13 de dezembro de 2025
Auto Mercado

Dr. Automóvel: Cuidados com enchentes

Consultoria: Marcos Serra Negra Camerini*
| Tempo de leitura: 4 min

Nesta semana, os assuntos foram as enchentes. Aliás, nesta época do ano, tirando o Carnaval não se fala de outra coisa. Carro não é barco e devem ser respeitados seus limites. Por não ter sido projetado para ser anfíbio, um automóvel normal de rua pode atravessar pequenos alagamentos mas não suporta desaforo. Por exemplo, usa-se como regra básica de projeto que todo automóvel possa atravessar um curso d’água com uma profundidade até o centro da roda. Isto quer dizer que até esta altura, não se encontra nenhum componente vital ou não resistente à água. Claro que esta regra não se aplica aos rebaixados ou muito esportivos. A soleira da porta, por exemplo, fica acima deste limite teórico, para impossibilitar a entrada de água. Os componentes elétricos e eletrônicos também ficam dispostos bem acima deste nível, assim como a entrada de ar e saída de escapamento do motor. Portanto, não precisa ter medo de atravessar uma rua alagada desde que respeitado este limite de profundidade. Mas é preciso bom senso (que deveria ser usado sempre, não só em emergências...) para se prevenir que mesmo com a profundidade adequada, não se percebe buracos e desníveis no piso por estarem encobertos pela água, além de uma correnteza forte que pode fazer a água bater no carro e formar uma onda, que aumenta a coluna d’água. A velocidade correta para se atravessar um alagado é aquela que permite formar uma marola na frente do veículo, de forma que este empurre a onda e não a ultrapasse. Se a velocidade for muito grande, o carro passará pela onda e esta subirá no capô, podendo gerar muito prejuízo. Mantenha rotação constante e não troque de marcha.

Para aqueles que têm o costume saudável de abrir o capô de vez em quando para verificar os níveis de água e óleo, já puderam reparar que há muitos fios e componentes eletrônicos expostos na parte superior do motor. Estes ficam ali dispostos para proteção, justamente por este compartimento ser aberto embaixo e na frente para ventilação do motor e assim, sujeitos a água de chuva ou lavagem. Ao passar por uma enchente, se o volume d’água for muito grande, como por exemplo, de andar muito rápido no alagado, a água pode subir e afetar a parte elétrica e eletrônica, parando o motor. Também pode entrar dentro da cabine por alguns furos de passagens de cabos ou dutos de ventilação interna, molhando o carpete e os bancos, deixando aquele desagradável cheirinho de cachorro molhado, além de poder afetar a parte elétrica do painel e eletrônica do rádio e instrumentos.

Já disse que o motor é uma máquina que respira, portanto ele inspira pelo filtro de ar e expira pelo escapamento. Da mesma forma que nós, ele não consegue fazer isso debaixo d’água. Para admitir o ar seco, este deve ser sugado pelo filtro localizado acima da linha d’água e sem risco de chupar líquido, caso contrário causará um calço hidráulico dentro da câmara de combustão (pois a água líquida não é compressível) e quebrará o pistão, biela, bloco e tudo o mais. No caso do escapamento, se este ficar sob a água e não tiver rotação suficiente no motor que gere um fluxo forte de gases suficiente para expulsar a água, esta poderá cortar o motor pelo contra fluxo do gás de escape e entrar pelo escapamento, danificando igualmente o motor. Outro problema de uma enchente é o carro ser arrastado pela correnteza. Isto se dá quando o volume d’água embaixo do carro for maior que seu deslocamento, fazendo com que o carro flutue e perca aderência com o chão, podendo ser arrastado sem controle.

Um jipe muito preparado consegue atravessar facilmente um rio completamente submerso, tendo só a cabeça do feliz jipeiro de fora. Como isso é possível? Ele deve ter um snorkel, ou tubo ligado ao filtro de ar blindado que capta o ar acima do parabrisa. O mesmo com o escapamento, que deve ter um prolongamento até o alto. O motor deverá ser diesel e os componentes suscetíveis a água como alternador e motor de arranque, protegidos. Furos no assoalho sem tapetes permitem a entrada proposital de água, evitando a flutuação da carroceria. Pneus especiais, suspensão elevada e tração nas 4 rodas completam a preparação. Mas jipe é jipe, portanto de carro não enfrente uma enchente sem conhecer sua profundidade. Procure informações pelo rádio de alternativas de vias mais altas e não fique parado esperando. A água pode subir e não terá escapatória. Se decidir ir em frente, vá com segurança.

____________________

* Marcos Serra Negra Camerini é engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, pós-graduado em administração industrial e marketing e engenharia aeronáutica, com passagens como executivo na General Motors (GM) e Opel. Também é consultor de empresas e é diretor geral da Tryor Veículos Especiais Ltda. Seu site é www.marcoscamerini.com.br.