O abandono de animais tem sido cada vez mais frequente em Bauru. E uma situação vem chamando a atenção: tornou-se comum os inquilinos que se mudam de imóveis alugados e deixam cães e gatos por lá. Há 15 dias, a ativista Maria Trevisani identificou que gatos haviam sido deixados sozinhos e sem comida, ao lado da casa de uma amiga, no Altos da Cidade.
Ela relatou à reportagem, na tarde de quinta-feira (2), que notou o fato porque frequenta a casa da colega de forma constante e sabia que os animais não saíam daquela determinada residência.
“Há, aproximadamente 15 dias, a inquilina deixou a casa e abandonou os gatos. Eu notei que eles começaram a aparecer fracos e debilitados em cima do muro. Então, resolvi alimentá-los à noite. São três gatos: dois amarelos e um preto. Os amarelos eu dei o nome de Mingau 1 e Mingau 2. O preto é Pretinho mesmo. Acho um absurdo sair assim da casa e deixar os animaizinhos. Já registrei boletim de ocorrência”, disse Maria, mostrando o documento.
Outro caso
A reportagem do JC também recebeu denúncia de outro endereço: na Vila Universitária. O denunciante queixou-se do vizinho, que possui uma piscina, no quintal, e, aparentemente, não faz a devida manutenção há algum tempo.
Além da questão que preocupa por conta da dengue, o local possui três cães, que ficam o dia todo sozinhos, segundo o denunciante. “Outro dia, um deles caiu na piscina e teve que ser resgatado por uma pessoa que pulou no quintal. Ele estava se afogando porque tem deficiência em uma das patas”, escreveu o leitor, através de e-mail.
A equipe do JC foi até as imediações e apurou com outras vizinhos que o fato realmente ocorreu. “Eu ouvia os cães chorarem. Hoje, não escuto mais, não sei se ainda tem gente morando lá. A piscina continua com a água suja, tem até cadeira de praia lá dentro”, queixou-se outro denunciante.
É crime
Vale destacar que abandonar animais é um crime crime previsto no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (veja quadro abaixo).
O fato se encaixa em maus-tratos. As denúncias podem ser feitas à Polícia Militar e também à Polícia Civil. O anonimato é garantido.
Frequente
Maria Trevisan conta que, frequentemente, recebe denúncia de animais abandonados em imóveis. O delegado do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) em Bauru, Carlos Eduardo Muniz Candia, que também é dono de imobiliária, teve um problema semelhante.
“A pessoa mudou-se há 90 dias e deixou seis gatos. Não vemos casos como este todos os dias, mas nós sabemos que eles acontecem”.
Sonho da casa própria virou dilema para família
No início do ano passado, a encarregada de limpeza Dalva (nome fictício), 56 anos, recebeu o ultimato para mudar-se com sua família para o apartamento em um condomínio do programa Minha Casa Minha Vida, no Bauru 16, resultado de um sorteio no qual foi contemplada em 2010. A negativa dos moradores em assumir a nova casa, entretanto, conforme ela conta, possuía nome e idade: Frederico, um poodle de 10 anos, e Débora, uma vira-lata de 5 anos e porte médio.
“Prorroguei até ser ameaçada de perder o apartamento, mas não teve jeito. Tivemos que deixar os cachorros. Lá não tem espaço e nem sacada, seria desumano. Além do que, ainda tinha a reclamação dos vizinhos”, conta a mulher.
Na intenção de resolver o problema, a família arcou com mais dois meses de aluguel da antiga casa enquanto encontrava pretendentes para adoção de Frederico e Débora.
O cão mais velho, contudo, acabou doente e morreu. Já a vira-lata foi adotada por uma amiga da família que se solidarizou com a situação.
Caso Muttley: proprietária e inquilino são ouvidos
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Quioshi Goto |
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O cãozinho Muttley foi resgatado de uma residência, na Vila Cardia |
No mês passado, o JC noticiou o abandono do cãozinho Muttley, que não foi levado junto às mudanças de seu dono. Ele foi deixado no imóvel, localizado na Vila Cardia, sem água e comida, e trancado no quintal. O grupo Pet Metal registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil e a equipe de investigação, junto do delegado Dinair José da Silva, foram até o local.
No final da tarde de quinta-feira (2), o delegado revelou que o Termo Circunstanciado (TC) lavrado já está em andamento. A dona do imóvel e o inquilino foram ouvidos e as versões são controversas.
“A equipe de investigação identificou o inquilino e a dona. O locatário disse que, quando mudou-se para lá, o cão já estava no local. Segundo o relato dele, a proprietária do imóvel permitiu que ele cuidasse do animal. Passados três meses, ele resolveu sair do imóvel e teria avisado a proprietária. Já a dona da casa disse que não foi avisada sobre a mudança e que ficou sabendo através da polícia, por conta da denúncia”, disse.
O caso ainda precisa de alguns complementos para ser encerrado e mandado para o Fórum. “O laudo já foi emitido por um veterinário e constatou que o animal corria risco de morte, estava debilitado, com carrapatos e doente. Agora, ele está sob responsabilidade da ONG”, acrescentou o delegado.