13 de dezembro de 2025
Bairros

Projeto com pista de skate no Vitória Régia divide opiniões

Luiz Beltramin
| Tempo de leitura: 4 min

Apesar da idéia nem ter ido para o papel, o debate já é prático. A possibilidade de construção de uma pista de skate dentro do parque Vitória Régia, em área próxima à concha acústica, se por um lado é visto com entusiasmo por praticantes da modalidade e pela própria prefeitura, por outro causa estranheza em alguns moradores, preocupados com questões ambientais, entre outros supostos problemas que a pista traria.

Idealizada pela prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Obras, a construção do equipamento, confirma Eliseu Areco Neto, titular da pasta, ainda não tem o projeto totalmente concebido e necessita de discussão sobre a área que deve ocupar após sair da prancheta.

Entretanto, defende o secretário, o Vitória Régia seria ideal para abrigar a pista, segundo ele, para incentivar o “multiuso” da área do parque. “Isso (provável pista) iria de encontro à necessidade de dinamismo do parque”, atribui.

Apesar do entusiasmo com o esboço do projeto, o secretário concorda que a construção da pista no Vitória Régia depende de muita discussão, seja entre diferentes repartições da administração municipal, moradores e os próprios skatistas. “Se a pista será ou não no parque, isso precisa ser discutido. É preciso trocar idéias, até para que sejam sugeridos outros possíveis locais”, admite.

Um dos itens que levantam a discussão sobre o sobe-e-desce dos skates numa rampa ao lado da concha acústica seria a questão ambiental. Localizada ao lado de uma nascente, o espaço, de acordo com o chefe da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), Valcirlei Gonçalves da Silva, perderia parte do potencial de drenagem, em caso de uma pista de concreto. “Essa área precisa de um mínimo de impermeabilização”, observa o secretário, que também incentiva o debate. “Oficialmente ainda não temos nada”, antecipa. “Mas estamos discutindo, verificando possibilidades. Ainda aguardamos para ver se realmente existe essa intenção”, pondera.

Ontem, funcionários da Semma começaram a retirar mudas de árvores nativas que haviam sido plantadas há poucos dias, justamente no local que está nos planos dos idealizadores da pista de skate. A remoção das mudas, confirma Valcirlei, serve tanto para a possibilidade de viabilização do projeto como também para corrigir um erro no planejamento do plantio, admite.

O secretário frisa que parte das mudas será remanejada para outras áreas do mesmo parque. Segundo o titular da Semma, a readequação do projeto se justifica para propiciar área verde e espaços mais arejados para os freqüentadores.

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Moradores contra

Ouvidos ontem de manhã pela reportagem, alguns moradores próximos à região se mostraram contrários à instalação do dispositivo esportivo no parque. “É uma pena que as mudas sejam tiradas. Acho que a pista tem de ser construída em outro lugar”, reprova a dona de casa Onorina Souza da Silva, moradora da região há 16 anos.

Para ela, além do contraste do pavimento de concreto da pista com o verde característico do recinto público, a tranqüilidade do local também estaria, acredita, ameaçada. “Vai juntar muita molecada”, cita. “Além disso, teria problema com o trânsito, com riscos de atropelamentos”, argumenta a moradora, sobre possibilidade de acidentes na avenida Nações Unidas, que passa ao lado da área em questão. Já a funcionária pública Suzana Libório Godoy enumera outro fator contrário à instalação da pista. Moradora da região, ela, que trabalha no setor da cultura, diz que atividades do gênero já enfrentam dificuldades estruturais no recinto e a mescla dessa modalidade esportiva com eventos e área verde seria conflituosa. “Sou a favor da pista, mas não no Vitória Régia”, opina.

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Secretário quer ‘popularizar’ o esporte

Para o secretário de Obras, Eliseu Areco Neto, um dos fatores positivos da obra seria “a desmarginalização da modalidade esportiva”. Praticado sob as vistas de uma fatia maior da população, em área centralizada, o skate, na avaliação de Areco, seria um instrumento de interação social.

“O esporte ainda é marginalizado porque é praticado em áreas isoladas”, diz, ao citar a atribuição, por grande parte da população, do skate a uso de drogas ou outros comportamentos ilícitos. “A modalidade praticada em área freqüentada por famílias tira o esporte da marginalidade. O parque é para uso de qualquer classe social”, avalia.

Skatista há 11 anos, o comerciante Istimison Sojo Júnior, de 21, também aposta na centralização das pistas como forma de, segundo ele, transformar o conceito negativo do esporte entre maior fatia da população.

“Hoje o skate já não é tão mal visto”, pondera. “Mas uma pista em área central faria com que não fôssemos vistos com maus olhos por uma parte ainda maior de pessoas”, relaciona o praticante da modalidade que, para deslizar em pistas, precisa colocar o “pé na estrada”.

“Para usar pistas a gente viaja, geralmente, para Marília, que tem um espaço muito bom, ou Santa Cruz (do Rio Pardo)”, cita Júnior, que na semana passada praticou o esporte em pista de referência em São Bernardo do Campo.

“Lá, pessoas de diferentes classes sociais e idades dividem o mesmo espaço. Muitos idosos tiram fotos na pista”, detalha o skatista, acreditando que a obra faria de Bauru - que tem esportistas profissionais da modalidade fora da cidade, como Wolney dos Santos e Leonardo Giacon, respectivamente na Europa e São Paulo - um potencial pólo regional do esporte.