19 de dezembro de 2025
Cultura

O show da diva Diana Ross

Lucas Catanho com Agência Estado
| Tempo de leitura: 5 min

Diana Ross provou por que há tantos anos mantém o posto de diva. Aos 69 anos de idade e 54 dedicados à carreira, a cantora norte-americana mostrou no show apresentado nesta semana no Espaço das Américas, em São Paulo, que a longa carreira só lhe fez bem, especialmente para sua voz – jovem, límpida e com uma afinação surpreendente.

Mas não são apenas esses ingredientes que fazem de Diana Ross uma diva da música mundial. Ela demonstra que, para se apresentar um show de qualidade, a pirotecnia pode ser ignorada. Isso perfeitamente também se encaixa ao teatro: se o ator, elemento imprescindível nas artes cênicas, é bom, o acessório – cenografia, maquiagem, iluminação – é mera perfumaria.

Foi o que aconteceu na apresentação na última terça-feira, na Capital, onde o Jornal da Cidade esteve presente para cobrir o evento a convite da Claro, patrocinadora das duas apresentações de Diana Ross em São Paulo. Em um show enxuto, de apenas 1 hora e 10 minutos, Diana Ross ignorou os suntuosos efeitos especiais e a cenografia rebuscada para dar o seguinte recado: o mais importante é o gogó, a música propriamente dita. A artista estava acompanhada por uma banda composta por baixo, guitarra, bateria, percussão, teclados e três cantores de apoio. E que apoio!

O set list do show foi basicamente dividido em três momentos: o de soul, tirado principalmente do The Supremes, conjunto vocal liderado por ela nos anos 60 e 70 e um dos nomes mais importantes do catálogo da gravadora Motown; o dedicado à era disco, movimento do qual ela foi uma das precursoras; e o das canções românticas.

Quando foram abertas as cortinas, pouco depois das 22h, a abertura foi feita com toda pompa, com a banda tocando “I’m Coming Out” atrás de um véu branco. De fora do palco, ela cantava o verso “I’m coming” (estou chegando, em português). O primeiro dos cinco vestidos que ela exibiria durante o show era vermelho e foi adornado por uma echarpe de paetês na mesma cor. Aliás, o excesso de troca de roupas – cinco, em um show de apenas 1 hora e 10 minutos – é outro ingrediente que coloca Diana Ross no posto de uma verdadeira diva.

Competentíssimo, o conjunto de back vocals, composto por duas mulheres e um homem, apresentou um show à parte. Além de estar milimetricamente afinado com a banda e com Diana Ross, era o grupo que fazia a transição entre as músicas quando a cantora saía do palco para trocar de vestido. Qual seria a cor do próximo modelito, hein?

O público se envolvia especialmente nas canções românticas, e isso teve a rodo, com músicas como “Touch Me in the Morning”, “Love Jangover” e as mais conhecidas do grande público, “Do You Know Where You’re Going To” e “Ain’t No Mountain High Enough”, que foram apresentadas em forma de pout-pourri. Alguns famosos estiveram presentes para assistir ao show e o Jornal da Cidade conseguiu conversar com eles momentos antes do início da apresentação (leia texto ao lado).

Quase ao final do show, antes do bis, uma surpresa colocou o público para dançar: “I Will Survive”, a canção imortalizada na voz do ícone da disco music Gloria Gaynor, foi muito bem interpretada por Diana Ross e levantou a galera, até então bem acomodada às mesas. Ao final, a cantora deixou o palco e começou a receber as palmas reivindicatórias do bis.

 

Que pique!

 

A agenda de shows da diva Diana Ross impressiona. Após concluir a turnê no Brasil no dia 2 de julho, que prevê quatro shows em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, a quase septuagenária dará um pequeno descanso para trabalhar intensamente em agosto: nada menos que 20 apresentações nesse mês nos Estados Unidos, os primeiros da turnê na América do Norte. E essa bateria de shows é sustentada pela sólida carreira, já que a cantora não lança discos inéditos desde 2000. 

 

 

Bis chocho

 

O bis, portanto, deixou um gostinho de quero mais, já que Diana Ross cantou apenas “Reach Out And Touch” e ignorou hits como “Missing You” e “Endless Love”, aguardados pelo público até então. Essa última canção, dueto com Lionel Ritchie gravada em 1981, é nada menos que a música mais cantada em casamentos no mundo.

 

Quando o público percebeu que Diana só cantaria uma música no bis e se despediu definitivamente, alguns fãs começaram a cantar o dueto para extravasar a frustração. Houve quem imaginou que Diana Ross lançaria mão da tecnologia para duetar com Lionel Ritchie por meio de um telão, mas nem sinal de fumaça. No finalzinho do show, outro grande espaço para os back vocals, que fizeram performances solo. E fecharam-se as cortinas. 

 

 

Famosos não perderam chance

 

“A Diana Ross é maravilhosa, não é? Tem várias músicas que gosto, não me lembro dos títulos das músicas dela, mas gosto muito de ‘Missing You’. A elegância, aquele porte de diva, de estrela que ela é para nós. Uma voz, um repertório maravilhoso e uma carreira fantástica de sucessos. Fora do Brasil já assistir ao show de Diana Ross algumas vezes, mas não pude perder essa oportunidade aqui em São Paulo”.

Wanderléa, cantora

 

“A Diana Ross apresenta um estilo de música maravilhoso, esse som marcou minha adolescência e temos que prestigiá-la na vinda dela ao Brasil. Nunca tive a chance de assistir ao show dela fora do Brasil. Gosto muito de ‘You Are Everything’ e ‘Endless Love’, viemos ouvindo no carro. Trouxe para o show meu marido e minha irmã também”.

Virna, jogadora de vôlei

 

 

“Não é todo dia que vem uma diva assim ao Brasil. Eu falei: ‘é agora ou nunca, eu não vou perder’. Só havia visto a Diana em filme. A Diana Ross é lendária, é raro. Puxando a sardinha para a minha brasa, ela foi candidata ao Oscar interpretando a vida da Billie Holiday em 1972. Ela chegou lá, na época uma cantora sem experiência. Antes de Whitney Houston, não havia uma estrela negra cantando no cinema. Fazendo papel dramático, a Diana Ross foi pioneira”. 


Rubens Ewald Filho, crítico de cinema

 

 

 

“Nunca vi Diana Ross ao vivo. Na contracapa do meu novo CD, ‘Tudo de Novo’, fiz uma réplica de uma foto famosa dela, em que apareço na mesma pose, no chão. Ela é uma inspiração para mim, então esse show será uma aula. A Diana Ross representa a soul music, pegada em que veio o meu CD. É uma mulher superfeminina, tem uma presença de palco muito marcante e eu procuro ser um pouco disso nas minhas apresentações”.

 

Negra Li, cantora