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João Rosan |
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Maria Inês recomenda trocar o saquinho das frutas e verduras |
Ao primeiro olhar, pia limpa e comida dentro da geladeira parecem ser sinônimos de que está tudo em ordem com a comida que vai à mesa da família. Contudo, os micro-organismos, como fungos e bactérias, são os pequenos vilões que podem se esconder em embalagens, utensílios da cozinha e se proliferarem nos alimentos quando estes são manuseados, preparados e guardados de maneira incorreta.
1- Na geladeira, a primeira coisa é prestar atenção para não colocar os alimentos no lugar errado. O que não precisa ser mantido em temperatura muito baixa, como frutas e verduras, deve ficar na parte de baixo ou na gaveta. Colocar uma verdura na prateleira de cima pode queimar as folhas das verduras e murchar frutas mais rapidamente.
2- Os ovos não podem ser lavados antes de irem para a geladeira porque têm a casca porosa e, com a lavagem, a água entra dentro do ovo e a sujeira pode ir junto. O melhor é lavá-los antes de quebrar a casca. Especialistas recomendam tirar os ovos da embalagem original e colocar em vasilhas ou no lugar próprio da geladeira, desde que não seja na porta. Com o abrir e fechar, o ovo, que é altamente perecível por ser uma proteína, pode estragar muito facilmente.
3- Água, sucos, queijo ralado, condimentos, molho de pimenta, mostarda, ketchup, geleias e outras substâncias que normalmente não precisam ser mantidas sob refrigeração podem ser colocadas na porta do refrigerador.
4- “Se você trouxe folhas do supermercado ou feira, não tem tempo ou não quer lavá-las, troque de saquinho. Substitua a sacolinha do transporte por um saquinho limpo. Tal cuidado é necessário porque você não sabe o que está trazendo nas sacolinhas, já que as coloca no carrinho do supermercado, chão do carro, da cozinha...É a sujeira da rua que você coloca para dentro da sua geladeira”, explica Maria Inês Maringoni Marques, que é nutricionista e tecnóloga em gastronomia do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP), o Centrinho.
5- Outra dica para não errar com as verduras é lavar as folhas, retirar as estragadas e armazenar em uma vasilha com tampa. O procedimento garante mais higiene e conserva a verdura por mais tempo.
Contudo, a nutricionista ressalta que o cuidado com as embalagens não deve servir apenas para os produtos da feira, mas deve ser aplicada a todos os produtos trazidos do supermercado.
6- Você é do tipo que tira garrafas de refrigerante ou latas de cerveja da sacola e os coloca direto no refrigerador? Se sim, saiba que você pode estar levando bem mais do que bebida para sua geladeira, já que as embalagens podem ter servido de esconderijo temporário para ratos e insetos, como as baratas.
“O correto é lavar esses recipientes antes de levá-los à geladeira ou até mesmo à despensa. Se o tempo for curto, a dica é passar ao menos um pano úmido para retirar pequenas partículas de sujeira que as embalagens possam conter”, acrescenta Maria Inês.
Pano e esponja
7- Esqueça aquele velho hábito de deixar um paninho molhado sobre a pia. A dica dos especialistas é lavar o pano logo após o uso e deixar secar longe da pia. Já a esponja de lavar louça deve ser colocada, por 15 minutos, em uma mistura de uma colher de sopa de água sanitária para cada um litro de água. Depois, ela deve ser seca. Grande fonte de contaminação, o ideal é trocar a esponja semanalmente. “Quanto a manter um lixo sobre a pia, nem pensar”, alerta Maria Inês.
De olho no preparo
8- O maior erro no preparo dos alimentos, segundo a nutricionista e tecnóloga em gastronomia Maria Inês Maringoni Marques, é não lavar as mãos antes e durante o preparo da comida. Não lavar os utensílios ao manusear um alimento e outro também é incorreto.
“Por exemplo, você corta um bife e o tempera sobre uma tábua. Em seguida, passa uma água rápida ou nem isso e vai cortar uma verdura ou cebola no mesmo lugar. Com isso, você faz o que chamamos de contaminação cruzada, ou seja, leva para a verdura um agente contaminador da carne. O perigo aumenta quando o segundo alimento não é cozido ou tão bem cozido quanto a carne”.
9- O “falar sobre os alimentos” é o mesmo que apagar as velinhas do bolo com um sopro: saliva sobre todo o alimento. Outro erro é experimentar a comida na mão. Quando provar, o ideal é fazer com uma colher e colocá-la para lavar. Abrir sacos plásticos com os dentes também é um erro muito comum que, segundo a nutricionista, deve ser evitado.
10- Tábuas e outros utensílios de madeira não são indicados por serem porosos, difíceis de serem limpos e propícios para o crescimento de fungos. Tábuas de plástico, quando manchadas, podem ser limpas com uma solução composta por uma colher de sopa de água sanitária para cada litro de água.
Sobras
11- Guardar a comida que sobrou de uma refeição para a próxima é uma boa alternativa para evitar o desperdício, porém, o barato pode sair caro e a comida contaminada, se cuidados básicos não forem tomados. Se você preparou o almoço e, imediatamente após a refeição, colocou o que sobrou em potes com tampa, você pode levar à geladeira e consumir no dia seguinte ou até, no máximo, em dois dias. “Agora, se o que restou da mesa ficou sobre o fogão durante toda a tarde esperando pelo jantar, é bom nem comer para não correr o risco de uma intoxicação”, alerta a nutricionista.
Atentos sobre os perigos da contaminação alimentar, o casal Sandra Regina Balderrama Morais e Luiz Carlos Morais toma alguns cuidados básicos como lavar os ovos antes de quebrar a casca. “Eu os deixo por alguns minutos dentro de uma vasilha com água e água sanitária. São cuidados básicos que devemos ter por não sabermos o que pode vir na casca. Faço o mesmo com verduras e legumes”, conta Luiz.
Sandra admite que às vezes o tempo é curto e ela acaba levando as compras à geladeira dentro das sacolas trazidas do supermercado. “Mas da carne, não me descuido”.
Carnes pedem cuidados especiais
Para manter sabor e textura do alimento, quem o prepara deve estar atento desde seu congelamento até servi-lo
12- A carne é protagonista no prato do brasileiro. E para manter o sabor, textura e qualidade desse alimento, os cuidados começam no congelamento, que deve ser em temperatura de freezer, a cerca de 15 graus negativos. “O descongelamento correto deve ser de forma lenta, dentro da geladeira, de preferência nas prateleiras inferiores.
O ideal é congelar porções em quantidades ideais para consumir em uma única refeição. Contudo, se o pedaço descongelado for grande, pode-se preparar tudo e congelar o alimento pronto que não for consumido. O que não é recomendado é voltar a congelar a carne descongelada”, ensina a nutricionista Maria Inês Maringoni Marques.
A nutricionista explica que todo alimento tem uma contaminação natural, do ar, do ambiente... E a quantidade de micro-organismos dobra a cada 15 minutos. A ação de congelar e descongelar aumenta esses seres porque o congelamento não os mata, apenas os adormece. “Além disso, quanto mais tempo a comida ficar em temperatura de risco, entre 35 e 37graus, maiores são as chances de contaminação”.
13- Outro erro com o manuseio de carnes vermelhas é o hábito de lavá-las. Tal procedimento, além de deixar a carne com aspecto esbranquiçado, leva parte de seus nutrientes. Por outro lado, não há problemas em colocar carnes brancas debaixo da torneira. Frangos, por exemplo, podem conter restos de penas que a água ajuda a limpar.
14- Já na hora do churrasco, a dica de Maria Inês é tirar os cortes aos poucos da geladeira e assar de acordo com o volume de consumo. Deixar a carne temperada por muito tempo fora da geladeira, preparar o churrasco e deixar dentro do isopor por muito tempo são ações que podem representar um prato cheio também para bactérias e fungos.
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Micro-organismos podem causar de diarreias a distúrbios gastrointestinais
A cozinha é considerada por muitos como o lugar mais gostoso da casa. É nela que, muitas vezes, as pessoas recebem visitas e oferecem um cafezinho preparado na hora. Mais do que o lugar onde cafés são preparados, para alguns povos, como os chineses, a cozinha é um lugar sagrado. E já que é na cozinha que o alimento de toda a família é preparado, os cuidados com a higiene são simplesmente fundamentais e ajudam a manter longe os micro-organismos causadores de doenças.
“Por ser um lugar úmido, a cozinha, especialmente a pia tem de ser um local muito limpo, já que a umidade favorece a multiplicação de alguns fungos e bactérias que, se ingeridos em excesso, podem causar distúrbios gastrointestinais sérios, além de náuseas, vômitos e diarreia”, alerta a infectologista Maristela Pastore Oliveira.
Cuidados
15- Manter pias e azulejos limpos e secos evita a proliferação do conhecido “mofo”, aglomerado de fungos. Retirar pequenas partículas de comida que podem se alojar nas frestas de paredes ou outras superfícies também é importante. A infectologista orienta para a troca periódica das esponjas, panos usados para a limpeza de pias e guardanapos de tecidos. “É preciso atentar para manchas pretas nesses objetos. Elas são sinais de fungos”.
Um cuidado que também não pode ser deixado de lado diz respeito ao sabão em pedra. Ele não pode ficar mole demais, pois a água com sabão mole é um prato cheio para alguns tipos de bactérias. “É por isso que em hospitais e áreas de saúde é proibido o uso de sabão em pedra”.