17 de dezembro de 2025
Articulistas

Os intocáveis, do filme à nossa realidade

Telma Gobbi
| Tempo de leitura: 2 min

Na Chicago da época da Lei Seca, Al Capone corrompe, controla e corroí a cidade da forma que deseja através de sua atividade rentável, a venda ilegal de bebidas alcoólicas. Eliot Ness, um agente federal, chega na cidade com a missão de acabar com as atividades ilegais. Então, ele recruta para esta missão o policial aposentado Jim Malone, o italiano Giuseppe Petri, que mudou seu nome para George Stone ao ingressar na Academia de Polícia, e o agente contador Oscar Wallace, que nunca tinha pego uma arma na vida.

Eliot Ness, recém-nomeado para a força tarefa federal contra o crime organizado, motivado pelo apelo desesperado de uma mãe por justiça contra os crimes praticados, em Chicago, por Capone, em atividades ilegais como venda de proteção e outras situações obscuras, abraça esta causa. No Brasil, acho que estamos à procura de um Eliot Ness que enfrente decisões colegiadas de alguns setores bem organizados e coorporativistas, bem estruturados e consagrado pela palavra usada por nosso ex-ministro Magri como "imexíveis".

Setores intocáveis não podem existir em qualquer instância ou profissão. Nossos legisladores e nosso Judiciário devem ser exemplos desta postura e não se possicionarem como setores acima da lei, coorporativistas ou com foro previlegiado.

Como tê-los de exemplo se a um leve remexer iniciado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), feito pela ministra Eliana Calmon, geram arrepios nestes setores que deveriam ser exemplos, mas se utilizam rapidamente de liminar para tentar suspender a atividade correcional do Conselho Nacional de Justiça? Por que alguns setores da sociedade não podem ser objeto de cogitação de investigação? Será que alguém está acima de qualquer suspeita?

Infelizmente, outro fator que pode ser considerado como cooporativista e de ordem política é que nos últimos 40 anos o Supremo Tribunal Federal (STF) não condenou nenhum político a regime fechado, apesar de tantos escândalos, além de vários casos de "decurso de prazo", perda do tempo hábil para julgamento de muitas pessoas "importantes", e assim tudo cai no esquecimento.

A imagem do Judiciário está maculada, passando uma ideia de que os magistrados temem questionamentos e transparência. A grande maioria do Judiciário é composta de pessoas íntegras e a demonstração veio com o posicionamento dos Tribunais de Justiça de São Paulo e do Rio de Janeiro, deixando claro que se há evidências de desvios, de quaisquer natureza, estes devem ser esclarecidos para não desacretitar todo um segmento.

Os brasileiros pedem por transparência e nada mais justo que o Judiciário seja um dos primeiros a demonstrar boa vontade no esclarecimento dos fatos que o envolvem, evitando desta forma colocar toda a magistratura em uma vala comum, a das más práticas. A maioria é boa, sendo necessário esclarecer os fatos obscuros e a autonomia apuratória do CNJ deve ser mantida.


A autora, Telma Gobbi, é médica e colaboradora de Opinião