19 de dezembro de 2025
Internacional

Austríaca relata horrores de 24 anos de cativeiro

Folhapress
| Tempo de leitura: 3 min

Viena - No segundo dia de seu julgamento, o austríaco Josef Fritzl assistiu ontem ao final do depoimento de 11 horas gravado por sua filha Elisabeth, no qual ela relata os 24 anos que passou presa no porão sem janelas de sua casa. Ela foi estuprada pelo pai e teve sete filhos com ele. Só ficou livre no ano passado.

Durante 24 anos, o austríaco manteve a filha Elisabeth presa no porão de casa, sem janela, com o teto baixo, junto com ratos. Segundo a Promotoria, as condições de vida da família eram precárias e, em alguns momentos, a filha de Fritzl precisava caçar os ratos com as mãos para defender os filhos.

Ao longo dos anos, após inúmeros estupros, o austríaco teve sete filhos com Elisabeth. Três passaram a vida no porão, um morreu bebê e três foram criados pela avó, Rosemarie, e pelo pai-avô, que simulou o abandono das crianças na porta da casa da família.

Segundo a Promotoria, o cativeiro não possuía janela, sistema de ventilação e as paredes eram repletas de umidade. Devido à presença dos ratos, Elisabeth caçava os animais com as próprias mãos, segundo relatos escritos no seu diário íntimo.

Elisabeth foi encarcerada aos 18 anos, em agosto de 1984, mas conta que os abusos começaram aos 11. Na época, o reduto tinha quase 20 metros quadrados, um lavabo, um banheiro e uma cozinha. Fritzl atraiu a filha até o local, a dopou e algemou. Elisabeth foi forçada a escrever à mãe - que, segundo a polícia, nada sabia sobre os horrores do subsolo - dizendo que tinha entrado para uma seita e pedindo que não a procurassem.

De acordo com a Promotoria, o austríaco estuprou a filha pela primeira vez no segundo dia de cativeiro. Ele só removeu as algemas de Elisabeth nove meses depois porque “elas estavam dificultando o sexo’’.

Burkheiser afirmou que, nos primeiros nove anos de cativeiro, Elisabeth ficou grávida e deu à luz três filhos. Para o primeiro dos partos, em 1988, teve a ajuda de “uma manta não esterilizada, tesouras sujas e um livro de preparação ao parto’’.

À medida que as crianças fruto do incesto foram nascendo, Fritzl construiu novos cômodos até chegar a quase 40 metros quadrados. Para eliminar da mente dos reféns qualquer tentativa de fuga, Fritzl instalou oito portas, três delas equipadas com dispositivos eletrônicos de fechamento com combinações que somente ele conhecia. Além disso, havia ameaçado atacar Elizabeth e os filhos com gases caso tentassem escapar. À noite, ele levava comida e roupa para a segunda família.

O réu se declara culpado de praticar incesto e manter seus filhos em cárcere privado e “parcialmente culpado” de estupro, mas nega responsabilidade na morte de um dos filhos recém-nascidos. O veredicto deve sair na quinta, e a pena máxima é a prisão perpétua. Fritzl, que passara o primeiro dia de julgamento cobrindo o rosto, se deixou ontem fotografar. “Ele está muito envergonhado”, comentou seu advogado, Rudolf Mayer.

“Se ele fosse um monstro, ele não teria decorado a casa com papel de parede do Mickey, não compraria presentes e não celebraria o Natal com uma árvore”, afirmou o advogado durante o segundo dia de julgamento, em Sankt Pölten, na Áustria.