22 de dezembro de 2025
Saúde

Etiqueta hospitalar

Ana Paula Pessoto
| Tempo de leitura: 5 min

Quando um familiar ou um amigo próximo adoece e precisa de internação, o desejo solidário da visita vem à tona. Mas, em se tratando de saúde, todo cuidado é pouco. Além de não falar alto pelos corredores, como já é sabido por todos, especialistas aconselham a como se comportar dentro de um hospital.

Não se trata de imposição social ou postura ditatorial, mas de lembrar que a sua postura pode tanto ser capaz de ajudar o tratamento de saúde quanto de interferir no pronto restabelecimento da pessoa querida que está internada.

A consultora de etiqueta social Glorinha Braga Ortolan afirma que, como em qualquer outro ambiente, cuidados e medidas básicas de educação devem ser tomadas dentro de um hospital. “Não estender a mão para cumprimentar o doente e não beijá-lo ajudam a evitar contaminação de uma pessoa para outra”, ensina.

Para não constranger o hospitalizado, o ideal é que homem não visite mulher e mulher não visite homem, a não ser que sejam da família ou amigos íntimos. Sendo apenas um conhecido, o melhor é dirigir-se ao hospital, procurar a central de atendimento, perguntar pelo estado de saúde do doente e se pode ajudar. Em caso de resposta negativa, retirar-se. “Mesmo se o acompanhante insistir para o visitante entrar, o indicado é agradecer e não entrar”, diz Glorinha.

Quanto à duração da visita, a consultora de etiqueta sugere os “três esses”: surgir, sussurrar algumas palavras e sumir. “Chegue, converse um pouco, sempre falando baixo, e despeça-se”, enumera.

Esses cuidados podem ajudar o visitante a evitar erros na hora da visita, como ofertar flores e alimentos. Isto porque, apesar de alegrar qualquer ambiente, as plantas não são presentes indicados para pacientes internados porque podem conter germes nocivos à saúde.

“O controle de infecção hospitalar também alerta para o cheiro forte cheiro que muitas plantas exalam e que pode causar mal-estar em quem recebe a visita ou em outros pessoas, no caso do quarto ser coletivo”, explica a gerente de enfermagem Ediana Treisler Melchiades, do hospital da Unimed de Bauru.

Da mesma forma, mesmo sabendo qual é o doce preferido do amigo ou parente hospitalizado, não se deve levar alimentos sem autorização médica e conhecimento do serviço de nutrição e dietética da instituição.

Caso o visitante não queira ir até o hospital de mãos abanando, pode-se levar um presentinho, desde que o objeto seja de conhecimento e autorização do médico que acompanha o paciente. Revistas ou livros podem ser boas sugestões.

Outro equívoco é sentar-se no leito junto ao acamado, aponta a gerente de enfermagem Marta Peixoto Duarte, do Hospital São Lucas. “Com o intuito de agradar e ajudar na recuperação do internado, tem gente que exagera e pode até mesmo complicar o quadro do paciente”, argumenta.

Um elemento simples que pode contribuir para a piora do quadro da pessoa internada é não lavar as mãos antes e depois do contato com o paciente, aponta o serviço de atendimento ao usuário e gerência de enfermagem do Hospital Estadual de Bauru (HE).

Outros descuidos envolvem desrespeitar os horários de visitas definidos pela instituição para o melhor cuidado do paciente e a não-atenção com resfriados ou outros tipos de doenças transmissíveis.

Já a entrada de crianças menores de 12 anos não é permitida em conformidade com o Estatuto da Criança e do Adolescente. Marta salienta que tal visitação é desaconselhável porque os pequenos podem estar no período de incubação de doenças exantemáticas, comuns nessa faixa de idade. “Antes de manifestarem as lesões da catapora, por exemplo, elas já estão transmitindo a doença”, argumenta.

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Cuidados se estendem aos bebês

Não é frescura. Algumas pessoas acreditam que os cuidados indicados aos pais de recém-nascidos são desnecessários ou capricho. Enganam-se. “Ao nascer, o bebê está livre da flora que seria normal para ele e, com o tempo, vai adquirindo a flora da mãe e do ambiente. Portanto, todo cuidado é pouco”, afirma a gerente de enfermagem Marta Peixoto Duarte, do Hospital São Lucas.

Por mais que sejam fofos, é preciso conter a vontade de beijar os bebês porque eles ainda não desenvolveram a proteção necessária contra as bactérias alheias. Também por essa razão, quem vai visitá-los não pode estar doente. Pessoas gripadas, com furúnculos e pequenas infecções em volta das unhas não devem permanecer no mesmo ambiente e muito menos carregar o recém-nascido.

“As outras pessoas podem pegá-lo no colo, desde que lavem as mãos e ele pese mais do que dois quilos e meio. Com menos peso, o risco de infecção é maior”, aponta Marta.

A dentista Érica Alves SantAnna sabe bem quais são os cuidados necessários que se deve tomar com um bebê recém-nascido. João Pedro tem 1 ano e hoje está forte e pronto para receber visitas, mas nem sempre foi assim.

“Tive problemas na gestação e meu filho precisou nascer antes da hora. Prematuro, ele ficou internado durante 25 dias e decidimos que ele não teria contato com visitas para prevenir infecções”, relata Érica.

Sob a orientação da pediatra, durante os primeiros cinco meses de vida, Érica e o marido, Amadeu Renato Pereira, decidiram reduzir ao máximo as visitas que são comuns quando mãe e filho chegam da maternidade.

“Além de estar frágil como todo recém-nascido, ele nasceu prematuro e no auge do contágio da epidemia da gripe H1N1. Explicamos os motivos para a família e os amigos, muitos entenderam, mas sempre há aqueles que consideram tais cuidados como frescuras”, lembra a mãe.

Apesar das críticas, a entrevistada acredita ter feito a coisa certa para preservar a saúde de seu filho, que hoje brinca forte e saudável.