22 de dezembro de 2025
Geral

Bauru não tem pista de trânsito rápido

Luciana La Fortezza
| Tempo de leitura: 3 min

Campeã em acidentes, a avenida Nações Unidas não é uma via de trânsito rápido. Quem se surpreende com a informação deve entender que recebem essa denominação apenas vias como as marginais Tietê e Pinheiros, em São Paulo. Por lá, a velocidade máxima permitida é de 90 quilômetros por hora. A avenida cartão-postal de Bauru é considerada uma via arterial, ou seja, é preferencial e tem cruzamentos semaforizados.

No trecho com marginais na Nações Unidas, a velocidade máxima permitida é de 60 quilômetros por hora. O Código de Trânsito Brasileiro prevê até 70 quilômetros por hora. O limite máximo é ainda menor (que os 60 quilômetros por hora) na parte mais baixa da avenida, por conta da característica ainda mais urbana, explica Aníbal dos Santos Ramalho, engenheiro civil e gerente de planejamento e de operações viárias da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb).

“Trabalhamos com 60 quilômetros por hora porque sabemos que, em 95% dos acidentes com velocidade acima de 60, a pessoa morre”, comenta. Informações sobre cada tipo de via e suas respectivas velocidades podem ser conferidas no artigo 60 do Código de Trânsito Brasileiro, disponível também na Internet.

Ainda de acordo com Ramalho, a própria frota, que em Bauru chegou 176.201 unidades em março, ajuda a reduzir a velocidade adotada pelos motoristas na cidade. “O que nós, da Emdurb, pretendemos é diminuir a velocidade média exatamente para evitar acidentes fatais”, conclui.

‘Pistas de aceleração’

Sem pistas oficiais de arrancada em Bauru, grupos da cidade elegeram algumas vicinais da região para testar velocidade e controle dos carros. Semanalmente, eles se reúnem. Tem ainda quem tire rachas na próprias rodovias, munidos com radiocomunicadores. Todos reivindicam espaço para praticar o esporte.

“São dados comprovados. Com pistas de arrancada, os rachas diminuem em 80%. Todo mundo merece um pouco de atenção”, comenta o empresário Antonio Carlos Ibanhez. Em duas ocasiões, ele enviou proposta à Administração Municipal para reformar, manter e explorar o Sambódromo para essa finalidade. Até hoje, não obteve resposta.

De acordo com Ibanhez, tem quem compre carcaça de veículos em leilões para montar carros de arrancada, cujo investimento supera os R$ 30 mil. Sem ter onde rodar, disputa pega em ruas, rodovias e vicinais.

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Rodovia já sai do papel com velocidade máxima

A velocidade máxima de uma rodovia não é algo pensado após a conclusão das pistas. Pelo contrário. Ela é fixada no projeto e serve de base para os outros cálculos de engenharia. Aliás, o custo do projeto também depende disso. “Temos que levar em conta quesitos como geometria, visibilidade, largura de vias, lombadas”, explica Archimedes Raia Jr., engenheiro e professor pesquisador da UFSCar.

Quando a velocidade máxima é estabelecida, também são levados em consideração questões como velocidade praticada, particularidades da via e índice de acidentes, acrescenta a assessoria de imprensa do DER. O Código de Trânsito prevê velocidades diferenciadas de acordo com a classificação da via e tipo de veículo (carro e caminhão). Em virtude das particularidades e do índice de acidentes, trechos também têm velocidade diferenciada.

“A localização das placas, a distância e onde elas devem ficar, tudo isso é regulamentado. Uma rodovia com velocidade de projeto alto, como é o caso dessas autobans na Alemanha, é caríssima. As curvas são imperceptíveis, não tem lombada”, comenta Raia Jr.

Literatura

No livro “Devagar”, Carl Honoré mostra que a cultura da velocidade teve início durante a Revolução Industrial, foi impulsionada pela urbanização e cresceu desenfreadamente com os avanços da tecnologia no século 20. Com o mundo em plena atividade, o culto à velocidade nos impeliu ao colapso.

O livro traça a história da relação de pressa com o tempo e atrela as conseqüências e charadas de viver nessa cultura acelerada. Ainda de acordo com a sinopse da obra, percebendo o preço que pagamos pela velocidade implacável, pessoas no mundo todo estão reivindicando o tempo delas e desacelerando o passo. Uma revolução “devagar” está acontecendo.