20 de dezembro de 2025
Geral

Entrevista da Semana: Marcos Serra Negra Camerini

Ana Paula Pessoto
| Tempo de leitura: 9 min

Dr. Automóvel, a fera dos motores

Imagine o futuro de uma criança que, aos 4 anos de idade, pede um alicate para o Papai Noel. Não podia ser diferente. Marcos Serra Negra Camerini cresceu e se tornou um grande engenheiro. Um especialista dos motores.

O Dr. Automóvel, como é conhecido por sua coluna semanal do suplemento AutoMercado & Cia., do Jornal da Cidade, nasceu em São Paulo onde cursou a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Jovem responsável e aplicado, ainda recém-formado ele teve a oportunidade de escolher a empresa onde trabalhar, porque foram muitos os convites.

A trabalho, viajou várias vezes para fora do País e chegou a morar no exterior onde aumentou sua bagagem sobre engenharia mecânica. Foi um dos responsáveis pelo projeto do motor do Monza e tem a patente, nacional e internacional, do motor a álcool pré-vaporizado. Hoje, trabalha em sua própria fábrica bauruense, onde desenvolve triciclos destinados para uso de fábricas e lazer.

O trabalho voluntário é outra paixão para o engenheiro. “Não o faço para preencher os espaços vazios dos dias, mas para evoluir internamente fazendo o bem para as pessoas”, diz. Leia a entrevista onde ele também fala sobre hobbys, família e projetos.

Jornal da Cidade - Como surgiu a oportunidade de ser colunista do Jornal da Cidade?

Marcos Serra Negra Camerini -Isso aconteceu há quatro anos. Daqui a duas semanas eu escrevo a coluna de número 200. Na verdade, propus a idéia aos responsáveis porque eu recebia muitas consultas sobre como proceder com a manutenção do carro. As pessoas leigas e com dificuldade de mecânica vinham até mim tirar suas dúvidas. A minha idéia foi fazer algo que fosse acessível a quem não entende nada sobre mecânica mas que, ao mesmo tempo, também atendesse os técnicos. Procurei um meio termo. É por isso que, às vezes, faço textos leves e suaves e, outras, mais técnicos. Enfim, procuro atender pessoas de todos os níveis para que elas possam ter noção de como funciona seus carros e, principalmente, não sejam enganadas em oficinas.

JC - Você começou sua vida em São Paulo?

Marcos - Nasci, cresci e estudei em São Paulo. Eu fiz faculdade de engenharia mecânica na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Sempre gostei da área e sempre quis me dedicar a projetos e a mexer com veículos.

JC - Essa paixão vem desde a infância?

Marcos - Para você ter idéia, quando eu tinha 4 anos de idade, pedi e ganhei um alicate de presente de Natal. Meu pai trabalhava na indústria automobilística e também gostava dessa área. Eu sempre o acompanhava e mexia nas coisas, ajudava mesmo. Aprendi a dirigir com 10 anos de idade no colo dele em um jipe e, até hoje, ando de jipe.

JC - O que o trouxe a Bauru?

Marcos - Minha esposa é daqui. Sempre trabalhei em montadoras multinacionais e por questões profissionais tive que trabalhar muito. Morei por dois anos na Alemanha; trabalhei em Detroit, nos Estados Unidos; morei em Toronto, no Canadá... Ficava muito tempo no Exterior e deixava minha família sozinha. Minha esposa, com criança pequena, acabava ficando em São Paulo enquanto eu viajava. Ela era de Bauru. Assim, decidimos que, já que eu precisava viajar, mudaríamos para a cidade onde ela tinha família e amigos. Seria melhor para minha família ficar em uma cidade do Interior enquanto eu estivesse fora. Ou seja, acabei me tornando bauruense por opção. Estou aqui desde 1992.

JC - Como foi o início da sua carreira profissional?

Marcos - Ainda na faculdade, eu trabalhei como estagiário na parte de engenharia de protótipos, desenvolvimento de produtos, em uma fabricante nacional de veículos militares, a Engesa. Era, justamente, a melhor parte porque desenvolvíamos veículos novos. Eu participava do projeto do cálculo dimensional de tanques de guerra, anfíbios, trator florestal, caminhão florestal. Eu me dediquei muito porque sempre adorei essa área. Quando me formei, recebi convite da empresa para continuar, mas tinhas muitas outras propostas e escolhi trabalhar na engenharia de motores da GM porque era o que eu gostava de fazer. Inclusive, projeto motores até hoje e já tive um escritório de engenharia onde projetávamos apenas motores, também para montadoras. Temos patente, nacional e internacional, do motor a álcool pré-vaporizado.

JC - Deve ter sido um aluno muito dedicado.

Marcos - Foi por isso que recebi convites de várias empresas assim que me formei. Enquanto meus colegas estavam naquela onde de tomar todas, bagunçar e fazer festinhas até se formarem para depois procurar emprego, eu fiz o contrário. Estagiei, e dentro da área. Quando sai da faculdade, era um recém-formado com três anos de experiência. Então, acho isso muito importante e dei esse conselho aos meus filhos.

JC - O escritório que você cita era em São Paulo?

Marcos - Sim. Bauru nunca teve mercado de trabalho para minha área. Fiquei 12 anos indo para São Paulo na madrugada da segunda-feira e voltando na sexta, à noite. Aqui, só consegui trabalhar dando consultorias para empresas de fora como a Volvo e outras empresas boas que demandam trabalho de consultoria, mas não o trabalho efetivo. Hoje, atuo aqui porque montei minha própria indústria há uns dois anos e meio.

JC - O tempo que passou fora do País foi um divisor de águas em sua carreira?

Marcos - As experiências profissionais foram excelentes porque eu tinha nível gerencial e passei para nível de diretoria. Fui para trabalhar como um representante da indústria do Brasil. Era gerente da GM do Brasil, isso na Alemanha e no início da década de 80. Trabalhei como engenheiro residente do projeto do motor do Monza. Também atuei em uma fábrica de pistões, a Mahle. Eu era gerente geral de engenharia e desenvolvimento de produto. Nesse tempo, ia de três a quatro vezes, ao ano, para a Alemanha. Era um mês lá e um aqui, praticamente. Fiquei nessa vida até 1989. Depois, montei uma empresa de consultoria em São Paulo que funcionou até 2000. Nesse período, dávamos consultoria para a Mercedes Benz, Volvo, GM, Scania, Ford...

JC - Nunca levou a família nas viagens?

Marcos - Minha esposa morou comigo na Alemanha, porque ainda não tínhamos filhos. Durante o final de semana era só passeio, conheci muitos lugares e fiz lindas fotos.

JC - Qual é o seu objetivo com a fábrica?

Marcos - Ela é um projeto que desenvolvi junto com os investidores, em São Paulo. O intuito é desenvolver veículos pequenos e leves para fazer o transporte interno dentro de fábricas e para levar pessoas em áreas de lazer. São triciclos movidos a pedal que levam de 30 a 200 quilos. Futuramente, teremos versão motorizada. Hoje, temos bons clientes na região e já vendemos para todo o País. As vendas estão crescendo e teremos que ampliar a fábrica. Estamos pleiteando, junto à prefeitura, uma área para a construção de um prédio próprio dentro do Distrito Industrial. Nosso produto é totalmente fabricado em Bauru e não temos apoio de ninguém. Para você ter idéia, nem a rua da fábrica é asfaltada.

JC - Você está satisfeito com a vida que “projetou”?

Marcos -Estou realizado, sim. No lado familiar também sou um homem feliz. Meus filhos estão formados, trabalhando e encaminhados. Isso é o que mais importa. Em primeiro lugar, eu mostrei bastante o lado humano da vida para eles. Procurei servir de exemplo. Acho que a melhor forma de se educar um filho é sem essas frescuras modernas de não poder bater ou proibir. Acredito que a palavra que você mais deve dizer a um filho é não. Quando você diz não, você mostra a direção para ele do que é bom ou ruim. Mas, tudo deve ser feito com exemplos. Se eu falava para não fumar, eu também não o fazia. Sempre mostrei a eles que precisamos nos doar às pessoas e sermos honestos.

JC - Você tem um lado filantrópico?

Marcos - Sim. Trabalho com minha esposa há dez anos. Temos uma entidade chamada Associação Beneficente Esperança (ABE). Somos um grupo, hoje de 11 voluntários, que fazem um atendimento espiritual. Damos conforto a quem necessita e cirurgias espirituais são feitas pelos mentores. Esse atendimento também é feito junto ao grupo Irmã Sheilla. O que doamos para os outros é uma gotinha diante do oceano que recebemos. Então, essa é uma forma de retribuir as bênçãos que recebo do plano espiritual todos os dias. Visitamos doentes no hospital, damos conforto espiritual às famílias, oferecemos um café, leite, roupas, cantamos para eles... Enfim, oferecemos coisas simples, mas que o hospital não está preparado para dar.

JC - Onde a ABE está instalada?

Marcos - Usamos salas emprestadas pelo Paiva, por enquanto. Ele também nos doou um terreno no Bela Vista, onde vamos iniciar a construção de um ambulatório e de uma área para receber pessoas de outras cidades. Estamos procurando uma área maior para, quem sabe, crescer e construir um hospital. Hoje, o objetivo é arrecadar fundos para essa construção e vamos lançar uma campanha brevemente. Quem quiser saber mais sobre o assunto e fazer doações, pode ligar no telefone (14) 3018-6211 e para falar com o grupo Irmã Sheilla, o telefone é o (14) 3236-1363. É importante falar que nosso projeto também inclui planos de atendimento a pessoas carentes com escola para mães, profissionalizantes, treinamento com oficinas para adolescentes... Coisas que possam encaminhá-los ao primeiro emprego. É um projeto bem sério mesmo.

JC -Tudo o que tem rodas é com você?

Marcos - Costumo dizer isso (risos). Participo do Jeep Clube Bauru com meu amigo Uriel. O gostoso das aventuras com jipes é enfrentar os obstáculos dos matos e passar por eles. Também participo de um clube de motociclistas chamado “Bodes do Asfalto”. É um grupo familiar. Pegamos nossas motos estradeiras e nos aventuramos em belos passeios. Também gosto muito de fotografar. Comprei umas máquinas boas na Alemanha e fiz fotos lá que renderam uma exposição em São Paulo. Agora fotografo os passeios e as viagens que fazemos. As últimas fotos que fiz foram do casamento de minha filha, há uma semana.

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Perfil

Nome: Marcos Serra Negra Camerini

Idade: 56 anos

Local de nascimento: São Paulo

Signo: Áries

Esposa: Lilia

Filhos: Mônica, Rafael e Daniel

Hobby: Aventuras com moto e jipe, fotografia e mecânica

Livro de cabeceira: Atualmente é “Colônia Capela”

Filme preferido: “Gladiador”

Estilo musical predileto: Country e rock do bom

Time: Corinthians

Para quem dá nota 10: Aos que se dedicam voluntariamente ao próximo

Para quem dá nota 0: À corrupção e falta de ética

E-mail: marcos@marcoscamerini.com.br