22 de dezembro de 2025
Turismo

A Paris dos trópicos

Eliane Barbosa
| Tempo de leitura: 4 min

A minissérie “Amazonas”, de Glória Perez, na TV Globo, retratou fielmente como foi Manaus, no passado. A cidade era o centro de atenção de estrangeiros que a elegeram como a “Paris dos Trópicos”.

De acordo com o Guia “Amazonas - Turístico, Ecológico e Cultural”, da Empresa das Artes, o período áureo começou no mesmo ano da Proclamação da República, quando a província tornou-se Estado do Amazonas e Manaus sua Capital, passando a ser aclamada mundialmente como a maior exportadora de látex do planeta.

A fama levou à Capital uma leva de trabalhadores, incluindo nordestinos e estrangeiros. A demanda fez com que novas construções surgissem, requerendo a implementação de serviços de telefonia, eletricidade, água encanada e transporte coletivo com bondes elétricos”.

A imponência do teatro

Entre as construções mais significativas do período da borracha, merece destaque o imponente Teatro do Amazonas, inaugurado em 1896, após 17 anos de obras e mais três para sua ornamentação.

Para se ter uma idéia de sua pujança basta citar que toda sua estrutura é pré-fabricada, com peças vindo de diversas partes da Europa: as grades de ferro dos camarotes e balcões e os lustres de bronze de Paris; o couro das cadeiras, da Rússia; os vigamentos de aço das paredes, da Escócia; os vitrais esmaltados do domo, da Alemanha; e o mármore, assim como estátuas, pórticos, colunas, espelhos de cristal e vasos de porcelana, da Itália.

Com tantos detalhes e tanta opulência, para ficar pronto não foi fácil: O teatro só foi efetivamente aberto alguns dias depois, em 7 de janeiro, com a apresentação da ópera Gioconda, de Amilcar Ponchielli, pela Companhia Lyrica Italiana.

Governantes e comerciantes locais, entre 1890 e 1910, por conta da exportação da borracha natural, trouxeram da Europa centenas de arquitetos e paisagistas para a execução de um ambicioso plano urbanístico, que resultaria em uma Capital moderna e inovadora.

De acordo com o guia “Amazonas - Turístico, Ecológico e Cultural”, para a construção do teatro foram empregados materiais trazidos a peso de ouro de diversas partes da Europa: os vigamentos de aço das paredes vieram de Glasgow, Escócia; as telhas vidradas vieram de Alsácia, região entre a Alemanha e a França - são 36 mil escamas em cerâmica esmaltada, com as cores da bandeira brasileira; as grades de ferro para os camarotes, frisas e balcões, bem como os móveis estilo Luís XV e a armação da cúpula, vieram de Paris; mármores Carrara, estátuas, pórticos, escadas, colunas, lustres e espelhos de cristal, candelabros e vasos de porcelana vieram da Itália, e as cadeiras de couro, da Rússia.

O pano de boca, pintado por Crispim do Amaral, representa o encontro das águas dos rios Solimões e Negro, formadores do rio Amazonas.

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A grande metrópole

A cidade da borracha, do porto, do teatro, continua surpreendente. Enorme, agradável, reunindo um comércio agitado, um porto invejável, a famosa Zona Franca, praias de água doce, hotéis de categoria internacional como o Tropical, da Fundação Ruben Berta, que acreditou no potencial amazônico, restaurantes premiados e enormes edifícios.

O Tropical fica na Ponta Negra, um dos bairros mais prósperos e agradáveis de Manaus, onde um apartamento custa mais de US$ 1 milhão e há uma série de atrativos voltados ao lazer, além de barraquinhas que servem cerveja gelada e cuias de tacacá, para “contrabalançar” o calor.

Em Manaus, a temperatura chega fácil aos 40, 41 graus centígrados. No inverno, gira em torno de 38 graus. Calor aliviado pela sombra das árvores e por incursões à selva.

Aliás, a cidade está a pouquíssimos quilômetros da floresta amazônica, convidando ao encontro das águas - o Solimões e o Negro não se misturam antes de suas águas se tornaram o Amazonas -, ao contato com os botos, com ilhas de puro encanto, igapós e igarapés, várzeas e florestas de terra firme.

Rotas que transportam os visitantes para um universo inexplorado que pode incluir ainda longas aventuras de barco, contato com índios, focagem de jacarés, contato com os manauaras e um banquete de frutas típicas como o taperebá, o ingá, o tucumã, marajá, mangostão, biribá, rambutã e peixes deliciosos como o tucunaré, tambaqui e o matrinxã.

O tambaqui é um peixe de pequeno a médio porte. Pode ser preparado cozido ou refogado. Mas nada se compara ao prato oferecido em Manaus e chamado de “costela de tambaqui”.

O tucunaré pode chegar a 15 quilos. Sua carne pode ser preparada assada ou em caldeiradas.

A piranha habita todos os rios amazônicos. O perigo está em ser tirada do anzol. Possui dentes afiados e mandíbulas salientes. O caldo de piranha-vermelha é afrodisíaco.

Manaus tem um conjunto arquitetônico preservado, de deixar os “gringos” de queixo caído. Basta fazer um tour guiado pela cidade para se notar a expressão do pessoal avermelhado pelo sol.

Eles fazem questão de clicar todas as fachadas, filmar detalhes das escadarias e dos vitrais, folheando guias turísticos que informam a importância desses lugares num passado não tão distante.

A cidade é banhada pelas águas do Rio Negro, que por conta da salinidade, não atrai pernilongos e os famosos “carapanãs” que tiram o sossego em outras cidades da Amazônia.