24 de dezembro de 2025
Geral

As últimas sobreviventes

Por Marcus Liborio | Especial para o JC
| Tempo de leitura: 4 min

Quioshi Goto

As bicas de água mineral que ainda restam em Bauru tentam sobreviver ao vandalismo

Expostas ao tempo e sem nenhum tipo de vigilância, as bicas de água mineral que ainda restam em Bauru tentam sobreviver ao vandalismo. Torneiras quebradas, paredes pichadas e até restos de alimentos são jogados nesses locais frequentemente. Por conta disso, alguns pontos que abasteciam grande parte da população bauruense foram desativados.


Hoje, a cidade conta com quatro bicas do Departamento de Água e Esgoto (DAE) e outra controlada por uma empresa particular. Há cerca de duas semanas, o reservatório localizado na antiga Sambra, que também havia fechado, foi reaberto (leia mais abaixo).


Recentemente, em um dia de calor, o JC presenciou um homem se banhando na bica do DAE localizada em frente à Universidade de São Paulo (USP), na rua Henrique Savi. Ele abriu as torneiras, entrou no tanque e ficou se refrescando. A mesma cena também foi presenciada pelo analista de segurança Marcelo Madureira, 40 anos. “Já vi gente tomando banho aqui”, contou.


Há cerca de cinco anos, ele não ia buscar mais água ali. “Eu vim hoje porque a distribuidora não me entregou. Encontrei as paredes pichadas e uma torneira quebrada. Já os furtos de torneira, na minha opinião, são cometidos por usuários de drogas para trocar o material por crack”, acredita.


Por ser um ambiente de uso público, a questão da higiene também “pesa” no momento de retirar a água. Enquanto enchia o galão, a vendedora Elisabete de Souza improvisava com um aparato incomum.


“Já encontrei a bica suja diversas vezes, até com restos de alimentos. Por isso, eu uso um funil para amenizar o contato da torneira com o bico do galão. Quando chego em casa, lavo os galões com bucha e sabão”, disse.



Desativadas

A falta de conscientização da população em preservar o que é usado por todos contribuiu para que algumas bicas fossem desativadas. O coordenador da Defesa Civil em Bauru, Álvaro de Brito, lamenta a situação e lembra de pontos que concentravam grande movimentação, todos os dias.


“Bebedouros que serviam água de boa qualidade não existem mais. Tinha bica instalada na Hípica, no campo do Noroeste, no Sesi, na antiga Sambra, na Universidade Sagrado Coração (USC). Todos foram alvos de vandalismo”, observa.


A dona de casa Antônia Rossetto mora há 20 anos na quadra 11 da rua Albino Tambara, praticamente em frente de onde funcionava a bica da USC. Sem a opção de pegar água a poucos metros de casa, ela agora teve que improvisar.


“No início, passei a comprar de distribuidoras. Mas como tenho uma casa em Quilombo (bairro de Iacanga), trago água de um poço de lá”, disse. “Era muito movimentada a bica daqui. Porém, ladrões levavam torneiras embora com frequência”, lamenta.


Hoje, além da bica do Parque Vitória Régia (em frente à USP), mais três bebedouros mantêm movimento frequente de pessoas. Um está localizado na praça da Bíblia, quadra 1 da rua Alto Purus, Vila Camargo. Outro, em frente ao Comando de Policiamento do Interior (CPI-4), na quadra 4 da rua Major Osório, Vila Antártica.


Os bauruenses também têm a opção de adquirir água mineral na quadra 17 da rua Marcondes Salgado, Vila Inglesa. Todos os locais são monitorados pelo DAE. “Na quadra 27 da avenida Castelo Branco, uma empresa que comercializa gelo disponibiliza uma bica”, lembra Álvaro de Brito, da Defesa Civil.


DAE faz manutenção e higienização nos pontos

Um dos problemas recorrentes nas bicas é mantê-las higienizadas e longe do vandalismo. O diretor da divisão de produção do DAE, José Brazoloto, garante que o trabalho para manter os locais conservados é intenso.

“Temos duas equipes. Uma fica responsável pela limpeza e desinfecção dos reservatórios, enquanto a outra por acertar problemas estruturais, como a troca ou reposição de torneiras danificadas ou furtadas. O trabalho é feito diariamente”, explica.

Já a qualidade dos postos artesianos também é atestada com frequência, é o que explica o chefe da seção de ações do meio ambiente da Secretaria Municipal de Saúde, Daniel Godoy Tarcinalli. “Quem possui poço, seja empresa particular ou até mesmo o DAE, é obrigado a apresentar dados de como está sendo tratada a água”, explica.

Ainda segundo Tarcinalli, as análises feitas pela Vigilância Ambiental de Bauru mostram que o município tem água bem tratada.


Bica na Vila Santista é reaberta à população

“Era uma bica que oferecia água mineral diferenciada, pois o poço é um dos mais profundos de Bauru. Por conta disso, vivia cheio de gente”, lembra o responsável pela Defesa Civil, Álvaro de Brito, ao falar da bica da antiga Sambra, na Vila Santista. A novidade é que ela foi reaberta há cerca de duas semanas.

A reportagem do JC esteve no local e foi informada por um dos funcionários da atual empresa que a água mineral foi liberada novamente a todos. A bica, contudo, havia sido desativada há três meses. Um dos motivos: vandalismo.

“Eu nem sabia que tinha reaberto. Eu sempre peguei água ali e, depois que fechou, fui obrigado a consumir a água da rua”, disse o vigilante Márcio Antônio Rodrigues, 39 anos, que mora em frente ao local, na quadra 3 da rua Itororó.

“Vou voltar a pegar água ali. É bem tratada e dá para sentir a diferença. Muito bom saber da novidade”, completou.