20 de dezembro de 2025
Geral

Fungo de morcego pode ter matado homem

Vitor Oshiro
| Tempo de leitura: 5 min

Fungos de excrementos de morcego presentes em um sótão podem ter matado um homem de 53 anos em Bauru. Apesar de não haver laudo conclusivo sobre a morte, o médico que cuidou do caso aponta que há fortes suspeitas de que a causa do óbito seja histoplasmose - doença que surge após a inalação do respectivo fungo. Segundo a família e o hospital em que ficou internado, a vítima esteve em um sótão antes de apresentar os primeiros sintomas, ambiente que deve ser evitado para se precaver da doença.

A morte foi registrada no último dia 17 no hospital Beneficência Portuguesa. Na ocasião, o coordenador de atendimento de uma agência bancária, Jorge Tochihiro Sawamura morreu após cinco dias de internação. Os familiares, que preferiram ter a identidade preservada, contam que os primeiros sintomas apareceram no dia 8 deste mês, quando a vítima, aparentemente saudável, apresentou falta de ar e pressão baixa.

Quatro dias depois, ele foi internado com uma pneumonia severa. De acordo com a família, ficou poucas horas no quarto. Como seu estado já estava bastante avançado, os médicos o encaminharam para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Beneficência.

Lá, ele ficou mais quatro dias sendo medicado com o pulmão bastante comprometido, porém, não respondeu ao tratamento. A evolução rápida e agressiva do quadro surpreendeu os médicos. "Ele tinha uma pneumonia crítica. Foi medicado com antibióticos de amplo espectro, entretanto, não respondeu à medicação. O caso chamou a atenção pelo quadro intenso e muito agudo", relata o médico infectologista Marcelo Pesce Gomes da Costa, um dos profissionais que acompanharam o caso.

A hipótese de que a doença tenha sido causada por fungos presentes em fezes de morcego foi aventada uma vez que a vítima limpou um sótão dias antes do aparecimento dos primeiros sintomas.

Os familiares confirmam a limpeza do local, que além de ser bastante fechado e de pouca ventilação, servia de abrigo para morcegos.

O infectologista explica que, com esse histórico, "há uma forte suspeita" de que Jorge Sawamura tenha sido vitimado por histoplasmose. A doença é transmitida pelo fungo Histoplasma capsulatum, contido em excrementos de morcegos e também de aves.

Segundo o médico Marcelo Pesce, o contágio ocorre apenas pela inalação desses fungos, que são excretados pelos animais e podem ficar circulando no ar de determinados ambientes, geralmente muito fechados.

Após inalados, esses fungos alcançam os alvéolos pulmonares e causam inflamações. No caso da vítima, o problema, que começou no pulmão, se espalhou para o restante do corpo.

?Violência? da doença


Desde o aparecimento dos primeiros sintomas até a morte de Jorge Sawamura, passou-se pouco mais de uma semana. Foi exatamente essa velocidade e a "violência" da doença que alertaram os médicos.

O infectologista Marcelo Pesce, contudo, explica que essa evolução depende de vários fatores, que vão desde o organismo do paciente até a exposição ao fungo. "A sensibilidade e suscetibilidade da pessoa contribuem muito. Tem gente que entra em contato com o fungo e não desenvolve a doença. Existem outros que desenvolvem, porém, são tratados. A exposição abundante e o organismo influenciam em como o problema irá evoluir".

Um dos grandes problemas é o quadro inflamatório de cada paciente. O médico relata que a inflamação nada mais é do que o organismo tentando combater o agente invasor, porém, a intensidade com que ocorre essa reação é determinante.

"O organismo, muitas vezes, não sabe modular a inflamação. A reação é tão forte que o próprio combate acaba prejudicando o paciente. Com isso, a inflação se espalha pelo corpo e o quadro fica crítico, podendo levar, inclusive, à morte", finaliza Marcelo Pesce.


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Sem laudo


Apesar de os médicos que acompanharam o caso considerarem a histoplasmose como provável causa da morte de Jorge Tochihiro Sawamura, não há qualquer laudo que comprove o fato. E não haverá.

Segundo o infectologista Marcelo Pesce, não foi feita necropsia na vítima, sendo, desse modo, impossível afirmar que os fungos das fezes de morcego foram inalados pelo paciente. "Como ele estava naquele estado, também não foi feita a biópsia pulmonar, que poderia comprovar a doença", conclui.

Como não foi o único a auxiliar no tratamento, o infectologista também não soube informar o que constou no atestado de óbito, porém, "em casos assim, geralmente aparece que o motivo foi pneumonia. Mas como havia fortes indícios, o médico pode assinar dizendo a doença específica".

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Ambientes fechados, como
sótãos, devem ser evitados


Conforme citado pela família da vítima, poucos dias antes dos sintomas se manifestarem, Jorge Sawamura havia limpado o sótão de uma casa que seria vendida. Fechado e propício a ser utilizado como abrigo de morcegos, o ambiente é um dos que devem ser evitados para se precaver da histoplasmose.

De acordo com o médico infectologista Marcelo Pesce, assim como o sótão, é preciso evitar cavernas, bastante frequentadas por quem costuma praticar ecoturismo e que são utilizadas como moradia natural de morcegos.

Caso seja necessário adentrar em ambientes suscetíveis ao risco, a recomendação é de que sempre seja utilizada uma máscara protetora, uma vez que a forma de contágio do fungo é somente por meio da inalação.

Além das fezes de morcego, o fungo Histoplasma capsulatum também pode estar presente nos excrementos de aves como galinhas e pombos. Por isso, é preciso manter os mesmos cuidados em granjas e em ocasiões nas quais a terra é arada ou removida.

Segundo o médico Marcelo Pesce, se a pessoa se submeter a algumas dessas ocasiões, deve ficar atenta. Dependendo da exposição ao fungo, os sintomas mais comuns de uma complicação pulmonar grave são febre, dor de cabeça, tosse, falta de ar e dor no peito. "Caso a pessoa tenha se exposto em ambientes que possam estar contaminados e sentir algum desses sintomas, deve procurar um médico", finaliza.