Aperfeiçoar o visual não é pecado. Diferente de antigamente, quando quem passou por uma plástica se esquivava do assunto, hoje, mais e mais pessoas buscam o auxílio junto aos artistas do bisturi. Com maior procura, aumentaram as ofertas de clínicas especializadas. E mais: hoje, cirurgia plástica não é procedimento destinado apenas ao público da classe A. Em Bauru, não é diferente. Contudo, mais do que quantidade, qualidade é item essencial, afinal a obra modelada é de carne e osso.
Nesta fase, a procura aumenta para que as pessoas fiquem ‘bonitas’ no verão. Com 12 cirurgiões esteticistas devidamente homologados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) – há outros dois especialistas listados, mas que se dedicam apenas às operações reparadoras – a cidade se destaca no meio, arrancando elogios do próprio presidente nacional da entidade, o também especialista, Sebastião Guerra.
Segundo ele, o número ideal de cirurgiões plásticos para uma localidade é dentro da proporção 1 para 50 mil habitantes. Com 344 mil moradores, conforme o mais recente censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Bauru apresenta a confortável margem de um médico especialista em operações estéticas para 18 mil habitantes, quase o dobro.
“Bauru já é referência por causa do Centrinho, instituição muito conceituada, de muita reputação”, elogia. “Na parte estética, visto que o ideal é um cirurgião para 50 mil habitantes, Bauru tem um bom número de profissionais credenciados pela SBCP”, avalia o presidente da entidade.
Em meio a grande oferta, operações tradicionais como “turbinar” a comissão de frente entre as mulheres, lipoaspirações ou correções na face com alterações no nariz ou queixo, aparecem entre outras nem tanto, mas, nem por isso, inacessíveis ou novidade.
Entre esses procedimentos, está até mesmo a atual “coqueluche”, embora não seja algo recém-descoberto, a ninfoplastia, ou operação de redução dos lábios vaginais. A intervenção, que ganhou os holofotes da grande mídia nas últimas semanas em virtude da grande procura por parte de jovens, muitas adolescentes, é realizada em Bauru há alguns anos, sem qualquer alarde.
Eudes Soares de Sá Nóbrega é um dos especialistas que fazem esse tipo de operação, indicada em casos de hipertrofia dos lábios vaginais, há muito tempo na cidade. Para o cirurgião, o grande destaque em torno do assunto é reflexo dos próprios tempos modernos em que assuntos proibidos antigamente hoje são discutidos na mesa do jantar. “Temas como sexo ou diversidade hoje em dia são falados abertamente e estão muito na mídia. Por isso tanto barulho sobre a cirurgia”, atribui.
Moda ‘antiga’
Segundo ele, muitas mulheres faziam esse tipo de operação em outros tempos, mas, por se tratar de algo extremamente íntimo, preferiam manter o silêncio até mesmo dentro da família. “O constrangimento era maior”, compara, citando outro tipo de operação bastante procurada, a puboplastia, ou redução da dimensão da região pubiana.
Hoje o padrão de beleza é outro, observa o médico. Daí, de acordo com Nóbrega, um maior número de mulheres procura “emagrecer” a região pélvica. De acordo com o especialista, em muitos casos, o procedimento é precedido por operações para diminuição do abdômen. Quanto maior a barriga, mais evidente o púbis, ainda mais seguindo os atuais padrões.
“Pegue uma revista com fotos de mulheres nuas dos anos 1970 ou 1980 por exemplo e compare com atualmente. O considerado belo, antes, era a região pélvica com pelos. Hoje não é assim. Portanto, quanto menos saliente for (o púbis) melhor definido fica”, observa o cirurgião. “Os efeitos do tempo não escolhem onde agir”, atesta o médico, que assina artigo sobre o tema na Revista Brasileira de Cirurgia Plástica.
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Prudência e paciência ditam ‘arte final’
Alguns quesitos devem ser muito bem avaliados por quem deseja “entrar na faca” para ficar mais belo ou bela. É melhor analisar com calma, antecipam os especialistas e gente que se submeteu a cirurgias bem sucedidas, para que o sonho não se transforme em pesadelos.
Profissionais filiados à SBCP, garantem médicos e pacientes, são obrigatórios. Além disso, as condições dos centros cirúrgicos onde as operações acontecerão, equipe médica e instalações para internação também devem ser levados em conta, junto, obviamente, aos valores. Contudo, a velha máxima: cuidado para o barato não sair caro.
Nesses casos, comenta o também cirurgião plástico Antônio Assunção, não há melhor indicação do que o bom e velho boca a boca. “Pertencer à Sociedade (Brasileira de Cirurgia Plástica) é importante, mas não é tudo”, observa. O primeiro passo é conhecer alguém que tenha se submetido a uma cirurgia”, considera.
A confiança, para ele, sempre fala mais alto na hora de escolher a quem depositar as expectativas de um corpo mais belo. Há 23 anos no ramo, Assunção enfatiza que, mais que dar moldes a sonhos, uma plástica estética é um procedimento médico em quem não está doente. Portanto, com responsabilidade dobrada.
Ele detalha cuidados em alguns procedimentos. Numa cirurgia abdominal, exemplifica o médico, é preciso atenção redobrada no pós-operatório, evitando complicações oportunistas. “Incentivamos a deambulação com o paciente curvado (para frente) evitando assim problemas como a trombose venosa profunda”, ilustra.
Não há milagre, mas sim habilidade. Numa operação estética, destaca ainda o presidente da entidade que regulamenta a prática no País, o que rege mesmo não são os conceitos técnicos – obrigatórios – mas sim a destreza do cirurgião.
O esmero, contudo, não pode se confundir com prova de resistência. A implantação de próteses mamárias, exemplifica o médico, demanda pouco mais que uma hora de mesa cirúrgica. Melhorias na face ou pálpebras demandam 4h30 de bisturi. “Em casos de procedimentos em mais de uma região (do corpo) é recomendável pausa entre uma e outra. Para evitar o cansaço do cirurgião”, pondera.
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Toque mágico
Para a decoradora Simone Betzke da Silva, de 35 anos, que, há sete meses, foi submetida a cirurgias de redução de abdômen e implante de 410 mililitros silicone nos seios, a cirurgia é definida assim: “É como se a gente entrasse numa máquina e saísse diferente de dentro dela”.
Para ela, o novo visual propiciado pelas intervenções é a realização de um sonho que deve ser concretizado por qualquer pessoa que queira melhorar a aparência e, desta forma, estar de bem com o espelho e consigo mesmo, internamente. “Sempre tive uma vontade muito grande de ter uma barriga chapada. Felizmente realizei”, comemora ela, valorizando o incentivo e apoio que teve, inclusive ou principalmente, do marido.
Contudo, apesar do fascínio em entrar na cápsula imaginária e sair com um visual novinho em folha, ela está ciente de que o benefício das cirurgias plásticas não pode se tornar numa busca obsessiva pela perfeição “na faca”. “É preciso controlar o impulso”, aconselha. “Afinal, isso os próprios médicos dizem, por mais seguros que sejam as operações hoje em dia, existe um risco. Nossas vidas estão na mão deles (cirurgiões)”, acredita.
E foi justamente essa consciência que fez com que o produtor comercial Renato Luiz Posca, de 30 anos, pensasse um pouco mais antes de ir em busca da sonhada cirurgia abdominal. Freqüentador de academia e com uma rotina regrada para cuidar do corpo, apesar disso, ele não se contentou e buscou o auxílio do bisturi na busca por uma barriga perfeita.
Entretanto, após consulta com especialista, o que era tido como um balde de água fria na época, hoje, para ele, é um sinal de ética e competência médica. “Ele (o cirurgião) me disse que não havia o que fazer em termos de operação, que não era necessário”, comenta Posca, que sonhava com uma lipoaspiração.
Hoje, ele conta que busca formas alternativas para acabar com a insistente saliência, que não vai embora apesar de dieta e exercícios. “Eu emagreci 23 quilos. Fechei a boca e comecei a fazer academia. Mas sempre fica um pouquinho. No entanto, o médico disse que uma operação seria desnecessária para tirar algo insignificante. Eu correria um risco para resolver uma questão pequena”, compreende.
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Glamour não significa competência
O célebre ‘doctor’ Robert Rey, popularmente chamado de Doutor Hollywood, que tem um programa de TV onde realiza o sonho de beleza dos participantes, para cirurgiões que atuam fora dos estúdios televisivos, não passa de um engodo com grife de “médico milagreiro”. “Ele (Robert) muito mais desinforma do que informa”, considera o cirurgião bauruense Antônio Assunção.
Brasileiro, de origem humilde, mas adotado por família norte-americana, o dr. Hollywood ficou famoso por ser, como o próprio apelido diz, o “médico das estrelas”. Porém, observam especialistas, ele raramente é visto com a mão na massa. “Esse médico não tem credibilidade”, atesta o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Sebastião Guerra. “Ele aparece na clínica, mas normalmente são outros médicos que são mostrados durante operações”, salienta o chefe nacional da entidade.
Serviço
Médicos bauruenses filiados à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP): Agnaldo Elon Disarz, Antônio Guedes Alcoforado Assunção, Eudes Soares de Sá Nóbrega, José Sérgio Machado Neto (cirurgias reparadoras), Marcos da Cunha lopes Virmond (reparadoras), Marcos Lupércio Novo Silva, Telma Vidotto de Souza, Bashir Mussa Grazi, Victor Zillo Bosi, Cristiane Rocha, João Gabriele, Marlon Alexies Azevedo Barbosa, Rodrigo Delamano Criado, Carlos Eduardo Bertier. (Fonte: SBCP).
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Intervenção para as ‘pequenas correções’
Em Bauru, salienta o cirurgião João Gabriele, os pacientes se encaixam no perfil dos que buscam amenizar alguns sinais deixados pelo tempo.
Retiradas de bolsas de pele e gordura que se formam logo abaixo do queixo, aplicações de toxina botulínica, o popular “botox”, que ameniza linhas de expressão, como os chamados “bigodes chineses”, ao lado da boca, engrossam a lista de procedimentos líderes na procura entre os pacientes da cidade.
Contudo, observa o médico, Bauru segue a tendência nacional, que tem na inclusão de próteses mamárias e lipoaspirações o carro chefe em intervenções estéticas. Para Gabriele, essa busca pela aparência jovial não deve ser condenada. Pelo contrário. O visual, conceitua o especialista, deve ser condizente às próprias condições modernas, quando se vive mais e melhor. “Hoje se vive cada vez mais. O corpo biológico está cada vez mais ativo, independentemente se a pessoa tem 60, 70 ou 80 anos”, argumenta. “No entanto, a aparência continua envelhecendo, algo que não é coerente com a vitalidade observada hoje em dia”, conceitua o cirurgião.
Apesar das cirurgias modernas não exigirem mais as longas quarentenas de antigamente, o cuidado na escolha do profissional e métodos pré e pós-cirúrgicos deve ser minuciosa, reforça João Gabriele. “É fundamental que o paciente conheça o ambiente hospitalar onde permanecerá, verifique se há uma retaguarda, desde o anestesista até toda a equipe médica”, detalha. “Trata-se de um ato médico e que deve ser respeitado como tal”, decreta o médico, que vê com bons olhos os pacientes receosos perante os “apressadinhos”. “Quem chega dessa forma em meu consultório não vai se sujeitar a operar com qualquer profissional. Vai investigar”, aprova. “Esse perfil de paciente procura sempre o melhor”, considera o cirurgião, ex-aluno do renomado Ivo Pitanguy.
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Correção de barriga também é coisa de homem
Operações para corrigir marcas do tempo, que atingem o corpo “de cabo a rabo”, estão disponíveis em diversas clínicas da cidade. Contudo, apenas 12 profissionais do ramo estético e outros dois médicos são devidamente homologados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SCBP). Conforme a entidade, os valores mínimos para se realizar uma cirurgia de pálpebras, ou blefaroplastia, por exemplo, são de R$ 2 mil. Obviamente, ressalva o médico Sebastião Guerra, presidente da SBCP, os valores são relativos, dependendo da região do País, avaliação do cirurgião e particularidades de cada caso.
Os valores, acentua, ainda variam conforme o aparato hospitalar a ser contratado para o procedimento. Contudo, as cirurgias estão mais acessíveis a um publico maior e hoje não são mais privilégio das classes mais altas. Plástica não é mais “coisa de artista famoso”.
Quem aproveitou o embalo e concretizou o sonho de ter uma barriga enxuta, nem que fosse na base do bisturi, foi o radialista Jéferson Martins. Aos 30 anos, ele resolveu investir R$ 9 mil para retirar excesso de pele e gordura na região abdominal, além de uma “mini” lipoaspiração. “Abdiquei de muita coisa para juntar o dinheiro, mas valeu a pena”, comemora, já planejando os próximos passos, ou cortes. “Tenho vontade de tirar o excesso embaixo do queijo”, vislumbra.
Jéferson engrossa as estatísticas a favor dos homens que deixam preconceitos de lado e buscam a melhor aparência, nem que seja através de cirurgias.
Contudo, conforme recente levantamento do instituto Datafolha, sob encomenda da principal entidade reguladora entre os cirurgiões esteticistas no Brasil, as mulheres ainda predominam nos centros cirúrgicos, com 88% das intervenções.
Mais de 70% dos pacientes em procedimentos estéticos, conforme o mesmo estudo, curiosamente, não está na faixa mais idosa da população. A maioria das intervenções ocorrem em pessoas na faixa etária entre 19 e 35 anos, com 38% das operações.
Quanto custa
Operações para corrigir marcas do tempo, que atingem o corpo “de cabo a rabo”, estão disponíveis em diversas clínicas da cidade. Contudo, apenas 12 profissionais do ramo estético e outros dois médicos são devidamente homologados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SCBP). Conforme a entidade, os valores mínimos para se realizar uma cirurgia de pálpebras, ou blefaroplastia, por exemplo, são de R$ 2 mil. Obviamente, ressalva o médico Sebastião Guerra, presidente da SBCP, os valores são relativos, dependendo da região do País, avaliação do cirurgião e particularidades de cada caso.
Os valores, acentua, ainda variam conforme o aparato hospitalar a ser contratado para o procedimento. Contudo, as cirurgias estão mais acessíveis a um publico maior e hoje não são mais privilégio das classes mais altas. Plástica não é mais “coisa de artista famoso”.
Quem aproveitou o embalo e concretizou o sonho de ter uma barriga enxuta, nem que fosse na base do bisturi, foi o radialista Jéferson Martins. Aos 30 anos, ele resolveu investir R$ 9 mil para retirar excesso de pele e gordura na região abdominal, além de uma “mini” lipoaspiração. “Abdiquei de muita coisa para juntar o dinheiro, mas valeu a pena”, comemora, já planejando os próximos passos, ou cortes. “Tenho vontade de tirar o excesso embaixo do queijo”, vislumbra.
Jéferson engrossa as estatísticas a favor dos homens que deixam preconceitos de lado e buscam a melhor aparência, nem que seja através de cirurgias.
Contudo, conforme recente levantamento do instituto Datafolha, sob encomenda da principal entidade reguladora entre os cirurgiões esteticistas no Brasil, as mulheres ainda predominam nos centros cirúrgicos, com 88% das intervenções.
Mais de 70% dos pacientes em procedimentos estéticos, conforme o mesmo estudo, curiosamente, não está na faixa mais idosa da população. A maioria das intervenções ocorrem em pessoas na faixa etária entre 19 e 35 anos, com 38% das operações.