O aposentado Ary Terezan, 78 anos, tirou o feriado de ontem para “pegar pesado”. Aproveitando a campanha Limpa Geral, ele foi até o ecoponto da rua Sorocabana, Vila Santa Clara, para se desfazer de algumas gavetas velhas e de uma pia. “Estou fazendo isso justamente para combater a dengue”. Apesar do exemplo do aposentado, a ação ainda esbarra na falta de educação ambiental e coletiva e também na omissão da população, reforçando o apelo pela necessidade de conscientização.
Ary mora perto do Bosque da Comunidade. No seu bairro, várias pessoas já contraíram dengue. Ele mesmo está sarando da doença agora. “Vou aproveitar até o dia 5 (fim da campanha) para vir trazendo os entulhos e deixar minha casa limpa. É a oportunidade”.
Porém, enquanto o aposentado mostra consciência, um terreno na Vila Santista evidencia o quanto a sociedade precisa evoluir. Nas quadras 4 e 5 da rua Rafael Nicolau Martins Oliares, o espaço conta com entulhos que vão desde vasos, peças automotivas até sofás queimados.
E o problema, que atinge todos os moradores, não é unicamente de quem joga o lixo lá, mas também de quem não tem coragem de denunciar.
A reportagem conversou com vizinhos do terreno e eles afirmam que a sujeira é constante. “Hoje, ainda está melhor do que esses dias atrás”, conta o cabeleireiro Antônio Carlos Fogaça, 51 anos. Segundo ele, os moradores até sabem quem joga o entulho, porém, evitam denunciar para não arrumar confusão ou mesmo pelo medo de represálias.
“Tem um carroceiro que sempre joga. Até foi colocada uma placa com o nome dele dizendo que era proibido jogar entulho ali”, relata.
A uma quadra da casa de Fogaça, mora Jovelina Tancini, 54 anos. Bem em frente à sua residência, dezenas de copos plásticos jogados no terreno se mostram um verdadeiro “hotel cinco estrelas” para o mosquito Aedes aegypti.
“Meu quintal está tudo certinho. O problema é que não adianta, né? O povo joga o lixo na rua e a dengue vem para nossa casa”, reclama, preocupada. Ela também afirma que o medo é o maior impeditivo para denunciar quem joga os lixos no terreno.
Como denunciar
O titular da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), Valcirlei Gonçalves, afirma que a população pode e deve fazer a denúncia. Além da prefeitura, a reclamação pode ser feita também para a Polícia Militar (PM).
Esse medo da população, porém, prejudica a efetividade denúncia. “A denúncia pode até ser feita de forma anônima. Mas, sem revelar de onde veio a denúncia, é difícil autuar. Isso só ocorre quando a pessoa é pega em flagrante mesmo”, revela Gonçalves.
Mas a Semma também precisa se organizar para oferecer o serviço. Faltam fiscais e um concurso específico para suprir vagas no setor ainda não foi aproveitado. Não há, também, ação sistematizada para identificar infratores, sobretudo conhecidos reincidentes. Já a Polícia Militar tem rejeitado atuar nesses casos.
Conscientização
Apesar de a denúncia ser um dever de cidadania, a solução para o problema da dengue é realmente a conscientização de não jogar lixo e entulho nas ruas. E o Limpa Geral deu um impulso nessa realidade.
Até o próximo domingo, caçambas pertencentes à Semma e a diversos caçambeiros da cidade estão posicionadas em dez pontos de descarte (veja no quadro).
Para quem quiser aderir à iniciativa e descartar materiais inservíveis deixando terrenos e quintais limpos, a campanha Limpa Geral recebe nesses pontos o descarte gratuito de pneus, móveis, resíduos da construção civil, madeira, eletrodomésticos, recicláveis e galhos de árvores.
Assim que as caçambas ficam lotadas, a Associação dos Transportadores de Entulhos e Agregados de Bauru (Asten) pede o recolhimento desse lixo, evitando acúmulo.