17 de dezembro de 2025
Geral

Moti, o bolinho das boas energias

Dulce Kernbeis
| Tempo de leitura: 4 min

Se comer moti no primeiro dia do ano é motivo para atrair as boas energias, se coincidências não existem e são sincronicidade do universo a tornar a vida das pessoas mais especiais e nesta terra há um Deus e um propósito para tudo, então a matéria que você vai ler agora, fechando o ano, está carregada de boas energias e tem uma bela sincronicidade.

 

Douglas Reis

60 homens e mulheres produziram 900 quilos de moti: tudo foi comercializado ontem

Lá “do outro lado” do mundo, no Japão, os japoneses mantêm a tradição milenar de comer o moti, bolinho de arroz no primeiro dia do ano, como forma de atrair tudo de bom. Só que como é um país altamente industrializado e tecnológico, hoje em dia tudo é feito em fábricas.  Já não é feito como antigamente.  


Aqui em Bauru, a colônia ainda mantém a tradição de fazer o bolinho no braço...quase como antigamente.



Conta a história


Como o arroz é a base da alimentação japonesa, há um simbolismo muito significativo por trás da feitura do moti. Conta a lenda que o moti tsuki, ao pé da letra quer dizer “ bater moti”, só podia ser feito num grande “ussu”, nome dado ao pilão de madeira japonês, com a ajuda de um “tsuti”, uma grande marreta de madeira. Isso  tem que ser em conjunto. Uma pessoa bate enquanto outra esborrifa água, até o arroz ficar no ponto certo para formar uma massa lisa e firme e ser moldada. Assim é um bolinho de união. União que sempre esteve presente na cultura do arroz, tanto no plantio, quanto na colheita e agora era simbolizada no preparo do bolinho. E o trabalho sempre é totalmente voluntário.


Além disso, fazer o moti era um encontro de famílias, uma confraternização, os homens vinham trazendo quantidade de arroz que colhiam, já cozidos,  enquanto as mulheres, filhos adolescentes e até crianças participavam fazendo os bolinhos. Depois da reunião, cada um levava para casa uma grande quantidade que seria devorada no dia primeiro. Com um agradecimento pelo ano que passou e um pedido de sorte, saúde, felicidade, tudo o que for de bom.  

 

Um trabalho extenuante

Em Bauru o trabalho começou cedo na madrugada de ontem. Sessenta homens e mulheres fizeram a produção do bolinho, na Igreja Budista, que foram todos vendidos.


O trabalho é totalmente voluntário. E a venda ao preço de R$ 15,00 o quilo é para a manutenção do templo religioso, custeio das despesas, explica Seiji Yano, presidente da Igreja Budista de Bauru. A feitura do bolinho terminou às 15h da tarde, sob salvas de palmas das mulheres. Foram 900 quilos computados. Trabalho árduo. Não é fácil cozinhar a massa, moldar os bolinhos, alguns são recheados com feijão doce. Há ainda que se embalar e há os entregues em dois pontos de revenda na cidade. “Dona” Aurora Yano, esposa de Seiji, sabia o esforço.

 

A tradição revivida 33 anos depois

No exato momento em que Seiji Yano e sua esposa Aurora estavam conversando com a reportagem, chegou ao local a família da psicóloga Patrícia Gimael. Além de buscar os bolinhos, Patrícia trazia a tiracolo o jovem de 21 anos Chimizo Massayoshi, estudante de história da cidade de Nara, no Japão. Foi a segunda vez que ela tomou contato direto com a tradição do moti. A primeira foi em 1981, em Osaka, quando intercambiária pelo Rotary, ela participou do ritual.


Hoje, 33 anos depois, está hospedando Chimizo, o jovem filho da sua “irmã intercambiária” de Osaka. E sem nada programado, quando chegou à igreja, lá estava a reportagem. Foi mais um motivo de festa para os integrantes da comunidade que já festejavam o final dos trabalhos e mais um ano e uma etapa cumprida. A presença do jovem causou alvoroço entre os japoneses mais velhos, ávidos em conversar na língua-pátria e sobre o país de origem. Para Chimizo, o que mais encantou, além do contato com a tradição, foi ver a quantidade produzida.


Pena que, àquela altura, já não havia mais nenhum para a família comprar. Saíram rapidamente para ver se encontravam em uma das duas lojas de produtos orientais da cidade que haviam levado 80 quilos para revender neste último dia do ano. Com certeza, encontrariam. Com uma lenda dessas carregadas de tão bons sentimentos, com tantas coincidências positivas, alguém tem dúvidas de que traz boa sorte e que eles teriam sucesso na empreitada?