22 de dezembro de 2025
Geral

Entrevista da Semana: Antônio Eufrásio de Toledo Filho

Ana Paula Pessoto
| Tempo de leitura: 9 min

Com um iPad nas mãos e muitas histórias do passado em mente, o bom humor e o dom para conduzir um bom bate-papo foram as características marcantes da entrevista com o coordenador do conselho gestor da Instituição Toledo de Ensino (ITE), Antônio Eufrásio de Toledo Filho, conhecido pelos muitos amigos como Toledinho. De família pioneira no ensino superior do Interior de São Paulo, ele cresceu no universo acadêmico: "A ITE é pioneira no ensino superior do Interior", ressalta ele. Na cidade de Paraisópolis, em Minhas Gerais, o menino Toledinho viveu o início de sua infância. Mas foi em Bauru que ele cresceu, teve seus sete filhos e fez muitos amigos.

E quando o assunto gira em torno de amizades, na juventude, Toledinho era considerado rei das festas e eventos, principalmente na época em que trabalhou como revendedor da Brahma. Tal popularidade lhe rendeu muitos convites, recusados, para ingressar na vida política: "A política acaba gerando muito atrito e gosto de ter muitos amigos".

Visionário e sempre em busca de novos projetos, Toledinho fez fama também no esporte. Quando vice-presidente do Noroeste, ele causou polêmica com suas ideias inovadoras publicadas nas manchetes do jornal Folha de São Paulo. "Em uma conversa informal com um jornalista, eu disse que o negócio estava tão feio que os jogadores precisariam pular de paraquedas, usar chuteiras coloridas, entrar com bola fluorescente e luzes apagadas no campo... Falei dentro de um contexto, mas quase todas aquelas coisas acabaram acontecendo", lembra.

O orgulho da luta do irmão Márcio Toledo, morto na Ditadura Militar, a família, boemia e a atual adesão à vida saudável também fazem parte da entrevista que você lê abaixo.

Jornal da Cidade - Então é um mineirinho!?

Antônio Eufrásio de Toledo Filho - Viemos de Minas Gerais e a última cidade em que vivemos foi Ouro Fino. Viemos para cá em 1950 com a intenção de criar uma entidade educacional na cidade porque, tradicionalmente, a família já trabalhava com colégios e meus pais eram professores. Tínhamos um colégio interno em Minas. Nossa vinda para Bauru acabou gerando a Instituição Toledo de Ensino (ITE), mas, antes, meus pais montaram uma escola de nível técnico de química industrial e construção de pontes e estradas. Quando aqui cheguei, tinha apenas 9 anos.

JC - Lembra-se dos primeiros passos da construção da ITE?

Toledinho - Sim, foi uma época de muita luta dos meus pais. Houve até uma determinada oposição de algumas pessoas de prestígio da cidade que não acreditavam, na época, que Bauru pudesse ser uma cidade com ensino universitário. Hoje, Bauru é pioneira no ensino superior no Estado de São Paulo.

JC - Uma família pioneira no ensino superior do Interior e com muitas histórias, imagino.

Toledinho - Sim, principalmente quando se fala em faculdade de direito, por exemplo, que é a mais antiga da ITE e data de 1952. Na época, era tudo muito sofisticado e difícil para se abrir um curso superior. A nossa faculdade foi autorizada por Getúlio Vargas. Na época, o negócio era tão importante que somente o presidente da República podia autorizar. Já o reconhecimento do curso foi feito por Juscelino Kubitschek. Então, são dois vultos históricos que passaram por nossa trajetória. Outra figura importante é a de Ulisses Guimarães, o primeiro diretor da faculdade, além de nosso primeiro professor de direito constitucional.

JC - Você tem ideia de quantos alunos se formaram nesses quase 60 anos da ITE?

Toledinho - Olha, ideia eu não tenho não, mas podemos citar uns 40 mil formados, no mínimo.

JC - Você é um desses diplomados?

Toledinho - Sim, sou economista. Depois do direito, a ITE foi abrindo outros cursos, como administração e ciências econômicas.

JC - Você praticamente nasceu dentro da ITE, mas quando começou o seu trabalho efetivo na empresa?

Toledinho - A trabalhar mesmo eu comecei em Lins, na escola de engenharia que hoje é a Unilins e que também foi criada por meus pais. Lá, eu trabalhei como secretário, isso na década de 60. Depois, voltei a Bauru e trabalhei na ITE até 1981, quando passei a trabalhar como revendedor da Brahma.

JC - Revendedor da Brahma?

Toledinho - Isso. Fiquei nesse emprego de 1984 a 1995 porque tive vontade de experimentar alguma coisa longe do ambiente familiar, digo profissionalmente.

JC - Foi uma boa experiência?

Toledinho - Deu muito certo. Tive muitas experiências, principalmente sobre a vida, já que estive longe do respaldo da família. Aprendi demais. Foi uma época muito gostosa, feliz e muito útil na minha formação como pessoa, porque a própria natureza do negócio exige muito contato humano. Sendo um negócio de cerveja, acabei vivendo em ambientes festivos e conheci muita gente. Tornei-me uma pessoa mais ou menos pública porque precisava estar em tudo que era festa, quer dizer, não precisava estar, mas eu ia porque era muito gostoso (risos).

JC - Você também promovia eventos nessa época, certo?

Toledinho - Muitos, principalmente com meu grande parceiro Renato Zaiden. Fizemos coisas maravilhosas, como o Viva Bauru, Igapó Rock Show, no Vale do Igapó, Motocross, que na época era muito popular no Brasil, entre outros. Era praticamente um evento por semana. Mas lá pelo ano de 1997 eu voltei para a ITE e foi um novo desafio.

JC - Novos projetos?

Toledinho - O maior desafio é manter a tradição aliada à renovação. Estamos sempre com novos projetos. Recentemente, transformamos-nos em centro universitário, o que nos dá muita liberdade de ação. Temos vocacionado a ITE para o mercado de trabalho.

JC - Você foi convidado a entrar na política algumas vezes?

Toledinho - Várias vezes, mas nunca aceitei. Fui convidado para todos os cargos que você puder imaginar, mas acho que não tenho vocação, embora seja considerada uma pessoa social e com muitos amigos, como um bom mineiro que não fica nervoso e não briga (risos). A política acaba gerando muito atrito e gosto de ter muitos amigos.

JC - Fiquei sabendo que você foi um visionário do futebol!

Toledinho - Eu jogava futebol amador, agora essa história de ser um visionário eu vou te contar. Fui vice-presidente do Noroeste e, uma vez, em uma conversa informal em um jantar com um jornalista da Folha de São Paulo, que estava na cidade por causa de um jogo com time grande, eu disse que entendia que o futebol é um espetáculo e, da maneira como as coisas estavam caminhando, com cada dia menos público nos estádios, precisaríamos fazer alguma coisa para atrair os torcedores. Na conversa, eu disse que o negócio estava tão feio que os jogadores precisariam pular de paraquedas, usar chuteiras coloridas, entrar com bola fluorescente e com as luzes do estádio apagadas... Mas disse tudo isso dentro de um contexto.

JC - E ele publicou tudo (risos).

Toledinho - Como ele não tinha assunto para a segunda-feira, a conversa virou manchete do caderno de esportes da Folha. A frase era a seguinte: "Futuro presidente do Noroeste vai soltar goleiro de paraquedas". A repercussão foi imensa. Virei assunto nacional. Agora, por incrível que pareça, tudo, menos a história do goleiro de paraquedas, está sendo feito. Placas de campo estão sendo exploradas, eu dizia que os nomes dos jogadores precisavam estar em letras grandes nas camisas, que as meias não deviam ser da mesma cor... Falei uma série de coisas que acabou acontecendo. Quando eu falei tudo aquilo para ele, minha referência era o basquete americano, que é um espetáculo e atrai toda a família. Mas, na época, o Diário de Bauru chegou a fazer um editorial contra mim dizendo que Bauru ficaria marcada como "terra de louco" (risos).

JC - Sempre foi ligado ao esporte. Como é essa relação hoje?

Toledinho - Hoje, eu me cuido muito. Houve uma época que eu estava me excedendo na bebida e cigarro, por conta das festas. Inclusive o Tibiriçá, um colunista do JC da época, escreveu que se o carro do Toledinho estivesse na garagem de casa era sinal de que em Bauru não havia festa naquela noite. E eu era casado, imagine se não me complicou a vida (risos).

JC - De boêmio a adepto da vida saudável?

Toledinho - Chega um tempo em que é preciso se cuidar para manter a disposição. Quando eu fiz uns 50 anos decidi que deveria parar de fumar e de beber. É claro que, quando vou a uma festa eu tomo alguma coisa, mas não um litro. Faço academia, pedalo aos fins de semana... Sinto mais disposição para trabalhar, brincar com meus netos, que são minha maior paixão. Quando estou com eles, estou no céu. Sou um cara tranquilo e o meu maior patrimônio são meus amigos. Tenho muito prazer em sempre sorrir.

JC - Como foi a morte de seu irmão, Márcio Toledo, assassinado na Ditadura?

Toledinho - Era meu irmão caçula. A militância intensa foi a opção de vida dele. Na hierarquia do movimento, ele foi o segundo ou o terceiro homem a liderar no País e a opção dele foi não se exilar. Meu irmão é mais do que um herói. Ele teve conforto e estrutura de família, mas largou tudo por um ideal e sumiu. Ninguém sabia por onde ele andava e foi morto por um companheiro. Na chamada revolução, havia muitas facções de esquerda e eles chegaram a conclusão de que tinham que ganhar no grito. E o Márcio achou que isso não iria dar certo e começou a defender a tese de que era melhor ganhar politicamente, já que estavam perdendo com a violência. Porém, um companheiro seu mais radical achou que ele estava fraquejando e baleou meu irmão. Tenho muito orgulho da opção dele porque ele fez o que quis e, de alguma forma, acabou derrubando a Ditadura Militar. Se ele estivesse vivo, certamente estaria no poder.

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Perfil


Nome: Antônio Eufrásio de Toledo Filho

Idade: 68 anos

Local de Nascimento: Paraisópolis/MG

Signo: Sagitário

Esposa: Maria Helena

Filhos: Roberta, Renata, Nathália, Priscila, Marcelo, Thiago e Rodrigo

Hobby: Leitura de jornal

Livro de cabeceira: "Minutos de Sabedoria", de Torres Pastorinho

Filme preferido: "Picnic"

Estilo musical predileto: Música dos anos 60 e 70

Time: São Paulo

Para quem dá nota 10: Para minha mãe, Maria do Carmo Leite de Toledo

Para quem dá nota 0: Para aqueles que não sonham

E-mail: aedobauru@uol.com.br