O grupo formado por ricos em Bauru é cada vez maior. Os bauruenses de elevado padrão de renda e patrimônio explodiram nas estatísticas também por aqui, fenômeno que acompanha as estatísticas do País na última década em decorrência dos efeitos positivos da maior atividade e crescimento econômico. E o aumento no patrimônio é tal que os dados da Receita Federal continuam ainda mais distantes do real valor de acumulação. Mas o “novo rico” tem patrimônio muito superior ao antigo rótulo de “milionário”.
Segundo a Receita Federal de Bauru, existem apenas 8 pessoas com patrimônio declarado acima de R$ 50 milhões na cidade. Embora o dado real de mercado seja muito acima disso, o dado oficial confirma a evolução. Em 2005, apenas dois bauruenses estavam no topo da faixa de maiores patrimônios (300% a mais em seis anos).
A delegacia federal também aponta que nas demais faixas de bens declaradas a evolução na acumulação de riqueza se repete. Em todas as faixas de patrimônio (veja quadro ao lado) o número de integrantes de milionários mais que dobrou. No intervalo intermediário de R$ 2 a milhões haviam, segundo a Receita Federal, 164 bauruenses em 2005, contra 476 em 2011.
Mas o conceito de “milionário” também mudou e faz tempo. Um empresário, que pediu para não ser identificado, sintetizou: “O advento da estabilidade econômica e do crescimento do País geraram inclusão de milhões de pessoas que eram das classes mais pobres, mas isso também se repetiu e com muito maior força no topo da pirâmide. Quem era considerado rico agora é classificado como muito mais rico. E ter R$ 1 milhão para esse contingente virou classificação defasada”.
Apesar do anonimato, o empresário completa: “O novo rico tem vários milhões em patrimônio. Agora a classe B também atinge com muito mais facilidade o patamar de patrimônio de R$ 1 milhão, descaracterizando a origem do ‘apelido’ que identificava um abastado há pouco mais de 10 anos”.
Evolução na renda
Para o consulto e professor universitário Adriano Fabri os dados da Receita e mesmo do IBGE servem para estratificar, mas não para identificar a renda real. De outro lado, ele pondera que a evolução no volume de recursos movimentados no mercado é diretamente proporcional à despesa utilizada para satisfazer às necessidades.
“Sem dúvida o conceito de milionário mudou sim. Mas temos que entender que com toda evolução econômica e tecnológica que tivemos ao longo dos últimos 30 anos, mudaram também nossa exigência patrimonial, ou seja, necessidade de investimentos e gastos muito maiores para poder se situar na zona dos ricos. Em resumo, a economia movimenta muito mais recursos hoje, mas ao mesmo tempo “precisamos” de muito mais dinheiro para fazer frente a todas as necessidades e apelos do nosso tempo”, menciona.
Fabri aponta para um indicador de comparação interessante na hora de aferir o conceito de milionário. “Outro fator é a própria inflação acumulada ao longo desses anos todos. Assim, um (1) milhão de reais no inicio do Plano Real, corresponde hoje, a aproximadamente R$4.000.000,00”, compara.
Por esta raciocínio, o quadro da Receita Federal identificaria, a valores nominais declarados de patrimônio, mais de 1.000 bauruenses que “ascenderam” para a faixa acima de R$ 1 milhão até 2011, contra apenas 380 pessoas há seis anos. Utilizando-se a referência de “atualização” do patrimônio em relação aos efeitos dos indicadores do Plano Real, teríamos, em termos oficiais, 476 “milionários” (agora com patrimônio próximo de R$ 4 milhões.
Mas a evidente ampliação dos “novos milionários” em Bauru ratifica, em última análise, o que aconteceu no País, acrescenta o economista. “Justifica-se pelo crescimento econômico ocorrido nos últimos anos, onde passamos da 10ª, 11ª economia para 6ª, 7ª economia”, exemplifica.
Mas a conclusão sobre os dados repete o antigo “defeito” da estratificação social brasileira, a concentração de renda. “Podemos concluir que os considerados como classe A, possuem um padrão de renda inicial muito baixo, no entanto alguns poucos da pirâmide concentram muita renda. A disparidade entre o IDH e a posição no ranking econômico e mesmo a evolução de ambas mostra que a renda, ao longo da nossa historia não foi bem distribuída”, conclui Fabri.
A disparidade entre o quadro real de ricos e os indicadores oficiais é tamanha que basta olhar para o topo da tabela na escala de renda utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Ricos tecnicamente, com base nos dados oficiais apresentados, são os que estão na última faixa de renda. Ainda que com todas as necessidades de compras, seja confuso pensar que quem ganha acima de R$ 12 mil pertença a elite”, finaliza..