Justamente na Quaresma, quando os católicos mais tradicionalistas se abstêm de comer carne vermelha às quartas e sextas-feiras e o consumo de ovos aumenta, as galinhas caipiras botam menos. Segundo produtores rurais, a queda chega a 40% e reflete no preço do produto nas prateleiras, que aumenta.
Pedro de Oliveira Guimarães cria este tipo de ave há 30 anos na área rural de Bauru. Para ele, há uma grande diferença entre as galinhas caipiras e as de granja, criadas em larga escala para comercialização. “Não tem comparação. A carne da caipira é bem mais saborosa e macia porque não a encheram de ração. O ovo também é diferente: a gema é mais avermelhada”, descreve.
No entanto, quando chega a Quaresma, Pedro já sabe o que vai acontecer: o ovo diferenciado e saboroso não estará, todos os dias, no ninho quando ele for recolher a produção. Ele conta que a mudança no comportamento dos animais é perceptível. “Normalmente a galinha bota ovo quase todo dia, mas na Quaresma, diminui. Tem vezes que elas ficam até três dias sem botar”, relata.
Renato Streger, proprietário de uma granja que produz ovos caipiras, também percebe o decréscimo na produção. “Tenho 300 galinhas. Elas colocam, em dias normais, 280 ovos. Nesta época, diminui bastante, cerca de 40%”, diz.
Questionados sobre o motivo da “greve” das aves, os produtores disseram acreditar que o motivo é a diminuição da luminosidade. A experiência de anos no campo aponta para o motivo correto.
A veterinária Maria da Conceição Pampani explica que a diminuição da postura das aves durante a Quaresma tem uma explicação climática e biológica. “Na época em que começa o outono, a luminosidade diminui, e ela é um estímulo para a postura. Com os dias mais curtos e com menos luminosidade, a galinha bota menos”, explica.
Outro fator que influencia na postura é a troca de penas das aves, que ocorre durante todo o verão. “Ocorre um estresse do organismo das aves. O animal fica irritado porque coça. Têm aves que param de cantar e, no caso da galinha, ela diminui a postura”, acrescenta Pampani.
Essas alterações atingem todos os tipos de galinhas, mas como as aves criadas em larga escala são confinadas em galpões onde as luzes artificias ficam acesas todo o tempo, são menos afetados pelas mudanças na duração do dia.
Com o aumento da procura e a diminuição da oferta, os preços dos ovos tendem a aumentar na Quaresma. Streger afirma que, como seu produto é orgânico, o preço já é um pouco mais elevado. Uma dúzia custa R$ 4,00. “Como o nosso produto é diferenciado e já um pouco mais caro, nós preferimos não aumentar o preço nessa época. A gente recupera esse prejuízo ao longo do ano”, relata.
No entanto, no mercado, a cotação do ovo subiu. No atacado, a alta foi de 24,3% desde janeiro. No varejo, o reajuste foi de 9,41% desde o início do ano.