Consideradas ponto de encontro de jovens há alguns anos, as chamadas lan houses ou casas de jogos e de Internet por hora têm perdido seu espaço em Bauru. Em meio a difusão da Internet banda larga à baixo custo e da tecnologia, acompanhada pela abertura do crédito que possibilita a compra de computadores e equipamentos cada vez mais potentes, os chamados “gamers” (jogadores), considerado principal público desses locais, se tornaram figuras cada vez mais incomuns.
Para sobreviver em meio ao mercado, alguns estabelecimentos se viram obrigados a mudar o perfil e apostar em novos serviços como, por exemplo, de impressão, assistência técnica, recarga de celular, pagamentos de contas e até café/bar.
“De uns quatro anos para cá, as lan houses perderam completamente sua função. Manter uma lan house ficou inviável, o movimento caiu muito e muitas já fecharam as portas. Para sobreviver hoje, só estando próximo ao Centro ou apostando em outros serviços”, afirma, Rodrigo Camargo, 40 anos, que há sete anos é proprietário de uma lan house na Vila Cardia, região central de Bauru.
“Sempre recebo propostas para implantar a recarga de celular e o recebimento de contas de água, luz e telefone aqui. Mas os gastos que teria com segurança inviabilizam. Prefiro continuar oferecendo o básico, apostando na clientela adulta e na manutenção e reparo de máquinas para fora”, fecha questão.
Mesmo sem esconder a frustração, o empresário descarta desistir do negócio que montou na cidade após passar anos se especializando no Japão. “Em três anos, acho que o movimento caiu uns 40%. O que ajuda é o pessoal mais velho e dos hotéis aqui por perto”, completa.
Sem números?
A realidade é confirmada pelo diretor regional da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) em Bauru, Paulo Martinello.
“É um tipo de empresa que viveu um boom [explosão] há alguns anos, mas que não tem mais aceitação. Os pedidos de fechamento são mais comuns do que os de abertura. Todo mundo tem computador em casa hoje. E os preços da banda larga estão acessíveis”, comenta Martinello. “Os locais, que não fecharam, tiveram que se adaptar e apostar em alternativas para sobreviver”, completa o diretor regional da Jucesp.
A Junta, assim como a própria prefeitura, entretanto, não possuem dados que demonstrem o número de empresas que funcionam atualmente na cidade.
“É difícil esse controle. O processo de fechamento é muito rápido por se tratarem de pequenas e médias empresas”, pontua Martinello.
O único dado existente refere-se ao número de pedidos de abertura de empresas de Internet por hora. Mas esse dado, contudo, não se refere especificamente às lan houses.
Conforme a planilha, entre 2010 e 2011, a prefeitura recebeu 37 pedidos de empresários interessados na abertura de estabelecimentos do tipo Internet por hora. Já nos últimos dois anos, o número caiu para 14, ou seja, houve uma queda de até 62% na procura.
Em uma pesquisa rápida no Google, contudo, é possível encontrar o endereço e telefone de pelo menos 16 lan houses em Bauru. Algumas, porém, já fecharam as portas, conforme o JC apurou.
Apesar da Internet de alta velocidade mais acessível, os custos das placas de vídeos e a velocidade com que elas se atualizam estão cada vez maiores, tornando mais difícil a tarefa dos empreendedores em sustentar os micros equipados para jogos.
“Eu mesmo faço as manutenções necessárias”, ilustra Camargo. Outro fato que teria impulsionado a derrocada dos estabelecimentos foi a aposta dos estabelecimentos de impressão, popularmente conhecidos como “xerox”, nas máquinas voltadas para clientes. Com um computador à disposição no balcão, não é mais preciso arcar com o gasto da Internet por hora em uma lan house. Para se ter ideia, o preço médio da Internet por hora em Bauru hoje é de R$ 3,50.
Já em casa, o usuário desembolsa em média R$ 50,00, para desfrutar de um pacote de banda larga com a comodidade do lar, mas isso sem contar, é claro, os gastos com a compra e manutenção do equipamento.
O assunto parece estar tão em baixa que há anos não faz parte nem das discussões do Laboratório de Tecnologia da Informação Aplicada (LTIA) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru, conforme afirma o professor e coordenador da unidade Eduardo Morgado.
“Há quatro ou cinco anos não temos alunos interessados nesse assunto. Depois dos smartphones, virou um tema meio decadente”, opina o professor.
O laboratório é referência na área e já executou projetos para grandes empresas como a Intel e Microsoft Brasil.
Vantagem
Mesmo assim, ainda tem quem abra mão do próprio computador para investir pesado nas lan houses.
Proprietário de um mototáxi no Centro da cidade, Ricardo Orestes, 38 anos, frequenta diariamente estabelecimentos de Internet por hora.
“Chego a ficar de 3 a 5 horas do meu dia dentro da lan house resolvendo as coisas da empresa, que agora também oferece serviço de translado”, afirma. “Sai mais barato que um escritório. Além do que, moro longe do trabalho, não daria para ir para casa só para usar o computador. Aqui é mais sossegado e compensa”, explica o usuário, que já repete a rotina há 2 anos.
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Éder Azevedo |
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“De uns anos para cá, as lan houses perderam completamente sua função”, diz Rodrigo Camargo |