Já escrevi aqui no JC sobre minha nostalgia do cheiro de chuva. Cheiro da poeira sendo lavada. Cheiro que alimenta a nossa esperança, ao percebermos que Deus está regando a terra. Cheiro que nos lembra que haverá alimento na nossa mesa e água para beber. Além do cheiro da chuva, na minha memória afetiva reside o barulho da chuva. É inesquecível o barulho da chuva caindo. Lembro-me com saudades do barulho da chuva caindo no telhado da casa do meu avô paterno, em Arealva. Era um barulho sem igual. A casa simples na área rural era coberta por telhas e sem forro, por isso dava para ouvir de forma nítida as gostas batendo nas telhas. Conforme a chuva ia se intensificando, o barulho aumentava ou diminuía. Eu ficava com medo quando era chuva de granizo, dava para ouvir a batida das pequenas pedras de gelo batendo nas telhas. Já na casa da minha avó materna, eu ouvia ainda mais o barulho da chuva, pois ela morava em uma casa com telhas de amianto (popularmente conhecida como telhas de "brasilite"). Como as telhas eram a única proteção da casa, pois não havia forro, o barulho da chuva era magnífico, e algumas vezes assustador. Eu amava ficar sentado na cama ouvindo o barulho da chuva. Barulho que depois de um tempo se tornava melodia e me fazia dormir.
O barulho da chuva também traz uma lembrança do barulho da água "correndo" nas calhas, ou caindo do telhado no corredor da casa. Barulho peculiar que evoca muitos sentimentos. Lembro-me do barulho da chuva caindo no teto do carro. Lembro-me quantas e quantas vezes que meu pai parava o carro no mato (porque não havia acostamento) na estrada que liga Bauru- Iacanga, e ali esperávamos a tromba d?água passar. O barulho das gostas caindo no teto faziam um ruído assustador dentro do Fusca. O barulho da chuva na madrugada sempre provocou na minha casa uma correria para fechamos as janelas ou para recolhermos as roupas no varal. Que tempo bom! Deu até saudades do barulho da água caindo, escorrendo e lavando. Bom mesmo era dormir e acordar com o barulho da chuva. Quando acordava com o barulho da chuva eu, uma infinidade de pessoas, não queria sair da cama; queria mesmo é ficar deitado dormindo, queria ficar com pijama em baixo da coberta ouvindo a água caindo.
O barulho da chuva é sinônimo de paz. Paz porque as plantações estão sendo regadas, logo não falará alimento - às vezes falta dinheiro para comprar, mas a terra quando regada sempre produz. Paz porque os rios ficam cheios, logo as torneiras e chuveiros não ficam secos. Paz porque a chuva tem a função de umidificar o ar, que tanto traz dificuldades para as pessoas que tem dificuldades respiratórias. Paz porque a chuva lava tudo. Lava os telhados e "abaixa" o pó, lava o chão, o asfalto, as árvores, os bueiros e o as ruas. O barulho de chuva é uma metáfora da vida que se recicla e continua. Água é vida. A vida humana necessita de água, por isso que a cada dia de estiagem sento mais saudades do barulho da chuva. O barulho da chuva até pouco tempo atrás me fazia orar agradecendo, hoje quando ouço o barulho da chuva, quando ela cai em Bauru, agradeço o Criador, mas oro clamando por mais chuva. Que nessa semana o barulho da chuva me surpreenda e me leve à oração de gratidão e clamor.
Pastor Jeferson Rodolfo Cristianini