Um torcedor do Sport Club do Recife que estava na torcida do Paraná morreu ao ser atingido por um dos dois vasos sanitários arremessados do alto do estádio do Arruda, no Recife, após o jogo entre Santa Cruz e o clube paranaense, na noite de ontem.
Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26, saía do estádio com a torcida do Paraná, quando foi atingido. Outras três pessoas foram atingidas por estilhaços dos vasos e foram levadas para unidades de saúde do Estado. Segundo a Secretaria de Saúde, nenhuma corre risco de morrer.
Câmeras da Secretaria de Defesa Social flagraram o momento em que as privadas foram arremessadas, mas não mostram quem as atirou da arquibancada. A polícia ainda não tem suspeitos. Se identificados, os culpados deverão ser indiciados por homicídio doloso, quando há intenção de matar.
As privadas foram arrancadas de um dos banheiros do estádio, de acordo com a Secretaria de Defesa Social.
O secretário da pasta, Alessandro Carvalho, responsabilizou o Santa Cruz pela morte do torcedor. Segundo Carvalho, o clube não tem as câmeras internas exigidas pelo Estatuto do Torcedor e deveria ter garantido segurança privada no interior do estádio.
"O que deixou de ser feito não foi por parte do Estado, foi por parte do Santa Cruz. Houve uma falha? Houve. E eu atribuo ao clube. O clube é responsável pelo que acontece dentro da área dele", afirmou Carvalho neste sábado. "Fazer vistoria para saber se ficou algum torcedor [no banheiro], não existe", afirmou.
Questionado sobre a responsabilidade de exigir do clube as câmeras, o secretário indicou a Federação Pernambucana de Futebol e a CBF.
O presidente do Santa Cruz, Antônio Luiz Neto, foi procurado no final da manhã deste sábado, mas não foi encontrado.
Segurança
De acordo com o governo de Pernambuco, havia 8.029 torcedores e 228 policiais militares dentro e fora do estádio. A Secretaria de Defesa Social disse que esse efetivo se justifica porque o evento é considerado como de "menor potencial de problemas".
"Quem tem que fazer a segurança patrimonial não é a Polícia Militar de Pernambuco, é o clube que está organizando o jogo. O policiamento foi proporcional [à dimensão do jogo]", afirmou Carvalho.
Segundo o governo, o jogo terminou às 22h50 e a torcida do Santa Cruz foi liberada primeiro. A torcida do Paraná, junto com torcedores do Sport cerca de 50 pessoas, de acordo com o secretário, saiu escoltada do estádio às 23h10.
Houve um rápido princípio de confusão com torcedores do Santa Cruz que moram no entorno do estádio, de acordo com a Polícia Militar. Os vasos foram arremessados justamente quando os torcedores do time visitante passavam pela Rua das Moças.
Brigas entre torcidas organizadas são comuns após jogos em Pernambuco. Em março, torcedores do Santa Cruz arrancaram privadas da Ilha do Retiro, sede do Sport. Também há registro de depredação e arrastões. Na semana passada, torcedores do Santa Cruz invadiram o clube e hostilizaram jogadores.
Desde abril deste ano, as torcidas organizadas foram proibidas pela Justiça de Pernambuco de entrar em estádios no Estado.
Sem energia, IML não tem previsão para liberar corpo de torcedor
A família do torcedor Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26, morto na noite de ontem ao ser atingido por uma privada lançada da arquibancada do estádio do Arruda, no Recife, ainda não sabe quando o corpo do jovem será liberado.
Funcionários do IML (Instituto Médico Legal), no Recife, informaram hoje que, até o início desta tarde, havia 21 corpos acumulados a espera da necropsia.
Segundo os servidores, faltou luz no instituto desde ontem até o final da manhã de hoje. Dessa maneira, os corpos não puderam passar por perícia.
Restabelecida a energia, é preciso esperar as geladeiras com os corpos ficarem novamente resfriadas para que sejam abertas.
O IML não tem gerador de energia. De acordo com a Celpe (Companhia Energética de Pernambuco), houve problemas na recepção de energia pelo instituto tanto na manhã de sexta-feira, quanto na de sábado.
Família soube por redes socias da morte de torcedor
Os familiares de Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26, atingido por um vaso sanitário jogado do alto do estádio do Santa Cruz, na noite de ontem, foram informados da morte do rapaz pelas redes sociais.
"Meu filho me acordou contando. Depois, foi a delegada ligando para a mãe dele e o carro de polícia indo na casa do pai", disse a vendedora Sueni Valdevino, 33, casada com o tio do rapaz, disse neste sábado à reportagem.
Segundo Valdevino, Silva costumava ir a jogos do Sport porque, como todos da família, era fanático pelo time. O rapaz tinha até o escudo do time tatuado no abdome.
O Sport, no entanto, não jogou no estádio do Arruda na noite de ontem. O jovem estava com a torcida do Paraná, que empatou em 1 a 1 com o Santa Cruz, na partida pela Série B do Campeonato Brasileiro.
"A novidade foi ele ir para a torcida de outro time", afirmou Sueni Valdevino. A torcida do Sport é "aliada" dos torcedores do Paraná.
De acordo com ela, Silva estava conversando com a namorada e falou que talvez fosse para o jogo. "Recebeu uma ligação e foi", disse.
A mulher do tio de Silva negou que ele faça parte da Torcida Jovem, organizada do Sport, embora apareça em várias fotos de seu perfil no Facebook com a roupa da organizada do Sport.
"Ele nunca fez parte de torcida nenhuma, mas sempre frequentou [os jogos]. Era muito amigo dos meninos [da torcida]", afirmou. Como havia adquirido uma câmera nova, costumava fotografar a torcida durante os jogos.
Silva trabalhava como caldeiro do estaleiro Atlântico Sul, no complexo industrial e portuário de Suape.
Em seu perfil no Facebook, há inclusive uma foto em que ele aparece ao lado da presidente Dilma Rousseff, quando ela esteve em Suape para lançar ao mar um petroleiro, em abril.
"Visita da minha tia DILMA hj a tarde la no trabalho pra inaugurar mais um navio construido por nois pernambucanos...(sic)", diz a legenda da foto.
A família espera que o corpo do torcedor seja liberado até o início da noite deste sábado. O enterro deve acontecer na manhã de amanhã, no cemitério de Santo Amaro, no Recife.
O Caso
Paulo Ricardo Gomes da Silva era torcedor do Sport, mas acompanhava a torcida do Paraná, que enfrentou o Santa Cruz num jogo pela Série B do Campeonato Brasileiro que acabou em 1 a 1.
O jovem foi atingido por uma das duas privadas arrancadas dos banheiros e arremessadas do alto do estádio do Arruda por torcedores.
Outras três pessoas foram atingidas por estilhaços, mas, de acordo com a Secretaria de Saúde de Pernambuco, não correm risco de morrer.
Duas câmeras da Secretaria de Defesa Social registraram o momento em que a privada atinge o torcedor. Pelas imagens, não é possível identificar quem lançou o vaso sanitário.
O secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, eximiu o Estado de culpa e responsabilizou o Santa Cruz por não ter câmeras de segurança interna e por não garantir segurança privada no interior do estádio.
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) interditou o estádio do Santa Cruz até que o caso seja apreciado pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).
A reportagem tenta desde o final desta manhã contato com o presidente do clube, Antônio Luiz Neto, mas ele não atendeu nem retornou as ligações até a publicação.