19 de dezembro de 2025
Geral

Faltam 11 creches para zerar demanda

Tisa Moraes
| Tempo de leitura: 7 min

Mães que precisam trabalhar fora e não têm condições de pagar babá ou creche particular para cuidar de seus filhos pequenos podem enfrentar dificuldades se precisarem matriculá-los na rede municipal de ensino. Atualmente, 1.241 crianças entre 4 meses e 5 anos aguardam na lista de espera por uma vaga nas escolas municipais de educação infantil integral (emeiis) ou creches conveniadas da prefeitura.

Toda a demanda reprimida só seria atendida, hoje, se a Secretaria Municipal de Educação dispusesse de mais 11 escolas de porte semelhante ao das já existentes - que acolhem uma média de 105 alunos cada. O custo estimado para a construção das unidades seria algo em torno de R$ 16,5 milhões.

Até o momento, a parcela atendida é de 5.256 crianças que frequentam as 22 emeiis e 28 creches conveniadas com o município. E, ainda que a prefeitura tenha criado 944 novas vagas nos últimos dois anos, o número total de excedentes não diminuiu em nem metade deste montante no período.

Uma das explicações que justificam a dificuldade em ?zerar? a demanda é o crescimento populacional, mas outros dois fatores também colaboram para o aumento exponencial da procura pelas escolas infantis, segundo avaliação da secretária municipal de Educação, Vera Caserio. "Além do nascimento de mais crianças, as mulheres estão saindo mais de casa para trabalhar e recorrendo, com maior frequência, ao suporte das creches. Outro motivo é a confiança que elas passaram a ter no trabalho desenvolvido dentro dessas unidades", aponta.

Segundo Vera, com o desaparecimento do estigma que se abatia sobre a imagem das creches, mais famílias estão confiando os cuidados com suas crianças à prefeitura. "É uma mudança positiva, porque mostra o resultado do nosso empenho em dar uma educação de qualidade, mas também cria uma situação nova (o aumento da demanda), com a qual estamos tentando lidar", frisa. O próprio entendimento da gestão atual em investir recursos nas unidades já existentes mais do que na abertura de novas também impede a expansão de vagas nas creches municipais em ritmo mais acelerado.


Medidas


Entre as medidas para tentar reduzir o tempo de espera por uma vaga - problema antigo que remonta a gestões anteriores - estão a construção de mais quatro emeiis, além de reforma e ampliação de outras oito, que deverão ser reinauguradas ainda neste ano. Segundo o prefeito Rodrigo Agostinho, a intenção é ?zerar? toda a demanda até o final de sua gestão, em dezembro de 2012.

"Mas é possível que ocorra uma nova demanda, mais regionalizada e que ainda não temos como dimensionar, por conta do crescimento do número de unidades habitacionais em Bauru", adianta.


De acordo com Vera Caserio, atualmente as regiões onde se concentra a maior demanda por vagas são os bairros periféricos mais populosos, como o Jardim Nova Esperança, Parque Santa Edwirges, Pousada da Esperança 1 e 2, Parque Jaraguá, Vila São Paulo e Núcleo Gasparini, além de Ferradura Mirim e Jardim Tangarás. Estes dois últimos bairros já têm projeto de construção de escolas sendo desenvolvidos, assim como o Jardim Ivone. Entretanto, no Núcleo Nobuji Nagasawa (Bauru 2000), os moradores ainda aguardam a inauguração - inicialmente prevista para março - de uma unidade de ensino infantil que ainda está longe de ser concluída.

Por enquanto, a Secretaria de Educação garante, para maio, a reinauguração de duas emeiis que estão sendo ampliadas no Parque Jaraguá e no Núcleo Octávio Rasi. "E vamos abrir uma nova Emeii no Centro, no prédio onde funcionou temporariamente a Emei (Escola Municipal de Ensino Infantil) Stélio Machado Loureiro, que voltará para suas dependências originais, ao lado da Igreja Santa Terezinha, nos próximos 20 dias", adianta Vera.

O prédio onde hoje está a emei, na rua Rodrigo Romeiro, é alugado e a ideia da secretaria de educação estudar a viabilidade de locar também outros imóveis para acolher crianças a partir de um ano e oito meses. "Nesta idade, as dependências das emeiis não precisam contar com berçário, lactário e solarium e, portanto, não precisam de muita reforma", completa a secretária.

Outra solução encontrada pela secretaria foi abrir sete novas salas dentro de emeis para atender alunos de emeiis. Os professores e auxiliares de creche previamente aprovados em concurso já foram chamados e devem ser contratados nos próximos dias, segundo a Secretaria de Educação. As aulas estão previstas para começar em maio e devem atender uma demanda de 150 alunos.

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Sem vagas, pais têm de se desdobrar


A auxiliar de cozinha Roseli Ribeiro Soares, 24 anos, só consegue sair para trabalhar tranquila quando sua mãe, que mora do Ferradura Mirim, chega pela manhã em sua casa, no Jardim Nicéia, para cuidar de sua filha de apenas 10 meses. O deslocamento acontece todos os dias e, sem este esforço materno, Roseli não teria como manter sua prole de quatro filhos.

Os mais velhos estão matriculados em uma Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) e participam de um projeto educacional no período da tarde, mas a caçula Esthefany não tem onde ficar, já que a única creche do bairro, mantida por uma organização não-governamental (ONG), não consegue absorver todas as crianças. "Minha mãe vem ficar com ela. Acaba deixando as coisas dela de lado, mas sem essa ajuda, eu não teria como trabalhar."

Os pequenos moradores do bairro que não conseguem vaga na creche da ONG precisam atravessar a rodovia Marechal Rondon para se deslocar até o Jardim Europa, onde fica a escola municipal de educação infantil integral (emeii) mais próxima. Mas, segundo adiantou o prefeito Rodrigo Agostinho, está em seus planos construir uma unidade de ensino no Jardim Nicéia até o final de sua gestão.

Já no Núcleo Nobuji Nagasawa (Bauru 2000), os moradores aguardam a inauguração de uma emeii prometida pela prefeitura para março deste ano. O prazo já expirou e a construção, orçada em cerca de R$ 1,5 milhão, está longe de ser concluída.

Mãe de Felipe, 2 anos, Thalita Cristina Jovêncio, 23 anos, espera conseguir uma vaga na unidade. A escola fica bem ao lado de sua casa, mas por conta do atraso na inauguração, ela continuará gastando R$ 75,00 por mês para custear o transporte do filho até a creche mais próxima, no Beija-Flor.

"Tenho uma filha de 7 anos e, até os 5, ela também estudava na escolinha do Beija-Flor. Todo esse tempo eu paguei perua para ela poder estudar. É um gasto que pesa no bolso, mas não tem outra saída até a escola daqui ficar pronta", reclama.

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Expectativa é eliminar problema até 2012


O prefeito Rodrigo Agostinho afirmou que, até o final de sua gestão, em dezembro de 2012, pretende ?zerar? a demanda por vagas em toda a rede municipal de ensino, incluindo as escolas municipais de educação infantil integral (emeiis). Segundo ele, uma das dificuldades para reduzir este prazo, além da restrição de recursos, está o processo demorado para a contratação dos projetos por meio de licitação, bem como imprevistos que vão desde abandono das obras por parte das empresas vencedoras até as condições climáticas.

"Quando chove, a construção para. E não é raro ter problemas com as construtoras, que alegam falta de dinheiro para concluir a obra. Até o aquecimento do setor da construção civil também se torna um empecilho, já que em algumas situações é difícil encontrar gente para trabalhar", detalha o prefeito. De acordo com ele, depois de extinta toda a demanda, a tendência é de que a prefeitura comece a suspender os repasses às creches conveniadas e passe a atender todas os alunos da rede pública com infra-estrutura própria.

Mas, conforme o próprio Rodrigo acredita, novos desafios deverão surgir antes de este momento chegar. Em sua avaliação, as mais de 6 mil casas e apartamentos que estão em construção em vários bairros de em Bauru deverão criar pressões por vagas em determinados setores da cidade, as denominadas demandas regionalizadas.

"Já estamos estudando esta realidade e sabemos que haverá um impacto na rede (de ensino) por conta do deslocamento desta população dentro da cidade. Mas ainda não dá para saber exatamente qual a demanda, em termos de emeiis e emeis, que essas regiões que estão sendo povoadas irá gerar", assinala.