15 de dezembro de 2025
Regional

Sob comoção, corpos dos três irmãos são enterrados em Jaú

Tânia Morbi
| Tempo de leitura: 4 min

Tuca Melges/Comércio do Jahu

Os três irmãos foram enterrados ontem, no Cemitério Municipal Ana Rosa de Paula

Jaú - “Não me conformo, sempre via a Cecília cuidando do jardim. Só temos que lamentar”. A frase é de Cláudia Godoy, que há 10 anos possui uma corretora de imóveis em frente à casa dos irmãos mortos em Jaú (47 quilômetros de Bauru), e resume o sentimento de todos que passavam pelo local, na manhã de ontem, e reflete a perplexidade que tomou conta da cidade, depois que Francisco Miranda de Almeida Prado, 59 anos, assassinou as duas irmãs Ana Carolina, 66 anos, e Ana Cecília, 60 anos, e cometeu suicídio, no último fim de semana.

Na manhã de ontem os corpos dos irmãos eram velados no serviço funerário Luto Paulista, na vila Santa Maria, e foram sepultados por volta de 15h, no Cemitério Municipal Ana Rosa de Paula.

A corretora Cláudia Godoy descreve que as duas irmãs eram muito unidas, estavam sempre juntas nos cuidados com a mãe Ana Maria de Almeida Prado. A matriarca presenciou no domingo a morte dos filhos. “Elas cuidavam muito bem da mãe, estavam sempre com ela, quando não estavam na igreja. Eram muito religiosas”, afirmou Godoy. Até ontem, a mãe continuava sob cuidados médicos na Santa Casa de Jaú.

Entre as pessoas ouvidas pelo JC, todas descrevem a proximidade entre as irmãs e certo distanciamento do irmão Francisco Miranda, que cometeu o crime seguido de suicídio. Ele seria mais reservado, na descrição das pessoas que conheciam a família, e teria pouco contato com os vizinhos.  Apesar disso, a advogada Luciane Dela Costa Grizzi afirma que nunca presenciou um desentendimento ou discussão entre os irmãos. 

Há oito anos, a advogada trabalha em um escritório de advocacia localizado ao lado da residência da família. O advogado Antonio Lucas Ribeiro, que trabalha no mesmo escritório, foi quem atendeu ao pedido de socorro de Ana Maria, depois que ocorreu o crime.

A dona de casa Maria Aparecida Ardeu estava emocionada com o que ocorreu com a família Almeida Prado. Embora não resida próximo e nem tenha convivido com os irmãos, na manhã de ontem ela era mais uma das pessoas que ainda estavam sob o impacto da notícia envolvendo o duplo homicídio, seguido de suicídio.

Maria Aparecida conta que era próxima de Cecília, quando os filhos ainda estudavam na escola estadual Túlio Spíndola de Castro, onde Cecília foi diretora, antes de se aposentar. A irmã Ana Carolina também era professora aposentada. “Eu gostava muito dela. Meus filhos eram muito levados e davam muito trabalho na escola, então ela ia na minha casa, conversar comigo sobre eles. Era uma pessoa muito simples e boa”, conclui.

Durante o velório, o irmão mais velho e que não residia com as vítimas Rubens Pacheco Almeida Prado, não permitiu que a reportagem entrasse no local e nem conversasse com outros familiares. Um homem, que se identificou como advogado da família, disse que posteriormente os familiares se pronunciariam oficialmente sobre o ocorrido.

O delegado do 1º Distrito Policial de Jaú, Euclides Salviato Júnior, assumiu as investigações do caso, mas deveria enviar o inquérito para a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) ainda esta semana, já que o crime envolvia ambiente familiar e duas vítimas mulheres.

 

O crime

Francisco Miranda de Almeida Prado atirou nas irmãs Ana Carolina e Ana Cecília de Almeida Prado, e em seguida disparou contra a própria cabeça. O fratricídio seguido de homicídio ocorreu na casa onde os irmãos moravam com a mãe, Ana Maria de Almeida Prado no Centro de Jaú. Tradicional na cidade, a família envolvida na tragédia, conforme informações extraoficiais, enfrentaria discussões acerca de uma suposta partilha de bens.

Segundo o delegado Claudemir Ferracini, que atendeu à ocorrência na noite do crime, a pedido da própria família, os rumores ligados a uma suposta disputa de bens da herança da família serão reservados apenas às investigações.


 Mãe estava trancada em casa, diz advogado

O advogado Antonio Lucas Ribeiro foi a primeira pessoa a chegar ao local do crime, uma confortável residência localizada na rua Paysandu, no Centro de Jaú, logo após o duplo homicídio seguido de suicídio, que envolveu os irmãos Francisco Miranda de Almeida Prado, e as duas irmãs Ana Carolina  e Ana Cecília, na tarde de domingo. Foi ele que acionou a polícia, depois do pedido de socorro da idosa Ana Maria de Almeida Prado, mãe dos três mortos.

“Ela falava coisas sem sentido e dizia que o filho havia machucado as irmãs. Ela estava trancada dentro do quintal, sem conseguir sair. No momento em que estacionei o carro, ao que pareceu, foi quando ela conseguiu sair de casa e pedir socorro no portão”, lembrou o advogado.

Ribeiro também disse que a princípio achou que era apenas uma briga de família, mas percebeu a gravidade da situação ao ver uma das irmãs caída e ensanguentada no quintal.

O portão do imóvel estava trancado, por isso o advogado acionou a Polícia Militar, que arrombou o acesso à residência. O Samu, também acionado por ele, deu o primeiro atendimento à idosa. Ana Maria de Almeida Prado continuava internada na Santa Casa da cidade até o início da tarde de ontem, sob cuidados médicos.

Antonio Lucas Ribeiro trabalha no escritório de advocacia que fica ao lado do imóvel onde ocorreram os crimes e, no domingo, foi até o escritório para adiantar o serviço da semana. “Foi extremamente surpreendente a violência, também contra essa pessoa de idade avançada. Foi chocante”, resumiu o advogado ontem de manhã.