22 de dezembro de 2025
Bairros

Luiz Edmundo Carrijo Coube: a avenida dos prédios públicos

Wanessa Ferrari
| Tempo de leitura: 13 min

Quem te viu e quem te vê. Desde que deixou de levar o nome do ex-governador Adhemar de Barros e passou, com imponência, a se chamar Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube, há 29 anos, a avenida que liga a avenida Nações Unidas à rodovia Bauru-Jaú nunca mais foi a mesma.

No lugar da terra, uma capa lisa de asfalto. No lugar de escuridão, 69 postes com iluminação dupla. No lugar de dois quilômetros de terrenos desertos, o Hospital Estadual de Bauru (HEB), a sede do 4º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPMI), a base do Samu, as dependências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e, é claro, meia dúzia de bares, incluindo o do famoso Ubaiano.

Mas transformações ocorreram devagar, sempre impulsionadas pela necessidade. A primeira delas, foi o asfalto. Ele veio por insistência da Fundação Educacional de Bauru (FEB), atual Unesp, assim que a faculdade se mudou para o atual endereço. Consta, inclusive, que a FEB ajudou a construir parte do trecho da avenida.

Junto da Fundação, vieram os alunos. E com eles, o Ubaiano, sua barraquinha de cachorro quente e o famoso "pé queimado", uma bebida a base de conhaque e outros ingredientes secretos.

Com o tempo, a pista foi asfaltada e, em 2002, a avenida ganhou outro presente: o Hospital Estadual de Bauru (HEB), que atende pacientes de 68 cidades da região e, atualmente, está entre os dez melhores hospitais do Estado, segundo Pesquisa de Satisfação dos Usuários do SUS (Sistema Único de Saúde), promovida pela Secretaria de Estado da Saúde.

O movimento na avenida aumentou e uma onda de protestos por parte de universitários e da comunidade desencadeou em sua reforma, que custou R$ 952.023,50.

"Esta reforma possibilitou que fizéssemos da Edmundo Coube uma avenida pioneira. Ela foi projetada com canteiros largos, pensando no verde, na funcionalidade da circulação viária e, principalmente, nas pessoas que a frequentam", conta Adelmo Bertussi, assessor técnico da Divisão de Projetos Viários da Secretária Municipal de Planejamento (Seplan).

O resultado foi uma avenida bem arborizada e iluminada, com direito a pista de cooper, ciclovia, calçadas e canteiros largos, além de uma academia ao ar livre, inaugurada recentemente.

Para lá, também se mudaram a sede do 4º BPM/I, em 2006, e a base do Samu, em 2007.

"A avenida ganhou vida noturna. Com a presença do quartel, os moradores da redondeza sentem-se seguros em andar por aqui", ressalta o tenente-coronel Nélson Garcia Filho, comandante do 4º BPM/I.

Interessante é notar que a Edmundo Coube abriga, em sua grande maioria, prédios públicos, e mesmo com tantos atrativos, o comércio ainda é tímido e se resume à meia dúzia de bares nas proximidades da Unesp. Além disso, a grande área verde que margeia a avenida, conhecida como floresta urbana, ainda resiste, impávida e colosso.

Com tantos atrativos, fica o convite: que tal caminhar no fim da tarde pela bela avenida de calçadas largas, apreciando a vista da floresta urbana e, no fim do trecho, dar uma chegadinha no bar do Ubaiano, para descobrir, in loco, o motivo de sua fama?

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Quem foi


Se hoje Bauru tem em sua prateleira de troféus a Faculdade de Engenharia, a Faculdade de Ciências e o Colégio Técnico Industrial (CTI), ambos no território da Universidade Estadual Paulista (Unesp), muito se deve a Luiz Edmundo Carrijo Coube.

Isso porque todas essas instituições foram instaladas na cidade durante sua gestão de 7 anos como presidente da Fundação Educacional de Bauru (FEB). Sendo assim, nada mais justo de batizar a avenida que dá acesso ao atual prédio do câmpus da Unesp de Bauru com seu nome.

Entretanto, Luiz Edmundo não chegou a conhecer as atuais instalações de suas consquistas e, talvez, tampouco o antigo formato da avenida que o homenageia. Ele morreu jovem, aos 51 anos, vitimado por um enfarte, em 19 de dezembro de 1981. Contudo, cinco décadas foram suficientes para que ele realizasse muitos feitos.

Filho do fundador da Tilibra, João Coube, Luiz Edmundo soltou seu primeiro choro no território da Cidade Coração de São Paulo, em 12 de agosto de 1930. Quando criança, estudou no Instituto de Educação Ernesto Monte e no Colégio Guedes de Azevedo. Depois, formou-se engenheiro civil pela Universidade Mackenzie, em 1952, aos 22 anos, e fez vários cursos em nível nacional e internacional.

Com tanta bagagem educacional e cultural, conquistou a presidência da Associação dos Engenheiros de Bauru e do Departamento de Água e Esgoto (DAE), e foi responsável pela construção da casa de bombas para captação de água do Rio Batalha e por mais uma estação de tratamento de água.

Apoiado por Alcides Franciscato, foi eleito prefeito no período de 1973 a 1976 e durante sua gestão focou principalmente no prolongamento da Avenida Nações Unidas e no desenvolvimento do Distrito Industrial. Além disso, foi o criador do Serviço de Previdência dos Municipiários, atual Funprev.

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Hospital Estadual


Desde o início de 2002, a avenida Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube não é mais a mesma. Isso porque foi nessa época que se iniciou a construção do Hospital Estadual de Bauru (HEB).

A princípio, as mudanças foram sutis. Tudo começou com o aumento no número de passageiros dos ônibus que fazem as linhas das proximidades e, pouco a pouco, o prédio com 23 mil metros quadrados de área construída começou a aparecer.

Junto dele, vieram as primeiras barraquinhas de ambulantes, interessados em aproveitar o surgimento da nova clientela.

"A princípio, eles se fixaram na parte de frente do hospital, do lado oposto da avenida. Ali, nem calçada tinha. Era um areião só. Depois, com a interdição da pista para duplicação, foram transferidos para a lateral do HEB, na Nações Unidas, onde estão até hoje", lembra Patrícia Farias Pedroso, supervisora do serviço de atendimento ao usuário do HEB, que trabalha no local desde sua inauguração, em novembro de 2002.

Outra mudança notada por ela foi o aumento no fluxo pessoas que passam pelo hospital, que atende a pacientes de 68 municípios e está entre os 10 melhores do estado, de acordo com a Pesquisa de Satisfação dos Usuários do SUS (Sistema Único de Saúde), promovida pela Secretaria de Estado da Saúde.

E, com o aumento no prestigio e no número de serviços prestados no local, foi necessária a reformulação da avenida onde ele está instalado.

"Antes, o asfalto era bem ruim. Alguns trechos eram bem esburacados. Agora, além das melhorias na pista, a avenida ganhou boa iluminação, ótima infraestrutura e passou a dispor de pista de caminhada, academia ao ar livre e ciclovia. Tenho amigos que saem do trabalho aqui no HEB e vão direto para a avenida se exercitar", conta.

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Xô, sedentarismo


Falta de espaço para a prática de esportes não é mais desculpa que justifique o sedentarismo para os moradores do Núcleo Presidente Geisel e Jardim Colonial. Isso porqueConfira a programação das igrejas de Bauru a avenida Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube foi pioneira em oferecer aos moradores dos bairros adjacentes uma ciclovia e uma pista de cooper com toda infraestrutura necessária para a prática de esportes, além de uma academia ao ar livre, inaugurada recentemente.

E os moradores do local e as pessoas que trabalham nas redondezas sabem aproveitar os benefícios: seja de manhã, de tarde ou de noite, sempre tem gente por lá.

Um exemplo são os amigos Rafael Henrique de Souza, 17 anos, e João Victor Andrade Torquato, 16 anos, que não se intimidaram com o sol que fazia na tarde da última quarta-feira e foram malhar nos aparelhos da academia ao ar livre.

"Faz mais ou menos um mês que venho diariamente aqui. Acho uma boa alternativa para quem quer manter o corpo em dia sem gastar com academia particular", avalia Rafael Henrique.

Já João Victor frequentava o local pela primeira vez, incentivado pelo amigo, e aprovou a estrutura.

"Moro no Jardim Carolina, onde também tem uma academia ao ar livre, mas nunca havia frequentado antes. Me surpreendi com a qualidade dos aparelhos", elogia.

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Floresta urbana


Poucos bairros de Bauru desfrutam do privilégio de ter um pedacinho de cerrado preservado, e a avenida Luiz Edmundo Carrijo Coube é uma delas.

Em sua margem, uma reserva ambiental de 598 mil metros quadrados concentra, segundo pesquisas, três tipos de tatu, tamanduás-mirins, jaguatiricas, gatos e cachorros do mato de menor porte, gambás, vários tipos de roedores, uma infinidade de aves e muitos saguis. Além disso, raros pés de pequi e sucupiras pretas compõem o cenário.

A área é o último grande fragmento florestal de área urbana e tem tamanho proporcional a 60 campos de futebol.

Difícil acreditar, mas em 2008 mais da metade deste espaço já esteve ameaçado em nome do progresso. É que a lei permitia que 50% da área fosse vendida e repartida pelos respectivos proprietários. Por sorte ou bom senso, a prefeitura comprou 10% da área em 2009, como forma de compensação ambiental exigida em lei pela ampliação da avenida Nações Norte. Em 2010, o suplício teve fim e a prefeitura entrou com pedido de desapropriação das terras.


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Universitários ecológicos


Praticar atividades físicas, economizar combustível e, de quebra, ajudar o meio ambiente. Estes são os motivos que levam dezenas de universitários a adotarem a "magrela" como meio de transporte para chegar até a universidade.

E neste ponto, a avenida Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube é exemplo. Uma das principais vias de acesso à Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru, a avenida foi a primeira a disponibilizar aos seus frequentadores a opção de ir do Hospital Estadual até a Universidade pedalando e com segurança por meio da ciclovia.

Vitor Fray Buschinelli, 22 anos, estudante do terceiro ano do curso de engenharia mecânica, sabe aproveitar o recurso. Ele é natural de Santos, litoral de São Paulo, e veio para Bauru para estudar, mas deu um jeito de colocar a bike na mala.

"Moro aqui nas proximidades e, para mim, é muito mais fácil ir e voltar da aula de bicicleta. Uso o carro somente em dias de chuva", afirma.

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Ubaiano

Em um bar simples com mesas de sinuca, confortáveis cadeiras de plástico, copos do tipo americano e vidros de salsicha em conserva e amendoim sobre o balcão é que Ubaiano, 71 anos, a maior personalidade da avenida Luiz Edmundo Carrijo Coube, construiu sua fama.

Naquela região, não há quem não o conheça. "Fora do País também! Tem gente que me conhece até no Japão e no Chile", acrescenta, com o sorriso que lhe é característico.

Ubaiano pode ser considerado patrimônio cultural da avenida. Ele colocou os pés naquelas terras enlameadas em 1980, quando a faculdade ainda era chamada Universidade de Bauru, por insistência dos alunos.

Antes disso, Ubaiano vendia cachorro quente em uma carrocinha que sempre estava parada perto do antigo prédio da faculdade, na Vila Falcão. Foi lá também que Ubaiano deixou de ser Feliciano Soares de Oliveira.

"Os alunos que me botaram esse apelido e eu não dei contra. Eles acham que quem empurra carrinho é baiano. Mas eu sou o baiano mais mineiro que existe", conta, rindo.

Com sua simpatia e uma ajudinha das doses de pé queimado, uma bebida de sua invenção que mistura conhaque com alguns ingredientes secretos, Ubaiano passou da carrocinha de cachorro quente para uma barraca de madeira, depois de metal e, atualmente, é proprietário do "escritório" mais famoso das redondezas, reduto de produção cultural e principal local de socialização dos alunos da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

O nome da avenida onde seu escritório está localizado, sempre foi o mesmo, mas sua aparência... quanta diferença!

"Antes de ter asfalto, a avenida era só terra e mato. Perdi as contas de quantas vezes tive de ajudar a desatolar ônibus que ficava encalhado por aqui. E para ir embora, então... Aqui, só passavam quatro coletivos por dia. Várias vezes perdi o último e tive de ir a pé até a Vila Falcão, onde eu morava", lembra, saudoso.

Outra diferença são os horários e costumes do bar, alterados por conta dos novos vizinhos do Condomínio Jardim Colonial.

"Antes, a gente abria às 7h e virava a noite aqui. Chegamos até a rifar um jegue. Era uma festa só. Agora maneiramos um pouco... o bar fecha às 23h. Mas no outro dia abre de novo!", frisa, animado.

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Polícia 24 horas

Antes de ser reformada, em 2004, protestos reivindicando mais segurança marcaram a história da avenida Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube. Atualmente, a realidade é outra. Isso porque a instalação da sede do 4º Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I), em setembro de 2006, inspirou confiança aos frequentadores da avenida.

"A avenida ganhou vida noturna. Isso porque, com o quartel por aqui, famílias, casais de namorados e até mesmo grupos de amigos passaram a recorrer à infraestrutura da avenida para a prática de atividades físicas. Hoje, a Luiz Edmundo tem uma movimentação intensa e sadia", avalia o tenente-coronel Nélson Garcia Filho, comandante do 4º BPM/I.

Segundo ele, o quartel foi transferido para o atual endereço por conta da possibilidade de construir um prédio com estrutura física adequada, já que a antiga instalação, na rua Araújo Leite, era antiga e pouco funcional.

"Agora nossa sede é moderna e funcional. Temos espaço para treinamento, salas de reunião e a possibilidade de expandir conforme a necessidade", aponta ele, que conta que, em breve, a polícia técnica será incorporada ao terreno ao lado.

Além disso, como o quartel acomoda a Força Tática, a facilidade de acesso e deslocamento que a avenida proporciona somou pontos a favor.

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É urgente!


Quando um acidente acontece, o tempo entre a chamada de socorro e o atendimento deve ser o menor possível. Pensando nisso, a avenida Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube foi a escolhida para abrigar uma base do Samu, em setembro 2007.

"A ideia era encontrar um terreno que fosse da prefeitura e que estivesse localizado próximo do maior número de rodovias possível. Por isso escolhemos a Edmundo, que dá fácil acesso a rodovias Comandante João Ribeiro de Barros e Marechal Rondon", justifica Laudicéia Rodrigues Crivelaro, diretora da divisão técnica do Departamento de Urgência e Emergência e Unidades de Pronto Atendimento (Deupas).

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Desbravando o deserto


"Era uma rua de terra mal iluminada e de difícil acesso. Quando chovia, alagava e tudo ficava enlameado". Esta é a descrição da avenida Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube no início da década de 80, feita por Silvio Carlos Decimone, funcionário da Universidade Estadual Paulista (Unesp) desde 1979, época em que a faculdade ainda se chamava Fundação Educacional de Bauru (FEB).

Ele pisou pela primeira vez na avenida que cruza com as quadras finais da Nações Unidas em 1981, quando a FEB foi transferida da Vila Falcão para o prédio onde funciona atualmente.

"Na época, nem a Nações era de terra. O Geisel estava em fase de construção. Era tudo deserto por aqui", lembra.

Por conta disso, todos os dias, enfrentava uma saga para chegar ao trabalho: ele saía para almoçar às 11h30, chegava em casa às 12h, almoçava em 30 minutos e retornava para o trabalho.

"Por conta disso, tive até problema de estômago", conta, sobre a fase de adaptação.

Para chegar até a faculdade, geralmente, utilizava uma moto. Atualmente, se mudou para perto do trabalho.

"É bem melhor. Mas tudo mudou muito por aqui. Hoje a avenida está bonita e movimentada e a Unesp cresceu bastante", compara.