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Polícia Civil/Divulgação |
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Vários fuzis foram apreendidos durante a Operação da Polícia Civil |
A Polícia Civil de Bauru, por meio da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) da Central de Polícia Judiciária (CPJ) e do setor de inteligência da Delegacia Seccional, conseguiu prender no início da noite de ontem cinco homens acusados de participarem da quadrilha que explodiu caixas eletrônicos em dois supermercados da cidade nos últimos dias. A prisão ocorreu um dia antes de o bando praticar nova ação. Segundo a polícia, o grupo se preparava para nova explosão de caixas em um supermercado no Mary Dota, na madrugada de hoje. A visita para estudo prévio dos caixas pelos criminosos foi feita ontem e flagrada por policiais civis à paisana, que realizam campana em investigação.
A polícia trabalhava de forma insistente para o esclarecimento da onda de crimes classificados como hediondos e que assustou a população e empresários do setor na cidade. Nos últimos dias, um supermercadista chegou a desativar e até retirar os caixas eletrônicos de uma de suas lojas temendo ser alvo do grupo.
Com a prisão dos cinco integrantes ontem, chega a oito o número total de detidos pela polícia por conta dos ataques em Bauru.
Bauruenses
Dos cinco presos ontem, dois são moradores de Bauru. Fabrício de Freitas Akioki, vulgo Japonês, 24 anos, foi preso em sua casa, que fica aos fundos de uma oficina que funciona na quadra 6 da rua Benedito da Silva, no Parque Bauru. Ele era o responsável por guardar todas as armas que eram utilizadas nas ações.
No local, foram apreendidos armamentos pesados – geralmente utilizados em guerras - como fuzis AR-15, metralhadoras, pistolas e até bananas de dinamite. Hoje, inclusive, uma equipe do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), da Capital, deve vir a Bauru, a pedido da Polícia Civil, para detonar os explosivos.
O outro integrante da quadrilha, que também é da cidade e que é acusado de dar todo o suporte logístico para o bando, foi identificado como Marcos Paulo Moreira dos Santos (a idade não foi informada), vulgo Macalé, que chegou a trabalhar como promotor de vendas em um dos supermercados alvos do bando. Ele também é irmão de Éberton Moreira dos Santos, de 33 anos, que já havia sido identificado pela polícia após a ação no Confiança Flex e, após dias foragido, acabou preso, na última semana, em Foz do Iguaçu (PR), enquanto tentava chegar ao Paraguai.
Casa de luxo
Os outros três integrantes da quadrilha, que seriam da Capital e amigos de Éberton, foram presos em uma casa de luxo, na região do Jardim Carolina. A casa, segundo a polícia, possuía churrasqueira e piscina e foi alugada por Macalé para que os “convidados” se acomodassem dias antes do crime, realizando festas particulares no local.
José Edson Peres da Silva, Wiillian da Luz Ladeira, vulgo Zoreia, e Erick Cristiano da Silva, vulgo Careca, foram presos no local.
Com a quadrilha, a polícia também apreendeu dois carros de luxo: uma Pajero e um Jetta dublês. Veículos que, provavelmente, seriam utilizados no crime durante a madrugada desta quinta-feira, no Mary Dota.
Enquanto realizava campana, nos últimos dias, a Polícia Civil conseguiu prender ainda a esposa de um dos membros do bando. Marciara Paiola Pereira foi detida em Bauru com R$ 5.800,00 em notas de R$ 20,00, que suspeita-se ser de origem dos caixas assaltados.
Investigações
Titular da DIG, o delegado Kléber Granja explica que a localização dos acusados surgiu após o cumprimento do mandado de prisão temporária contra o empresário bauruense Marcelo Antônio Brun, de 44 anos, que é proprietário de uma casa noturna que funciona em chácara no Jardim Tangarás, em 5 de dezembro. Brun é acusado de ter dado o suporte logístico à quadrilha ao longo do primeiro ataque. O JC noticiou a prisão de Marcelo Brun, contudo, a polícia não havia divulgado o nome dele até ontem.
Com informações obtidas após a prisão dele e em posse de imagens das câmeras de segurança dos dois estabelecimentos, os policiais conseguiram identificar os demais integrantes.
“O Marcelo e o Éberton eram amigos de longa data. Há evidências de que dívidas com drogas entre eles teriam motivado o planejamento da ação”, comenta o delegado adjunto da DIG, Cledson Luiz do Nascimento.
“Cada fragmento colhido no local do crime nos trouxe evidências”, completa Granja.
A polícia acredita que todo o armamento utilizado pela quadrilha e os coletes à prova de balas, também apreendidos na casa de Akioki, tenham sido alugados pelo bando com traficantes da região.
“Vamos rastrear para tentar descobrir de onde esse material veio, mas nossa missão agora é encerrar esse inquérito e descobrir se há mais pessoas envolvidas”, frisa Kléber. “Não descartamos que esse mesmo bando possa ter agido em outras ocorrências do tipo, como aconteceu em Guarantã, nos últimos dias”, reforça.
Relembre os casos
Na madrugada de 11 de dezembro, um bando fortemente armado detonou um caixa eletrônico no interior do supermercado Panelão, no Jardim Redentor, chegando até mesmo a trocar tiros com policiais militares.
Apenas 12 dias antes, o supermercado Confiança Flex, na quadra 36 da avenida Nações Unidas, também foi alvo de um ataque do tipo.
Na ocasião, os bandidos causaram momentos de terror aos funcionários do estabelecimento, que teve seu estacionamento invadido por um carro, encontrado queimado, no mesmo dia, no Jardim Tangarás.
Ambos os casos foram registrados como latrocínio tentado (crime hediondo), formação de associação criminosa, dano qualificado ao patrimônio público e particular. O inquérito ainda deve apurar qual integrante foi responsável por qual tipo de ação, mas penas para os autores, em cada um dos crimes registrados, podem ultrapassar até 50 anos, somando-se ainda ao porte ilegal de arma de fogo.
Dever cumprido
Após a prisão dos integrantes da quadrilha, as viaturas da Polícia Civil se encontraram na casa de Akioki, no Parque Bauru, e seguiram em comboio rumo à CPJ, onde os presos foram qualificados. “A sensação que fica, agora, é de dever cumprido. Esta é uma quadrilha de grande poderio bélico e que poderia ter provocado muitas mortes em Bauru. Cada integrante da Polícia Civil se debruçou sobre esse caso”, afirma Kléber Granja. “Não dá para negar que a fragilidade desses tipos de caixas eletrônicos colocou a comunidade em risco, talvez seja preciso repensar”, alerta o delegado.
Todos os presos acusados de serem membros da organização criminosa, segundo a Polícia Civil, possuem antecedentes seja por roubo, receptação ou porte ilegal de arma de fogo. Akioki possui antecedente por falsidade ideológica. Dado o grau de periculosidade da quadrilha, o presídio para onde foram encaminhados os presos não foi informado pela Polícia Civil.
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Polícia Civil/Divulgação |
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Com a quadrilha foram apreendidas armas de diferentes calibres e de uso restrito além de muita munição |
Supermercado retira caixas eletrônicos
A notícia da prisão do bando certamente traz alívio aos comerciantes. Com medo, eles já começavam a se articular em busca de mais segurança. Um empresário bauruense do setor supermercadista desativou e a solicitou a retirada dos caixas eletrônicos de seu estabelecimento, localizado no Ouro Verde, nas últimas semanas.
Das cinco máquinas existentes no supermercado Barracão, duas já foram devolvidas às redes bancárias correspondentes e outras três, que são terminais 24 horas, ainda estão na loja, porém, desativadas e sem dinheiro, conforme sustenta o proprietário do estabelecimento. Qual o motivo? A onda de ataques que acometeu Bauru nos últimos dias.
Apesar de ligada à sequência de crimes, a decisão do empresário remete a uma realidade já observada há alguns anos, inclusive, em postos de combustíveis na cidade que, com medo da criminalidade, iniciaram a extinção do serviço em suas lojas de conveniência (leia mais abaixo).
Decisão
Há 25 anos atuando no setor, Isaias Cunha da Silva conta que a decisão surgiu após a notícia do ataque ocorrido na madrugada do dia 11 de dezembro, quando um bando fortemente armado detonou um caixa eletrônico no interior do supermercado Panelão, no Jardim Redentor, chegando até mesmo a trocar tiros com policiais militares.
12 dias antes, o supermercado Confiança Flex também foi alvo. “Fiquei apavorado com o último ataque e, na mesma tarde, pedi para que todos os caixas da loja fossem desativados e o dinheiro, devolvido. Não dá para arriscar a vida dos meus funcionários e clientes”, comenta o empresário.
Preocupação
Proprietário de outros três estabelecimentos da mesma rede, um no Jardim Solange, também em Bauru, e outros em Jaú e no distrito de Potunduva, o empresário afirma que, por conta do problema, já desistiu de implantar o serviço de caixa eletrônico nessas outras lojas. Ele diz também que que pretende deixar as máquinas que restaram, na unidade do Ouro Verde, desativadas por tempo indeterminado.
“O caixa é uma prestação de serviço aos clientes e funcionários, o supermercado mesmo não ganha nada”, frisa o empresário. “Aliás, dinheiro não é tudo nessa vida. Nossa principal preocupação, neste momento, é preservar a vida das pessoas, até porque temos gente trabalhando dentro do supermercado vinte e quatro horas”, completa o supermercadista.
Vale destacar que o empresário concedeu entrevista ao JC antes da prisão do bando, na noite de ontem.
Procurada, a Associação Paulista dos Supermercados (Apas), regional Bauru, não soube precisar se outros supermercados da cidade também tomaram a mesma atitude.
A associação informou que sua política é não interfererir em questões de segurança interna dos estabelecimentos credenciados.
Postos de combustíveis
Há três anos, a figura dos caixas eletrônicos nas lojas de conveniência dos postos de combustíveis de Bauru tem se tornado cada vez mais incomum. Em setembro de 2011, reportagem do JC noticiava o receio dos empresários do setor frente às ondas de ataque que tiveram início na Capital e se alastraram pelo Interior.
Com medo de que seus estabelecimentos passassem a ser alvos deste tipo violento de crime, vários proprietários iniciaram, desde aquela época, a extinção do serviço.
“Hoje virou raridade, quase ninguém tem. E quem tem é por causa de contrato com a distribuidora que ainda não venceu. É uma prestação de serviço que não vale a pena, o custo benefício é pouco e o risco é grande”, comenta o vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sincopetro) em Bauru, José Antônio Reghine.
“Em Bauru, dois postos desativaram seus caixas no ano passado. Parece ser um fenômeno crescente. Se você passear pelos postos na rodovia Castelo Branco irá observar que quase mais nenhum oferece este serviço”, completa o sindicalista.
Para PM, medida é extrema, mas compreensível
Sobre a medida adotada pelo supermercadista, o comandante do 4.º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPMI-4), tenente-coronel Flávio Jun Kitazume, disse respeitar o posicionamento do empresário. “Vejo como uma medida extrema do particular, mas compreensível porque ele está pensando na preservação de seu patrimônio”, comenta o comandante. “Infelizmente, o criminoso tem acesso fácil aos explosivos hoje. Por mais que patrulhemos, é uma ação que a polícia preventiva sozinha não consegue suprir”, completa.
Para ele, posturas como uma punição mais rigorosa e a diminuição do montante em dinheiro disponível nos terminais de autoatendimento, além de investimento em maior segurança nos caixas, ajudariam a evitar esses tipos de ocorrências. “Os caixas que não são 24 horas são mais frágeis e consequentemente mais vulneráveis aos crimes”, reforça o tenente-coronel Kitazume.
Em uma das ocorrências, somente de um dos caixas, foram levados R$ 63.350,00, conforme consta em boletim de ocorrência.
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Reprodução/Rádio 96 FM |
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Na última ação da quadrilha, durante a fuga, eles ainda houve troca de tiros com os policiais militares |
Leia mais:
https://www.jcnet.com.br/Policia/2014/12/quadrilha-explode-caixa-eletronico-em-mercado-de-bauru.html