ter, minha família está aí e todos sabem eu nunca fui amarrado no materialismo. É claro que Deus me deu, depois de um certo tempo, um conforto que todos merecemos, mas nunca fui ligado ao dinheiro. Eu digo que o mundo está pesado, nos dias de hoje, pela sede de poder das pessoas. Costumo dizer para os meus amigos que o dinheiro está transformando famílias, destruindo empresas. Infelizmente, o mundo se encontra como está por causa do maldito dinheiro, todo mundo quer ter e para isso passa por cima de todos e eu nunca tive essa intenção de poder. Aprendi com a minha mãe a servir dentro do conhecimento e cada um no seu, transferindo a experiência adquirida para outros, para família e amigos.

JC - O senhor diz que sempre tirou da vida o que ela tem de melhor. Existe algo que o senhor deixou de fazer por algum motivo e hoje se arrepende?

Lopes - Não. Conquistei muitas coisas bonitas, sem muitos excesso, mas a única coisa que faltava eu vou alcançar, que é gravar um CD, com músicas bonitas, bem feitas e com uma orquestração de primeira, da qual eu não abro mão.

JC - O CD sai ainda este ano?

Lopes - Vou fazer agora, neste mês de novembro ainda. Já estão no estúdios os maestros, fazendo a orquestração, mas a gravação do CD não tem nenhum objetivo comercial, e sim, deixar para meus amigos, filhos e família, deixando registrado o que eu sempre gostei de fazer que é cantar.

JC - O senhor fala muito na família e amigos. O que eles representam para a sua vida?

Lopes - A relação que você tem, tanto com a família quanto com os amigos, que no meu caso não são muitos, tem que ser pautada pelo amor sem interesse. Quando você nutre uma amizade com alguém e visa algum tipo de não interesse, não pode ser algo bom. Sempre tive poucos, mas bons amigos e sem visar interesses profissionais o qualquer outro tipo de segunda intenção. Tenho uma história muito bonita, graças à Deus. Pelo meu trabalho, sou conhecido em todo o Brasil por grandes empresários e todos sempre me perguntam se não almejo mais coisas e responde sempre que o que Deus me deu já está bom.

JC - O senhor se considera o último romântico ou mesmo o último boêmio?

Lopes - Não. Tem muitos, quando saímos na noite, encontramos muitas pessoas que amaram muito, não falo só do amor entre o homem e a mulher, mas família e amigos. Aprende-se muito na noite, encontra-se empresários, pessoas que sofreram muito por ficar longe do amor da família, pessoas que perderam grandes amores, por isso, não me considero o último romântico, tem muitos por aí. Mas a noite exerce sobre mim um fascínio muito grande. Quando chego em um bar ou restaurante na Capital, onde um cantor romântico se apresenta, me sinto muito bem.

JC - O senhor fala da noite paulistana, mas a noite de Bauru também rendeu muitas histórias?

Lopes - Paulo Lauris é um amigo confidencial, temos uma amizade de quase 40 anos, tenho um carinho muito grande por ele. Sabemos tudo um do outro, tem coisa que se pode contar e outras não, mas eu sempre brinco que foi ele quem me apresentou para a famosa Casa da Eny, em 1976. Nessa época, ele saiu e eu cheguei, gostei tanto que fiquei, conheci Vinicius de Moraes, Chico Anísio e tanto outros nessa casa que, na época, era finíssima.

JC - O senhor prestou serviços para dezenas de empresas e agora assessora seus filhos na MPL Empresa, criada por eles, com a sua experiência. Qual é o principal conselho para quem deseja ter um negócio saudável?

Lopes - O objetivo da MPL é ter sempre funcionários bem servidos. Hoje, qualquer empresa precisa oferecer aos seus colaboradores benefícios, serviços de saúde, educação e lazer. Nas minhas andanças pelo Brasil, encomendei um pesquisa que apenas confirmou o que eu já sabia: o grande problema atual das empresas é o estado emocional dos funcionários, 70% dos funcionários pesquisados tinham problemas emocionais. Era falta de dinheiro para adquirir remédio, garantir educação e uma coisa puxa a outra, chegando ao ponto de criar um estresse emocional e ele não desenvolver tudo o que poderia. Então, a empresa que se preocupar com estado emocional e psicológico dos seus funcionários é a que vai sobreviver.

JC - O senhor aborda esse temas nas palestras que apresenta pelo Brasil?

Lopes - Faço consultoria para dois grandes sindicatos e para a Associação Brasileira de Cargas Líquidas. Nesses encontros, falo de tudo um pouco, minha experiência me permite isso. Abordo temas como seguros e leis ambientais, procedimento de emergência e outros, enfim, quando vou para apresentação dessa á convite dessas empresas, fala um pouco de tudo de todo o conhecimento adquirido ao longo da minha vida profissional.

JC - O senhor disse que lê muito. O que gosta de ler?

Lopes - Costumo dizer na empresa, para meus filho, que o importante é ler de tudo. De manhã, às 6h, já começo a ler os jornais para ficar informado e, dessa forma, poder discutir qualquer tipo de assunto seja com quem for. Gosto de ler livros do tipo biografia. Aprendi muito na vida lendo.

JC - O senhor pensa um dia em voltar a residir em Bauru?

Lopes - Estou sempre em Bauru, minha mãe, filhos e netos moram aqui, a matriz da empresa está localizada na cidade e São Paulo está pertinho, venho a cada 15 dias, sou apaixonado pela minha família.

JC - Em poucas palavras, faça resumo da sua vida?

Lopes - Vivi prazerosamente, vim para esse mundo sem nada, conquistei muitas coisas, mas irei embora sem nada.

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Perfil

Nome: Paulo Roberto Lopes

Idade: 59 anos

Hobby: Cantar e Ler

Local de nascimento: Duartina

Filhos: Paulo Roberto Lopes Júnior, 40 anos; e Emerson Lopes, 38 anos

Netos: Marcelo, Vinícius, Priscila Maria e Maria Paula

Esposa: Leila Lopes (ex-esposa)

Livro: ‘Os Miseráveis’ (Victor Hugo)

Filme: Não tenho

Estilo musical: Música romântica e clássica

Time: Não tenho

Para quem dá nota 10: Eu daria hoje para os poucos e bons amigos que tenho

Para quem dá nota 0: Política